Testes para covid-19: conheça os diferentes tipos e saiba como fazer

Além de clínicas e farmácias, ações empresariais realizam exames; mesmo quando não há necessidade de apresentação de pedido médico, paciente deve procurar orientação médica para saber qual o exame mais indicado e ter correta interpretação dos resultados

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Por Renata Okumura
Atualização:

SÃO PAULO -A realização de testes da covid-19 em pacientes que apresentam os sintoma da doença deve seguir os critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias de estados e de municípios, considerando os grupos de risco, sintomas apresentados e a disponibilidade dos exames. Segundo a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), a conduta das autoridades sanitárias deve "ser sempre no sentido de testar o máximo possível, mas testar todas os indivíduos não foi e não é possível em nenhum país do mundo".

Sendo particular, a realização do teste RT-PCR não necessita de pedido médico; somente quando o exame é realizado pelo convênio, a solicitação deve ser apresentada Foto: Lindsey Wasson / Reuters

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"O ideal é expandir a capacidade diagnóstica para fazer isolamento adequado e bloquear a transmissão. Por isso, é importante testar todos os sintomáticos, que estão mais envolvidos na transmissão", afirma Airton Tetelbom Stein, professor titular de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Com a disponibilidade de testes em laboratórios e farmácias, surgem dúvidas sobre o momento em que os exames devem ser realizados e qual é o indicado para cada paciente, a fim de evitar resultados falso negativos. Por esse motivo, o recomendado é que um médico faça a solicitação, assim como a interpretação dos resultados.

Já em caso de sintomas graves nas últimas 24 horas, a pessoa deve procurar imediatamente o serviço de saúde, pois em alguns locais o resultado do exame demora em média de dois a quatro dias úteis para ficar pronto, o que pode agravar ainda mais o quadro clínico do paciente.

Confira a seguir perguntas e respostas elaboradas pelo Estadão para ajudar a entender os diferentes testes para covid-19 e quando devem ser feitos. As dúvidas foram esclarecidas com base em informações do Grupo Fleury; Grupo Dasa; Airton Tetelbom Stein, professor titular de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma); RD - RaiaDrogasil; Grupo DPSP (Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo); Grupo Ancar; Aplicativo RappiAgência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Grupo CuraSociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC).

Um kit de teste para o novo coronavirus Foto: EFE/EPA/ROBIN VAN LONKHUIJSEN

Quem deve fazer o teste para covid-19?

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A recomendação é que todas as pessoas que apresentem sintomas do novo coronavírus sejam testadas, assim como aquelas que tiveram contatos com infectados pela covid-19. Desta forma, é possível aumentar a capacidade diagnóstica da doença.

Os assintomáticos não têm recomendação para fazer o teste, de forma geral. Mas aqueles que tiveram próximos de pessoas infectadas ou com suspeita de covid-19 também devem ser testados. Sempre é recomendado a indicação médica para a realização do teste, assim como interpretação correta dos resultados.

Quais são os testes existentes e as diferenças entre eles?

Considerado o padrão-ouro no diagnóstico da covid-19, o teste molecular feito pelo método RT-PCR (transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase, em português) permite saber se o paciente está infectado pelo vírus no momento em que o exame é realizado. Os testes para a pesquisa do vírus são os que identificam a infecção por meio da detecção do material genético do vírus. Para a realização deste exame, o material é coletado da garganta (orofaringe) e do nariz (nasofaringe) com uma haste flexível.

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É recomendado para todos os indivíduos com sintomas, podendo detectar a presença do vírus do terceiro ao sétimo dia do início dos sintomas, preferencialmente. Também é indicado para pacientes com sintomas graves há mais de 24 horas.

O teste RT-PCR identifica o vírus no período em que está ativo, tornando possível aplicar a conduta médica apropriada: internação, isolamento social ou outro procedimento pertinente para o caso em questão.

"Todos os pacientes com sintomas deveriam fazer o teste (RT-PCR). Considerando a baixa sensibilidade dos testes de anticorpos nos primeiros dias, não podemos recomendar o método de sorologia para quadros agudos nem para determinar infectividade", afirma Stein.

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Também pode ser feito por pessoas assintomáticas que tiveram contato com indivíduos contaminados ou com suspeita da doença, mas neste caso somente deve ser feito após 20 dias da exposição.

Semelhante ao RT-PCR, o teste que utiliza a metodologia RT-LAMP (transcrição reversa por amplificação isotérmica mediada por loop, em português) identifica o RNA do vírus na fase aguda da infecção, mas o principal diferencial é o tipo de secreção usada para análise: a saliva. Isso torna a coleta do material mais fácil e confortável. O preço médio do exame é R$ 95, enquanto os outros à disposição no mercado custam entre R$ 240 e R$ 470.

De acordo com a Mendelics, laboratório que desenvolveu o exame em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, "o teste possui uma especificidade superior a 99% (ou seja, a chance de um falso-positivo é inferior a 1%)e uma sensibilidade comparável ao teste de RT-PCR disponível no mercado (80%)". Além disso, a técnica de identificação do vírus leva um hora, o que permite liberar os resultados com mais rapidez.

A validação do teste comprovou que amostras de saliva também são sensíveis para identificar o Sars-CoV-2, assim como as secreções nasofaríngeas. Para fazer o exame, o laboratório destaca a importância do jejum e higiene bucal antes da coleta a fim de garantir a qualidade da amostra.

Diferentemente do RT-PCR, o teste pelo método de Sorologia (IgM/IgG) é realizado por meio de amostra de sangue simples e verifica a resposta imunológica do corpo em relação ao vírus a partir da detecção de anticorpos em pessoas que foram expostas ao SARS-COV-2.

É recomendado que seja realizado, pelo menos, 10 dias após o início dos sintomas pelo fato de que a produção de anticorpos no organismo só ocorre depois de um período mínimo após a exposição ao vírus. Realizar o teste de sorologia fora do período indicado pode impactar em um resultado falso negativo.

É importante ressaltar que nem todas as pessoas infectadas desenvolvem anticorpos detectáveis pelas metodologias disponíveis, principalmente aquelas que apresentam quadros com sintomas leves ou não apresentam nenhum sintoma.

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Segundo a SBAC, a pesquisa dos anticorpos é extremamente importante quando o número de infectados é decrescente, para permitir o mapeamento epidemiológico da doença.

Até o momento, a Anvisa aprovou ao menos 90 testes para o diagnótico da covid-19, entre RT-PCR, Sorologia (IgM/IgG) e testes rápidos, conforme lista atualizada diariamente. Os registros concedidos nas condições emergenciais terão validade de um ano. O restante terá prazo de dez anos. 

Testes rapidos para o novo coronavírus comecam a serem aplicados no Distrito Federal. Foto: Gabriela Biló/ Estadão 

Como funciona o teste rápido nas farmácias?

Nas farmácias e drogarias, é possível fazer o teste rápido de covid-19 (IgG e IgM), conforme medida em caráter provisório aprovada em 28 de abril pela Anvisa. Até então, os exames eram obrigatoriamente feitos em hospitais e clínicas.

O teste é feito pela coleta de sangue na ponta do dedo e o resultado fica pronto em menos de 20 minutos. Ele verifica a presença de anticorpos, sendo possível ao farmacêutico orientar o paciente para acompanhamento médico. Antes da realização, deve ser feita entrevista para triagem clínica do indivíduo.

Em geral, o anticorpo IgM aparece somente depois do quinto dia após a infecção, já o IgG, após o décimo dia. Os testes devem ser aplicados em pessoas que estejam com sintomas compatíveis com síndrome gripal há pelo menos 10 dias.  O IgM positivo informa queo paciente foi contaminado recentemente, estando infectado há 7 dias ou menos, estando em fase de recuperação. Já o IgG positivo indica infecção antiga, ou seja, a pessoa já teve a doença e possivelmente está imunizada.

Dependendo de quando o teste for realizado e do organismo da pessoa, ele pode apresentar falso positivo ou falso negativo. Pessoas que já têm o vírus, mas não apresentam sintomas, podem testar negativo.

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A maioria dos testes rápidos existentes possuem sensibilidade e especificidade muito reduzidas em comparação às outras metodologias. Por isso, embora não seja obrigatória a apresentação de pedido médico, é recomendado que o médico faça a solicitação e também a interpretação dos resultados para evitar incertezas do diagnóstico.

Acho que tive a doença, mas estou assintomático, devo fazer?

"Pessoas assintomáticas, ou seja, que não manifestaram sintomas da doença, mas suspeitam que podem ter sido contaminadas após contato com que teve a doença, devem fazer o teste RT-PCR", aconselha o professor titular de Saúde Coletiva da UFCSPA. Nesse caso, é preciso aguardar pelo menos 20 dias da data da exposição.

A SBAC orienta que o teste de sorologia em clínicas somente seja realizado depois de 15 dias em pacientes assintomáticos, quando é possível confirmar ou não se ele teve a infecção por meio de pesquisa dos anticorpos IgG. É possível que os anticorpos IgM também sejam detectáveis.

O teste rápido realizado em farmácias não é indicado para pessoas assintomáticas, que não apresentam suspeita ou risco de exposição ao vírus, ou a pacientes com sintomas iniciados há menos de 10 dias. Indivíduos com sintomas recentes possuem maior chance de resultado falso negativo.

No caso de menores de 18 anos, a testagem deve ser feita apenas com autorização e na presença do responsável.

Quais sintomas indicam a necessidade de ser feito o teste de covid-19?

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Os sintomas mais comuns são febre acompanhada de sintomas respiratórios como tosse, espirros, aperto no peito, dificuldade para respirar, falta de ar ou ter tido contato com um caso suspeito ou confirmado do novo coronavírus. Mas dependendo da gravidade do quadro clínico, o paciente deve ser encaminhado imediatamente ao serviço de saúde, onde realizará o exame.

Estou com sintomas, devo fazer o teste?

Sim. Sempre que o paciente apresentar sintomas é indicado que faça o teste para a covid-19.

Com a maior oferta de testes aos estados e municípios, a recomendação é que sejam progressivamente incluídos na rotina de testagem de pessoas sintomáticas os seguintes grupos da população:

  • Profissionais de saúde e segurança pública em atividade, seja da assistência ou da gestão.
  • Pessoa que resida no mesmo domicílio de um profissional de saúde e segurança pública em atividade.
  • Pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.
  • Portadores de condições de risco para complicações da covid-19.
  • População economicamente ativa.

Onde consigo fazer? E como está a procura pelos testes?

Até o fim de junho, um novo teste deve estar disponível para empresas e hospitais, com análise a partir da saliva e estimativa de processamento de 110 mil amostras por dia. O exame molecular, desenvolvido pelo laboratório Mendelics em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, não apresentou resultados falso-positivos após testes e tem como foco aumentar o número de diagnósticos da doença no País, principalmente diante do cenário de reabertura do comércio.

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Desde 14 de fevereiro até 18 de maio, o Grupo Fleury já realizou mais de 105 mil testes de diagnóstico da covid-19, entre RT-PCR e sorologia, nas unidades de São Paulo.

Já o Grupo Dasa, que reúne os laboratórios Lavoisier, Alta Excelência Diagnóstica e Delboni Auriemo, na capital paulista, afirma que até 6 de maio fez 62 mil exames de RT-PCR, desde 22 de fevereiro, e 37 mil exames de sorológico, desde 12 de abril.

Desde o início de maio, o Grupo Cura também está realizando exames de RT-PCR e sorologia. A coleta para detectar o novo coronavírus é realizada no drive-thru instalado na unidade da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, 4487, nos Jardins. 

O laboratório também lançou recentemente o serviço Walk Thru em Moema, na zona sul, e nos Jardins. Nas primeiras duas semanas de maio, quase 22% das pessoas testadas receberam diagnóstico positivo para a covid-19. O serviço é feito em cabines individuais totalmente esterilizadas, com toda segurança para clientes e colaboradores. 

Todas as clínicas aconselham o paciente a ligar para verificar a disponibilidade de agenda para a realização dos testes. Elas pedem a apresentação de pedido médico, mesmo sendo particular. Os resultados ficam disponíveis também pela internet entre dois e quatro dias úteis.

Além dos laboratórios, 200 farmácias e drogarias no País estão realizando testes rápidos de covid-19, sendo entre 4 e 12% o índice de resultados positivos, segundo a Abrafarma.

O Grupo DPSP iniciou na terça-feira, 19, a testagem em três filiais de São Paulo (Rua São Sebastião, 509, na Chácara Santo Antônio, na zona sul; Rua Apucarana, 999, no Tatuapé, na zona leste; Avenida Sumaré, 16, no Sumaré, na zona oeste), além de duas no Rio de Janeiro. O agendamento pode ser feito por telefone ou na própria unidade.

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Os testes rápidos, que ficam pronto em até 20 minutos, também podem ser encontrados em duas unidades da Farmácia Pague Menos (Avenida Vital Brasil, 602, no Butantã, na zona oeste; Rua Clodomiro Amazonas, 1.102, na Vila Olímpia, na zona sul).

Em nota, a RD afirma que ainda estuda o tema e está em busca de fornecedores que tenham os testes mais precisos do mercado.

Grupos empresariais também organizam ações para a aplicação de testes. Na quarta-feira, 20, o aplicativo Rappi iniciou a venda de testes de sorologia do novo coronavírus. A coleta será realizada a partir da próxima segunda-feira, 25, por profissionais de saúde em serviço drive-thru, permitindo a realização do exame sem que o paciente necessite sair de seu veículo, inicialmente no estacionamento do Shopping Iguatemi, na zona sul da capital paulista, em horário agendado. Assim que realizar o teste, a pessoa receberá um email com informações para acessar o resultado que ficará pronto entre dois e cinco dias após a coleta.

Outra iniciativa é feita pelo Grupo Labclim - Laboratório de Análises Clínicas - em parceria com dois shoppings do Grupo Ancar (Eldorado, na zona sul da capital paulista; Golden Square, em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo). O teste de Sorologia (IGM/IGG) pode ser feito de segunda a domingo, das 8h às 20h, em esquema drive-thru, sem a necessidade de agendamento. O resultado é disponibilizado no site do laboratório em até 4 horas.

É importante orientar que mesmo quando não há a necessidade de apresentação de pedido médico para fazer os testes, o paciente deve procurar orientação médica antes da realização para saber qual o exame mais indicado e ter uma correta interpretação dos resultados.

Quanto custa?

Segundo o CEO da Mendelics, David Schneleiger, além de ser feito em larga escala, o teste é mais barato do que o RT-PCR, considerado padrão ouro, mas tem a mesma sensibilidade (80%). Seu preço médio é R$ 95. Os testes à disposição no mercado custam hoje de R$ 240 a R$ 470.

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No Grupo Dasa, os testes variam de R$ 240 a R$ 450, dependendo do exame e modalidade (coleta na unidade ou domiciliar). Algumas unidades também oferecem o serviço drive-thru

O Grupo Fleury disse que o teste RT-PCR custa R$ 470 e o de Sorologia para detecção dos anticorpos IgG e IgM está no valor de R$ 420, com descontos em ambos para profissionais da saúde.

Os exames custam entre R$250 e R$ 350 no Grupo Cura. Os resultados são disponibilizados em até 48h no portal do laboratório.

Pelo aplicativo Rappi, o valor é de R$ 251,00. A ação que faz parte do Movimento #2em2 reúne empresas de tecnologia, saúde e redes de shoppings como Vitta, Stone, Cia. da Consulta, Rappi, Loggi, Iguatemi Empresa de Shopping Centers, Mattos Filho, XP Inc., QR Consulting, ONG Renovatio, Orbitae e Sic Works, sob a supervisão de oito médicos. Cada cliente poderá comprar até cinco testes para ser realizados em pessoas com idade acima de 10 anos.  De acordo com a campanha, a cada teste comprado, outro será doado para hospitais públicos e instituições filantrópicas.

Pela iniciativa do Grupo Labclim com dois shoppings do Grupo Ancar, o preço é de R$ 310.

Segundo a Abrafarma, nas farmácias, o preço do teste rápido está em torno de R$ 200.

Quais são os cuidados nos laboratórios e nas farmácias para a realização de testes de covid-19?

O Grupo Dasa afirma que as unidades foram readequadas para garantir a segurança dos pacientes e colaboradores. Quem for de carro precisa se informar com antecedência se está ou não suspenso o serviço de manobrista.

Já o Grupo Fleury criou um fluxo dedicado para o atendimento a idosos acima de 60 anos, gestantes e crianças sem nenhum sintoma. O atendimento domiciliar também está funcionando normalmente.

A Abrafarma afirma que os profissionais envolvidos na recepção e atendimento ao paciente nas farmácias recebem treinamento para realização adequada dos testes, uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) e procedimentos de prevenção de contaminação.

O que é contraprova? É feita em todos os testes para a covid-19? Posso fazer novo teste para saber se estou curado?

"O paciente que tem grandes chances de estar infectado pelo quadro clínico, mesmo o teste dando negativo na primeira vez, precisa fazer a contraprova", explica Airton Tetelbom Stein, professor titular de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Além disso, conforme orientação médica, uma nova testagem pode ser feita para acompanhamento de cura do paciente. Mas até trinta dias do início dos sintomas, o resultado ainda poderá ser positivo.

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