Coronavírus: Corrida global por insumos faz SUS perder contratos

Estados do Nordeste desistem de fornecimento de itens, em meio à demanda de produtos hospitalares; indústria cobra licitações ágeis

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Por Mateus Vargas
Atualização:

BRASÍLIA - A ofensiva de potências econômicas, como os Estados Unidos, no mercado de insumos para saúde tem afetado encomendas já feitas por gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e até desestimulado novas compras. O governo do Maranhão desistiu, por ora, de buscar produtos na China, principal produtor do setor. O Estado teve um contrato rompido para compra de 107 respiradores e avalia que é mais seguro apostar na produção nacional. 

Avião da FAB transporta insumos médicos de São Paulo para Recife, medida para conter o avanço do novo coronavírus Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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“Arriscar comprar agora é correr o risco de não ter o produto ou apenas tê-lo quando tudo isso tiver passado. Não adianta. E ainda corremos o risco de responder judicialmente por tais atos”, disse o secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula. Uma compra do governo da Bahia de 600 respiradores chineses, que seria distribuída a Estados do Nordeste, também foi cancelada. O contrato era de R$ 42 milhões. “Infelizmente estamos sem uma coordenação nacional”, disse o governador Rui Costa (PT) à TV Aratu.

Para representantes da indústria, além de o governo brasileiro ter demorado para ir ao mercado, a burocracia para compras coloca o País no “fim da fila”. “Outros países estão indo lá com seus aviões e buscando a mercadoria”, disse Paulo Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo). Ele afirma que há diversos produtos comprados por empresas brasileiros na China bloqueados, incluindo equipamentos de proteção individual (EPIs), respiradores e kits para testes de diagnóstico. “Os EUA passaram na frente.”

Segundo Fraccaro, além do aumento da procura, o custo de transporte dos produtos da China, pago em dólar, aumentou até 10 vezes durante a pandemia. “Se você compra hoje para buscar em uma semana, o fornecedor prefere abrir mão do pedido para vender na hora para quem está pagando mais.”

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, voltou a afirmar nesta sexta-feira que pode buscar produtos, mas não falou em datas para. “Nós enviaremos aviões caso seja necessário”, disse. “Nós estamos dialogando com os países no sentido de ter um mínimo de racionalidade neste momento, para podermos achar um ponto de equilíbrio”, afirmou o ministro.

Para Fernando Silveira Filho, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), é difícil acertar a hora de ir às compras e o governo tem tomado medidas certas. “A aceleração da epidemia é muito grande. Difícil saber se resposta foi no tempo certo ou não. Está sendo dada.”

Ainda que países tenham bloqueado exportações, a indústria de medicamentos do Brasil afirma que está com produção e estoques regularizados. “A indústria instalada no País tem estoque para quatro ou cinco meses, em média”, diz o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).

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Mas o cenário não é o mesmo no laboratório Farmanguinhos, braço da Fiocruz. Segundo o diretor da instituição, Jorge Mendonça, os bloqueios de produtos e limitações impostas pela covid-19 têm impactos “cada vez maiores”. “Nas situações locais e internas, com as dificuldades de locomoção de nossos colaboradores, por causa das restrições de transporte, e os afastamentos médicos, mesmo que sejam preventivos. Já nos fatores externos, nas últimas semanas, as dificuldades têm aumentado, tanto de novas contratações quanto na regularidade de embarques, já contratados de insumos importados, da Ásia e Europa”, disse. 

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