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Coronavírus muda rotina no aeroporto de Guarulhos

A preocupação com a epidemia do Covid-19 mudou o ambiente no maior aeroporto do País e da América do Sul; funcionários usam máscaras e luvas enquanto passageiros levam álcool gel na bagagem

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

SÃO PAULO - A chegada do coronavírus no Brasil está criando novos hábitos entre passageiros e modificando a rotina de funcionários no aeroporto de Guarulhos, o maior da América do Sul e o segundo maior da América Latina, com movimentação de mais de 120 mil passageiros por dia. Os viajantes incorporaram novos itens antes de fechar a mala para viajar: o álcool gel – e também as máscaras. Os trabalhadores usam novos equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e luvas.

Movimento de passageiros e funcionáriosno terminal 3 do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos. Da esq p/ dir: Wilian Guedes, Marina Santos, Gisele Ferraz e Anajara Ferraz. Foto: FOTO: HÉLVIOROMERO / ESTADÃO

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De partida para um passeio de 15 dias a Londres, o aposentado Edvaldo Monteiro de Oliveira levou 20 frascos de álcool gel na bagagem. No setor de embarque do aeroporto de Guarulhos, ele também estava com uma máscara. “Não existe motivo para pânico, mas é melhor prevenir”, afirma. “Foi uma das primeiras coisas que coloquei na mala”, completa.

A preocupação com a prevenção também fez com que a família do investidor Wilian Guedes fosse inteirinha de máscara ao aeroporto. Além dele, estavam a mulher, Gisele Ferraz, a filha, Anajara Ferraz, e Marina Souza Santos. Eles foram receber Meiri McDonalds, filha da Marina, que também chegou de máscara, vindo de Orlando, na Flórida. “Falta ao Brasil um pouco de prevenção. A gente só se preocupa depois que os casos acontecessem”, aponta Gisele, que é fisioterapeuta.

Funcionários e passageiros usam mascáras em maior aeroporto do Brasil. Foto: HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO

A estudante de Nutrição Jordana Oliveira Costa acabou de retornar ao Brasil. Ela comprou uma caixa com 50 máscaras quando viajou para os Estados Unidos para passar as férias com a tia, Sirlei Costa. Lá, comprou mais. Não tirou o acessório para nada durante os 33 dias que ficaram na Califórnia, de 29 de janeiro a 4 de março. “A gente se preocupou desde o início da viagem. Só tiramos as máscara nas para comer ou quando percebíamos que era hora de trocar”, diz a moradora de Goiânia.

Funcionários incorporam as máscaras

A presença de profissionais com máscaras e luvas evidencia a preocupação com a doença, que já tem 13 casos confirmados no País. O uso se intensificou nas últimas duas semanas.

Movimento de funcionáriosno terminal 3 do Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos. Foto: HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO

O Estado presenciou na quinta-feira, 5, a utilização de luvas e máscaras por grande parte do funcionários das áreas de atendimento, limpeza e higiene ou organização dos espaços, como os responsáveis por recolher os carrinhos de bagagem. 

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No início de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou as orientações sobre o uso de EPIs não só para profissionais que atuam em aeroportos, mas em portos e áreas de fronteira. 

"Caso haja (casos) suspeitos, a Anvisa recomenda o uso de máscara cirúrgica, avental, óculos de proteção e luvas. Profissionais que realizam inspeção de bagagens acompanhadas devem usar máscara cirúrgica e luvas", informa nota da agência, que também orienta que tripulantes de voos internacionais, agentes aeroportuários e funcionários de lojas duty-free utilizem máscaras cirúrgicas.

Juciléia Maria é uma dessas profissionais. Funcionária de uma empresa terceirizada há três meses, ela conta que se sente mais segura com a proteção. Ela não tem ideia de quantos carrinhos recolhe diariamente no Terminal 3 muito menos de quantas mãos passam por ali. “Muitas pessoas usam os carrinhos diariamente e a gente não sabe quem está com o coronavírus. É uma segurança para nós”, diz Juciléia.

O Estado presenciou na última quinta-feira a utilização de luvas e máscaras por grande parte do funcionários das áreas de atendimento, limpeza e higiene. Foto: HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO

Presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (Sindigru), Rodrigo Maciel diz que a entidade está acompanhando a situação dos profissionais e verificando se as medidas de proteção estão sendo cumpridas.

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"Nós orientamos as empresas, que estão oferecendo os equipamentos de proteção. Também desenvolvemos um canal de denúncias para dar suporte aos funcionários que não estão recebendo luvas e máscaras”, afirma.

Números do sindicato apontam mais de 20 mil trabalhadores no local, sendo 12 mil em contato aeronaves e operações de solo.

Na opinião do sindicalista, a ocorrência de 3,2 mil mortes e mais de 95 mil infectados pelo novo coronavírus deixa os trabalhadores preocupados. “Esta situação está deixando todos apreensivos por não depender somente da nossa atuação como fizemos em outras contingências”.

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Alerta sonoro

Desde o final de janeiro, os principais aeroportos do Brasil passaram a usar um alerta sonoro sobre o coronavírus. As mensagens de um minuto de duração - em português, inglês e mandarim - informam sobre os sintomas da doença e as medidas para evitar a transmissão.

Ouça a mensagem, em português, de alerta contra o coronavírus:

A orientação passada pela Anvisa aos aeroportos é para que os órgãos sanitários sejam notificados imediatamente em caso de suspeita - pessoas que estão em vias de desembarque e apresentam sintomas como tosse, febre e dificuldade para respirar. No caso dos passageiros a bordo, os tripulantes foram orientados a informar o comandante do voo se houver suspeita. Este, por sua vez, fará contato com a torre de controle do aeroporto, que acionará a Anvisa.

O passageiro com sintomas será abordado antes do desembarque para a checar a situação. A Anvisa aciona o serviço médico do aeroporto e a vigilância sanitária do município e a equipe vai a bordo para avaliar o paciente. Se o médico descartar o caso, o desembarque dos passageiros é liberado. Caso a suspeita seja mantida, o passageiro doente é removido para um hospital de referência. Os demais passageiros são entrevistados pela vigilância epidemiológica para que possam ser monitorados. A aeronave passa por desinfecção, inclusive dos efluentes.

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