Companhias de cruzeiro suspendem operações no Brasil após surtos de covid-19

A interrupção vai até 21 de janeiro; Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros afirma que decisão foi tomada para buscar alinhamento com autoridades 

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Foto do author Julia Affonso
Por Julia Affonso e Jessica Brasil Skroch
Atualização:

A Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros (CLIA Brasil) anunciou nesta segunda, 3, a suspensão voluntária e imediata das operações nos portos do Brasil até 21 de janeiro de 2022. Nesse período, o grupo informou, em nota, que vai trabalhar em nome das companhias de cruzeiro em operação no País, a MSC Cruzeiros e a Costa Cruzeiros, a fim de alinhar as interpretações e aplicações de protocolos de saúde e segurança com as autoridades do governo federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Estados e municípios. 

Passageiros desembarcam do navio MSC Preziosa, no Rio de Janeiro;pelo menos 166 casos de covid já foram notificados em embarcações atracadas na costa brasileira Foto: Wilton Junior/Estadão - 02/01/22

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A decisão ocorreu após surtos de covid-19 nas cinco embarcações em operação nas águas brasileiras. Até a última atualização da Anvisa, deste domingo, 2, todos navios estão nos dois níveis mais graves de cenário epidemiológico, de acordo com a portaria 2.928 publicada pelo Ministério da Saúde.

A associação explica, na nota, que nas últimas semanas as duas empresas de cruzeiros “experimentaram uma série de situações que impactaram diretamente as operações nos navios, tornando a continuidade dos cruzeiros neste momento impraticável”.

Até o dia 21 de janeiro, nenhum hóspede será embarcado, diz o comunicado. Os cruzeiros atuais vão finalizar os seus itinerários conforme planejado. Caso não haja adequação e alinhamento entre todas as partes envolvidas, a associação alerta que a atual temporada poderá ser cancelada na íntegra após o dia 22 de janeiro. 

A CLIA Brasil lamentou a necessidade da decisão, “dado que os protocolos de saúde e segurança dos navios continuam mostrando a sua eficiência, destacando-se como um exemplo a ser seguido em todo o mundo”, afirma em nota. 

No comunicado, a associação coloca que a incerteza operacional causou inconvenientes significativos para os hóspedes. Em nota anterior, divulgada neste domingo, 2, a associação já tinha se posicionado contrária à recomendação da Anvisa de suspender provisoriamente a temporada de cruzeiros por conta do aumento dos casos de covid nas embarcações.

O setor de cruzeiros diz ter recebido com surpresa a notícia e reforçou que os rigorosos protocolos de segurança aplicados são eficientes. 

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No anúncio, o grupo ressalta que as medidas aplicadas nos navios de cruzeiros para reduzir o risco de transmissão de covid excedem aquelas adotadas por outras indústrias. Até o momento, foram menos de 400 casos de covid identificados a bordo desde o início da temporada em novembro. Isso representa cerca de 0,3% dos 130 mil passageiros embarcados até o momento, considerada uma “pequena minoria” pela CLIA Brasil. 

Apesar disso, a associação considera importante a convergência entre os protocolos das embarcações e os acordos com as autoridades em todos os níveis, e busca, a partir de agora, “resolver as diferenças de interpretação e aplicação das medidas previamente aprovadas com este novo cenário”, explica na nota. 

Protocolos aplicados

Entre as medidas para evitar a transmissão do vírus, a associação cita o teste diário de mais de 10% da tripulação e dos passageiros, obrigação de testes pré-embarque, vacinação completa obrigatória para hóspedes e tripulantes, ocupação reduzida no navio, ar fresco sem recirculação, desinfecção e higienização constantes e o uso de máscaras. É necessário, ainda, o preenchimento de um formulário de saúde pessoal do viajante. 

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No posicionamento contrário à suspensão da temporada de cruzeiros, sugerida pela Anvisa, a associação colocou que os casos, em sua grande maioria assintomáticos ou com sintomas leves, foram identificados, isolados e desembarcados, assim como aqueles que tiveram contato próximo com pessoas infectadas, “representando pouca ou nenhuma carga para os recursos médicos de bordo ou em terra”, afirma. 

Ministério discutia recomendação de suspensão apresentada pela Anvisa

Antes do anúncio da suspensão por parte das empresas, o Ministério da Casa Civil havia informado que as áreas técnicas de diferentes pastas estavam analisando, desde o início do dia, a recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para suspender a temporada de cruzeiros.

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Após surtos de covid-19 em passageiros e tripulantes no fim do ano, a agência contraindicou o embarque em navios e impediu o ingresso em um cruzeiro atracado no Porto de Santos.

A discussão sobre a recomendação da Anvisa, segundo a Casa Civil, também envolve representantes de Estados, municípios e empresas de turismo. "Após o posicionamento de todos os envolvidos, técnicos e representantes dos ministérios da Saúde, Justiça e Segurança Pública, Infraestrutura, Turismo e da Anvisa, se reunirão, na Casa Civil, para discussão e possível deliberação sobre o assunto", informou a pasta, em nota. A retomada das operações de cruzeiros no Brasil foi autorizada por uma Portaria Interministerial – Casa Civil, Justiça e Segurança Pública, Saúde e Infraestrutura –, de 5 de outubro, que passou a valer a partir de 1.º de novembro. Já são 174 casos confirmados de covid desde a semana passada em cruzeiros. A Anvisa impediu o embarque de 3 mil passageiros no navio MSC Splendida no domingo, 2.

De acordo com a Anvisa, o impedimento ocorreu “devido ao reconhecimento pelas autoridades locais de saúde e pela Anvisa, da existência de transmissão sustentada de covid entre tripulantes”. A notificação, segundo a agência, foi feita no sábado, 1.

A MSC Cruzeiros, responsável pela operação do navio MSC Splendida, informou não ter recebido autorização para realizar o embarque de hóspedes no porto de Santos, onde o navio estava atracado. A companhia não divulgou o número de passageiros que ingressariam no cruzeiro.

O MSC Splendida é um dos navios que registraram casos de covid desde a semana passada - os outros dois são o MSC Preziosa, de responsabilidade da mesma empresa, e o Costa Diadema. O Preziosa chegou ao Rio de Janeiro com 28 casos confirmados do coronavírus - sendo dois tripulantes e 26 passageiros. Neste caso, a Anvisa autorizou o embarque de novos passageiros.  Publicada na sexta-feira, 31, a recomendação da Anvisa pela suspensão dos cruzeiros é baseada no cenário epidemiológico atual da covid, agravado pela chegada da variante Ômicron ao Brasil. No documento, a agência destaca que os dados disponíveis até o momento indicam o potencial de espalhamento da Ômicron, mais rápido do que outras variantes.

A recomendação da Anvisa também considerou que, mesmo diante de Planos de Operacionalização para a retomada da temporada de cruzeiros no âmbito de Estados e municípios, "tem-se observado dificuldades impostas pelos entes locais diante da necessidade de eventuais desembarques de casos positivos". Os planos estabelecem as condições para assistência em saúde dos passageiros desembarcados em seus territórios e para execução local da vigilância epidemiológica.

Empresas de cruzeiros se reuniram com governo na manhã desta segunda

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O Governo Federal afirmou, por meio de nota, que se reuniu na manhã desta segunda-feira com as empresas do setor de cruzeiros. No encontro, foi decidido a suspensão das atividades até o dia 21 deste mês.

Segundo o governo, na parte da tarde houve encontros com secretários de Saúde de estados e municípios para discutir o atual plano de operacionalização da atividade de cruzeiros diante do aumento de casos da variante Ômicron do Sars-Cov-2 em embarcações na costa brasileira. A nota ressaltou que estes casos são "em sua totalidade, leves ou assintomáticos".

A nota foi assinada em conjunto pelo Ministério da Saúde, Ministério da Infraestrutura, Ministério da Justiça e Segurança Pública e Ministério do Turismo. "O Governo Federal continuará, nos próximos dias, a promover reuniões com municípios, estados e empresas para, juntos, reavaliarem a possibilidade do retorno das atividades", conclui. /COLABOROU LUIZ HENRIQUE GOMES

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