Contra o coronavírus, colégios de SP pedem que alunos troquem 'abraços por sorrisos'

Escolas montam plano de aulas em caso de quarentena e instalaram recipientes de álcool em gel nas salas de aula. Unidade em SP foi fechada após confirmação

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Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Com o aumento de casos de coronavírus no Brasil, escolas particulares de São Paulo estão adotando diferentes estratégias para evitar a transmissão da doença entre os alunos. Os colégios estão fazendo campanhas para que os estudantes troquem "abraços por sorrisos" - diminuindo assim o contato físico -, instalaram recipientes de álcool em gel em todas as salas de aula e montaram planos para o caso de terem de suspender as atividades pelo risco de infecção. 

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No colégio Rio Branco, em Higienópolis, desde a retomada das aulas há uma preocupação com a doença, mas inicialmente o foco era entre os estudantes que tinham viajado para países com surto da doença, três alunos que tinham viajado para a China não frequentaram a escola nas duas primeiras semanas e recberam atividades a distância. No entanto, com o aumento de casos no Brasil e a transmissão local, a preocupação se ampliou para todos. "Os cuidados e orientações que temos dado estão evoluindo conforme o avanço da doença, sempre seguindo o que recomendam as autoridades de saúde", diz Esther Carvalho, diretora da escola.

Como agora a transmissão também ocorre localmente, a escola lançou na última semana uma campanha entre os alunos para que troquem abraços e beijos por sorrisos. A escola já vinha desde o início do ano reforçando a necessidade de hábitos de higiene, como lavar as mãos periodicamente e o uso de álcool em gel, mas sentiu que era necessária uma precaução maior.

Reabertura das escolas e universidades está entre os pontos mais delicados da discussão sobre a retomada de atividades em meio à pandemia do novo coronavírus. Foto: Werther Santana/Estadão

"Nós brasileiros, de maneira geral, temos muito esse hábito, somos muito afetuosos fisicamente. Sabemos que essa mudança é mais difícil, mas se os alunos ficarem mais consciente e evitarem alguns desses hábitos, já é importante", disse. A direção vai distribuir cartazes pela escola nos próximos dias. 

"Abraçar e beijar os amigos e professores é algo muito próprio de nossa cultura, mas também devemos cuidar uns dos outros para lidarmos com a epidemia que estamos enfrentando. Então, quando encontrarmos nossos amigos e professores, vamos trocar os abraços e beijos por sorrisos", diz o comunicado enviado aos alunos. 

A apresentação da campanha às crianças fez com que uma turma do 1º ano do ensino fundamental fizesse um acordo para se cumprimentarem de uma forma diferente, eles fazem um coração com as mãos em direção aos colegas. A brincadeira, segundo os educadores, é importante para que eles não fiquem excessivamente preocupados com a doença. 

Preocupadas com a disseminação do coronavírus, crianças inventam uma nova forma de se cumprimentarem na escola para evitar o contato físico Foto: Werther Santana/Estadão

No colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, depois de uma aluna de 13 anos ter sido confirmada com o coronavírus, a escola reforçou a comunicação para tranquilizar pais e alunos e aumentou a quantidade de recipientes de álcool em gel pela unidade. "São hábitos simples de prevenção que sempre estimulamos entre os alunos e que só precisam de um reforço. Desde 2009, quando houve o surto de gripe suína, instalamos e mantivemos álcool em gel nas salas de aula e áreas comuns", diz a coordenadora Enrica Brito. A escola também definiu que as salas devem ficar com as janelas abertas para circulação do ar.

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No colégio Dante Alighieri, também na região central paulistana, os cuidados com higiene foram reforçados, além da comunicação com pais e alunos. "Temos uma equipe médica na escola orientando porque muitas vezes a desinformação faz com que hábitos errados sejam adotados. Por exemplo, quando vemos um aluno usando máscara, explicamos que não há necessidade do uso e que, se ele tiver sintomas, a ação correta é não vir para a escola", diz Valdenice Minatel, diretora educacional.

A escola também tem feito reuniões para preparar um plano de contingência caso as aulas tenham que ser suspensas por causa da doença. "O que também não é uma novidade para nós, já que em 2009 ficamos 13 dias sem aula por causa da gripe suína. Naquela época, a tecnologia nos ajudou muito. Agora, uma década depois, acredito que o desafio será muito menor", diz. 

O Rio Branco também estuda um plano para o caso de suspensão, usando vídeo-aulas e atividades por meio de uma plataforma digital. "Mas só faremos isso caso haja uma determinação das autoridades de saúde, como o Ministério da Saúde", diz Esther.

Limpeza para evitar transmissão

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O Avenues, colégio de elite da capital paulista, decidiu na sexta-feira, 6, suspender as aulas após a confirmação do diagnóstico de coronavírus de um aluno do 7º ano. A unidade foi fechada na noite de sexta-feira, 6, e a previsão de reabertura é apenas na próxima segunda-feira, 16, segundo nota enviada aos pais. 

Segundo o comunicado, o fechamento foi necessário para a limpeza de toda a escola. "Temos um câmpus de mais 40 mil metros quadrados, com muitas áreas de contato intenso que deverão ser higienizadas mais de uma vez para limitar o risco de transmissão do vírus". A partir desta quarta-feira, 11, os alunos terão aulas on-line e o calendário escolar será alterado para repor os dois dias de aula perdidos. 

A escola também comunicou aos pais ter identificado 150 alunos e profissionais considerados como de "alto risco". São pessoas que tiveram contato próximo com o estudante confirmado com coronavírus ou por terem doenças preexistentes ou sistema imunológico comprometido. Para essas pessoas, foi solicitado que permaneçam em casa por 14 dias e só retornem à escola no dia 23 de março. 

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Escola ainda vai avaliar a duração do fechamento. Estudante frequentou aulas durante a semana Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Vírus causa mudanças na rotina escolar em todo o mundo

A epidemia de coronavírus afetou profundamente a vida cotidiana em todo o mundo, com a suspensão na quarta-feira passada das aulas em todas as escolas na Itália e alertas de fechamentos de instituições de ensino nos Estados Unidos, aumentando os transtornos para quase 300 milhões de alunos em todo o globo, segundo cálculo do jornal americano The New York Times.

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A conta deve seguir crescendo, já que os efeitos na Itália se ampliaram nesta segunda, com a decisão de estender a área de restrição de deslocamento para todo o país. Na Espanha, o governo também anunciou adoção de medidas para contenção dos contágios com a suspensão de aulas em escolas e universidades por ao menos duas semanas. A decisão vale para a região da capital Madri e cidades do País Basco, no norte, consideradas zonas de transmissão comunitária alta. 

Há algumas semanas, a China, onde teve início a epidemia, era o único país a suspender as aulas. Mas o vírus se propagou de maneira tão rápida que, na quarta-feira passada, 22 países nos três continentes anunciaram o fechamento de escolas de vários graus, levando os Estados Unidos a alertarem que “a escala global e a velocidade da atual interrupção do ensino não tem paralelos”. /COM NYT

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