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Contra HIV, OMS recomenda que gays tomem antirretrovirais

Medida foi proposta pela primeira vez e não descarta uso de camisinha. Estudos mostram eficácia na prevenção da aids

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:

Atualizada às 21h

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SÃO PAULO - Pela primeira vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou diretriz recomendando que homens homossexuais tomem medicamentos antirretrovirais como forma adicional de prevenção contra o vírus HIV, além do uso do preservativo. Divulgado nesta sexta-feira, 11, o informe afirma que “as taxas de infecção por HIV entre homens que fazem sexo com homens continuam altas em quase todos os lugares do mundo e novas opções de prevenção são necessárias com urgência”.

A chamada profilaxia pré-exposição (PrEP) consiste no uso diário e contínuo de uma pílula que combina dois tipos de antirretrovirais e é indicada para a população não infectada, mas que tem maior risco de contágio. Ao serem utilizados, os medicamentos diminuem em até 92% o risco de o vírus entrar nas células. Segundo a OMS, caso fosse adotada, a PrEP diminuiria em até 25% a incidência global de HIV entre gays, evitando um milhão de novos casos entre essa população no período de dez anos.

De acordo com a agência, estudos mostram que homens que fazem sexo com homens têm 19 vezes mais risco de serem infectados pelo vírus do que a população em geral. O risco também é superior para profissionais do sexo (14 vezes), usuários de drogas injetáveis e transgêneros (50 vezes).

Ressalvas. Primeira-secretária da Sociedade Brasileira de Infectologia, a médica Mônica Jacques de Moraes apoia a recomendação da OMS como opção adicional de prevenção, mas defende que a PrEP não seja indicada para todos os homossexuais. “É indicado para quem tem comportamento de risco e que esteja disposto a aderir ao tratamento e tomar o medicamento diariamente para o resto da vida”, diz a especialista.

Ela ressalta ainda que é necessário informar os interessados em utilizar a opção sobre os possíveis efeitos colaterais que os medicamentos podem causar. Embora não tenha a mesma combinação de remédios do tratamento administrado para os soropositivos, a PrEP reúne antirretrovirais que podem afetar a função renal e a formação dos ossos, por exemplo.

Outra preocupação de médicos e ativistas da área é de que a oferta da PrEP leve a um descuido com o uso do preservativo.

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Em estudo. A médica explica que o medicamento mais conhecido usado como PrEP é o que combina os componentes tenofovir e emtricitabina. Embora o produto já seja aprovado para fins de prevenção nos Estados Unidos, ele ainda é tema de estudos científicos no Brasil e não tem registro oficial junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Procurado nesta sexta, o Ministério da Saúde informou que a inclusão da PrEP no Sistema Único de Saúde (SUS) “está sendo avaliada por meio de duas pesquisas de campo”.

De acordo com a pasta, os estudos vão acompanhar a oferta de medicamentos antirretrovirais a um grupo de 1,3 mil pessoas que não são portadoras de HIV, mas que apresentam riscos elevados de infecção. A estimativa é que os primeiros resultados das pesquisas e da possível oferta da PrEP sejam apresentados no ano que vem.

De acordo com o ministério, 350 mil brasileiros infectados pelo HIV recebem antirretrovirais pelo SUS atualmente.

A pasta afirmou ainda que, até o fim deste ano, serão investidos R$ 178 milhões em ações de vigilância, prevenção e controle de aids, outras DSTs e hepatites virais.

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