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Como podemos ajudar nossos filhos a lidar com um divórcio iminente?

Separações na infância podem afetar a capacidade de amadurecimento da criança e prejudicar a saúde mental dos pequenos

Por Meghan Leahy
Atualização:

É sempre muito difícil se separar, mudar de casa e transformar toda a vida, não importa quão “mútuo e amigável” seja o processo. E, se você consultar a literatura sobre separação/divórcio e filhos, vai ver que esses eventos certamente fazem parte da lista das chamadas experiências adversas na infância (ACEs, na sigla em inglês). Quando vivenciados durante a infância, esses eventos podem afetar significativamente a capacidade de amadurecimento da criança, prejudicar sua saúde mental e acarretar uma série de outros problemas.

Onde se encaixa o divórcio em tudo isso? Bom, como tudo na vida, depende. O nível de disfunção, abuso, medo e frustração no lar, juntamente com o possível amargor da separação, certamente pode fazer do divórcio um evento adverso importante na vida de qualquer criança. Mas a vida não é assim preto ou branco: toda ACE – mesmo a pior delas – pode ser enfrentada com terapia e relacionamentos calorosos e amorosos.

Separações de pais podem afetar a saúde mental e o desenvolvimento de crianças. Foto: Tiago Queiroz/Estadão (Fev/2022)

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Por que estou lhe dizendo isso?

Nossa cultura tende a ser binária em relação ao divórcio: ou é um desastre total entre pai e mãe e, portanto, para criança, ou o processo é amigável e a criança fica “bem”. Mas não é simples assim. O que mais importa é como a criança se sente em relação ao divórcio. Faz diferença você manter o ambiente do seu filho, como o bairro, os acampamentos, a escola e as atividades? Pode apostar que sim! Ver os mesmos adultos dando apoio e manter o mesmo cronograma são sinais de segurança para a criança que está lidando com uma separação. Mas muitos pais e mães assumem uma postura “sua vida vai continuar sendo a mesma!” quando na verdade a criança pode sentir o oposto.

Os pais e mães também supõem que, se a separação for amigável, a criança não se sentirá dividida. Mas, mesmo quando os pais expressam apoio amoroso um ao outro, uma criança sensível de 7 anos pode sentir a necessidade de ser leal a um dos lados em detrimento do outro. Se não houver nenhum sinal de conflito na casa, isso pode ser ainda mais confuso para seu filho. Ele pode começar a questionar o que sabia e como entendia seu relacionamento. Pode se sentir pego de surpresa e começar a desconfiar de você, não importa quão amigável você seja.

Não estou tentando assustar você, nem fazer você se sentir culpada. É maravilhoso que você e seu companheiro estejam se comunicando claramente e querendo o melhor para seu filho. Mais do que tudo, quero que se lembrem do poder que têm como pai e mãe. Isso não está acontecendo apenas ao seu filho; é uma dinâmica contínua e em desenvolvimento que eu quero que você se sinta capaz de enfrentar com o passar dos anos.

Com ou sem divórcio, reserve um tempo para aprender mais sobre a vida de uma criança sensível e procure os sinais de maturidade e boa saúde mental em seu filho. (Recomendo livros como The Highly Sensitive Child, de Elaine N. Aron.) Nem todo comportamento terá a ver com o divórcio, então, quanto mais você entender seu filho, mais capacitada estará para responder em vez de reagir.

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Um dos fatores mais importantes a serem lembrados é que não se trata de um jogo de soma zero: seu filho não vai ficar “feliz” ou “infeliz”. O divórcio tem efeitos que às vezes são agudos e óbvios (muitas vezes perto de feriados e férias), outras vezes são sorrateiros (pequenos jantares e tardes de filmes), e seu trabalho parental não é consertar ou acabar com a tristeza, mas sim lidar com ela.

Como diz Gordon Neufeld, psicólogo do desenvolvimento infantil: quanto mais espaço damos a uma emoção, menos espaço ela ocupa. Seu trabalho não é fazer com que seu filho sinta ou não sinta nada em particular; é manter as emoções em movimento. Se seu filho está com raiva, deixe-o ficar com raiva. Se está triste, que fique triste. É sempre preciso salientar: não tente presumir a maneira como seu filho vai reagir a esse divórcio e saiba que todas as emoções são bem-vindas.

Seu trabalho é manter as coisas em ordem. Não crie lealdades e deslealdades e nunca fale mal do pai de seu filho. Cumpra sua palavra e mantenha suas comunicações bem claras. Não presuma como seu filho se sente. Crie espaços onde seu filho possa ser honesto com você (sair para dar uma volta de carro, jogar videogame, etc.) e priorize a diversão e a alegria. A vida vai mudar drasticamente, mas também haverá alegrias inesperadas que precisam ser comemoradas.

A ludoterapia pode ser uma opção maravilhosa, mas não pense que é sempre necessária. Não entre em pânico e nunca se esqueça: você ainda é a melhor escolha do seu filho. Nenhum terapeuta conhece seu filho melhor que você. Você não precisa ser perfeita, só precisa estar lá com o coração cheio e os olhos bem abertos. Boa sorte. Meghan Leahy é mãe de três filhas e autora de Parenting Outside the Lines. Ela tem bacharelado em inglês e mestrado em aconselhamento escolar e é coach certificada de parentalidade. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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