Coronavac será testada em crianças na África do Sul como parte de estudo global

Testes irão avaliar eficácia, imunogenicidade e segurança em 14 mil participantes que têm entre 6 meses e 17 anos de idade; resultados podem ser importantes para aprovação do uso emergencial da vacina em menores de 18 anos no Brasil

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Por Redação
Atualização:

A Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, será testada em crianças e adolescentes na África do Sul como parte de um estudo global de fase 3. As informações foram confirmadas nesta quinta-feira, 9, pela Sinovac e o Numolux Group, parceiro local para a condução dos testes do imunizante.

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O estudo irá avaliar eficácia, imunogenicidade e segurança da Coronovac em crianças e adolescentes com idade entre 6 meses e 17 anos e vai reunir 14 mil participantes: 2 mil deles na África do Sul e o restante em Chile, Filipinas, Malásia e Quênia. Os resultados do estudo podem ser importantes para a aprovação do uso emergencial da vacina em menores de 18 anos no Brasil.

Enquanto a aplicação da vacina desenvolvida pela Sinovac no grupo de 3 a 17 anos no País foi rejeitada em 18 de agosto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto de Saúde Pública do Chile (ISP) autorizou na segunda-feira, 6, o uso emergencial da Coronavac em crianças e adolescentes de 6 a 17 anos.

Compartilhando matéria publicada pelo Estadão, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), reivindicou nas redes sociais aprovação do uso emergencial da Coronavac em crianças. "Por aqui, aguardamos liberação da Anvisa", escreveu o governador.

Em decisão unânime, a agência concluiu em agosto, com base nos dados enviados pelo Instituto Butantan, que o perfil de segurança na população não foi suficientemente demonstrado. A agência apontou ainda dificuldade de determinar a eficácia da vacina para crianças. A ausência de algumas informações sobre a proteção da Coronavac em adultos, ainda não enviadas pelo Butantan, comprometeu a análise, destacaram os diretores da Anvisa.

“Os dados até o momento são insuficientes para estabelecer o perfil de segurança na população pediátrica e não permitem conhecimento sobre proteção e duração conferida pela vacina (em crianças). A relação benefício-risco é desfavorável para o uso da vacina nessa população”, disse o gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, à época da decisão.

Especialistas ouvidos pelo Estadão na ocasião apontaram que o veto não surpreendeu, já que, entre outros fatores, o Butantan não apresentou um estudo de fase 3 à Anvisa, que seria mais conclusivo. Fabricante do único imunizante aprovado para vacinação de adolescentes no Brasil, a Pfizer apresentou um estudo de fase 3 à agência reguladora.

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Ainda com o veto da Coronavac, os especialistas reforçaram que a decisão não significa que a vacina é ineficaz para crianças e adolescentes, mas que necessita de mais testes. Os estudos de fase 3 conduzidos na África do Sul e em alguns outros países, dessa forma, podem ser importantes para uma reavaliação da Anvisa e possível aprovação do uso da Coronovac em adolescentes no País.

Trabalhadora da área da saúde aplica dose de Coronavac em adolescente no início dos testes da vacina em menores de idade na África do Sul. Foto: Phill Magakoe/AFP

Os estudos a serem conduzidos na África do Sul foram aprovados pela agência reguladora de medicamentos do país (SAHPRA, na sigla em inglês). Com isso, os testes com a Coronovac em adolescentes começaram a ser conduzidos nesta sexta-feira, 10, em uma unidade de pesquisa clínica da Universidade de Ciências da Saúde Sefako Makgatho.

“O objetivo principal do estudo é avaliar a eficácia de duas doses de Coronavac contra sintomas em casos confirmados de covid-19 em crianças e adolescentes... A eficácia também será avaliada em relação a hospitalizações e casos graves da doença", disseram Sinovac e Numolux.

O governo sul-africano disse que está considerando usar a Coronovac em seu programa de imunização ao lado de doses desenvolvidas pela Pfizer, que foram administradas no país até agora.

A campanha de vacinação da África do Sul começou lentamente devido a negociações onerosas com empresas farmacêuticas e a escalada de casos da variante Beta do coronavírus atrapalhou os planos para usar a AstraZeneca em fevereiro.

Até agora, mais de 10,3 milhões de cerca de 60 milhões de habitantes do país receberam pelo menos uma dose da vacina, o equivalente a cerca de 17% da população. /COM REUTERS