Coronavac: tire suas dúvidas sobre o atraso na segunda dose da vacina contra a covid-19

Especialistas falam que tomar o reforço até seis semanas depois da primeira dose não traz prejuízos à imunização, mas alertam que não dá para esperar indefinidamente

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Por Mariana Hallal
5 min de leitura

O Instituto Butantan paralisou a produção da Coronavac na última sexta-feira, 14, por falta de insumos para a fabricação e milhões de brasileiros estão com a segunda dose em atraso. Especialistas falam que tomar a segunda dose até seis semanas depois da primeira não traz prejuízos à imunização, mas alertam que não dá para esperar indefinidamente pelo reforço da vacina.

Leia abaixo perguntas e respostas sobre o assunto.

Por que a Coronavac está em falta no Brasil?

No dia 20 de março, o Ministério da Saúde, ainda sob o comando do general Eduardo Pazuello, emitiu uma nova diretriz para aplicar todas as doses de Coronavac assim que elas forem entregues aos Estados e municípios, sem guardar o necessário para a segunda dose. Até aquele momento, a orientação era reservar metade das vacinas para aplicação das segundas doses dentro do período recomendado, de 14 a 28 dias.

Na época, a pasta foi criticada por especialistas que alertavam para possíveis atrasos na aplicação da segunda dose, exatamente o que está acontecendo no momento.

Na última sexta-feira, 14, o Instituto Butantan concluiu a entrega das 46 milhões de doses da Coronavac previstas no primeiro contrato com o Ministério da Saúde. Ainda assim, o número não foi suficiente para cobrir o déficit de vacinas no País. 

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Coronavac é fabricada no Instituto Butantan Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Atualmente, a produção da Coronavac está paralisada no Brasil por falta de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), que é importado da China. Segundo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), há 10 mil litros de IFA, suficientes para produzir 18 milhões de doses de Coronavac, aguardando liberação do governo chinês para ser exportada ao Brasil. No entanto, ele diz que “entraves diplomáticos” causados pelo presidente Jair Bolsonaro e sua equipe atrapalham a liberação do insumo.

Vai ter doses suficientes de Coronavac para quem aguarda a segunda dose?

Uma nova remessa de Coronavac aos Estados depende da retomada da produção da vacina. Isso só vai acontecer depois que a China liberar a exportação do Insumo Farmacêutico Ativo ao Brasil. O Butantan espera entregar 5 milhões de doses durante o mês de maio, o que deve ser suficiente para cobrir o déficit atual de vacinas.

A primeira dose da Coronavac dá algum grau de proteção?

Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e neurocientista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e divulgadora científica pela Rede Análise COVID-19, fala que a primeira dose da vacina já garante uma certa proteção contra o vírus. "Estudos indicam que 14 dias após a primeira dose é possível observar uma proteção conferida pela vacina. Mas precisamos lembrar que tomar as duas doses no intervalo de até 21 dias é muito importante para uma proteção mais abrangente e potencialmente mais duradoura", disse.

Um estudo feito em Manaus com 67.718 trabalhadores da saúde mostrou que a Coronavac tem 50% de efetividade contra casos sintomáticos da doença após 14 dias da primeira dose. No entanto, para que a pessoa atinja a imunidade esperada, é necessário cumprir o esquema vacinal de duas doses.

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A eficácia diminui se a aplicação da segunda dose atrasar?

De acordo com Paola Minoprio, doutora em Imunologia pela Universidade Pierre e Marie Curie (França), não há grandes problemas em atrasar um pouco a segunda dose. “O sistema imunológico não conhece dias, conhece processamento. Se o reforço atrasar um pouquinho, não tem problema, porque o sistema vai ser capaz de reconhecer esse reforço e de preparar a resposta”, diz.

Ela explica que os estudos da Coronavac analisaram um intervalo de 14 dias entre a primeira e a segunda dose. No entanto, tomar a segunda dose até seis semanas após a primeira não deve trazer prejuízos. “Mas também não podemos esperar indefinidamente”, aponta.

Mellanie reforça que ainda não há dados contundentes para intervalos maiores entre as doses. "Desta forma, precisamos seguir o regime indicado pela agência reguladora e por essas bulas. Mas, atrasos de poucas semanas, que fiquem próximos do intervalo estabelecido, possivelmente terão pouco impacto na proteção", diz.

Por outro lado, o imunologista Jorge Kalil, professor da Faculdade de Medicina da USP, acredita que ampliar o prazo de aplicação entre as doses da Coronavac poderia conferir maior grau de proteção. "Apesar de não ter sido testado, a gente sabe disso por outros tipos de vacina", fala.

Qual o prazo para a segunda dose da Coronavac?

De acordo com os estudos realizados sobre a vacina, o ideal é que a segunda dose seja aplicada entre 14 e 28 dias após a primeira.

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Por que o intervalo para a segunda dose da Coronavac é menor em comparação a outras vacinas?

O doutor Kalil explica que os estudos foram feitos com o intervalo de 14 dias porque havia pressa pela aprovação da vacina.

Inicialmente, o intervalo previsto entre a primeira e a segunda dose das vacinas de Oxford/AstraZeneca e da Pfizer também era mais curto, mas com o tempo os pesquisadores perceberam que um prazo maior para aplicação do reforço poderia ser mais benéfico.

É necessário repetir a primeira dose se a segunda atrasar?

A doutora Minoprio e o doutor Kalil afirmam que não é necessário repetir a primeira dose. 

Posso tomar a segunda dose de outra vacina?

Alguns países, como o Reino Unido, estão conduzindo estudos sobre as consequências da combinação de diferentes vacinas contra a covid-19. No entanto, ainda não há resultados dessas pesquisas e até o momento essa interação entre os imunizantes é desconhecida.

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a mistura de vacinas diferentes. No início do ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que "estudos clínicos em andamento não contemplam a previsão de intercambialidade de vacinas”.

Coronavac é eficaz contra novas variantes?

Resultados preliminares de um estudo feito com 67.718 trabalhadores da saúde de Manaus mostram que a Coronavac é eficaz contra a variante P.1. Segundo a pesquisa, a vacina tem 50% de efetividade contra casos sintomáticos da doença após 14 dias da primeira dose.

Segundo Gabriel Maisonnave Arisi, professor na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), os imunizantes de vírus completo inativado, como a Coronavac, provavelmente são menos vulneráveis às variantes.

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