14 de novembro de 2017 | 03h00
SÃO PAULO - No Brasil, o primeiro passo para discutir e debater a qualidade de vida dos idosos foi dado. O Fórum de Moradia para a Longevidade, uma iniciativa do Estado em parceria com o Sindicato da Habitação (Secovi) e a Aging Free Fair, feira sobre o mercado para sêniors, reuniu em São Paulo os principais agentes que estão atuando nessa transformação que deve, nos próximos anos, mudar a paisagem urbana e também a forma de se relacionar com os mais velhos.
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“Foi um verdadeiro marco para o que esperamos ser um novo nicho de mercado. Os modelos de empreendimento estão se profissionalizando nos últimos cinco anos. Mas até então, no Brasil, não houve uma reunião dos especialistas para debater os problemas, as soluções e as evoluções. Precisamos nos organizar. Os órgãos públicos não sabem como interpretar esse tipo de empreendimento. Eles não sabem se eles residenciais, hotéis, ou hospitais”, diz Caio Calfat Jacob, vice-presidente do Secovi-SP.
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As tendências para esse segmento foram abordadas por um time misto de palestrantes, que incluiu a esfera público e privada no debate. O segmento de moradia para sêniors pode ter várias vertentes, como explicou Edgar Werblowsky, criador da Aging Free Fair, durante a palestra que mostrou o avanço de algumas modalidades de habitação para a terceira idade já em funcionamento em países da Europa e também nos Estados Unidos.
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As tendência que se apresenta como alternativa viável para atender a demanda latente dos mais velhos, que querem independência e privacidade, estão surgindo ainda de forma tímida no Brasil.
A arquiteta Laura Fitch traçou um panorama sobre o cohousing (vila comunitária que reúne espaços de compartilhamento de experiências). Responsável por implantar 30 empreendimentos com este formato nos Estados Unidos e países da Europa, a estudiosa, fundadora da Fitch Architecture & Community Design, ressaltou a importância da funcionalidade e da afetividade nas moradias compartilhadas. “Uma pessoa idosa tem muita sabedoria e no cohousing isso é bastante valorizado”. Sérgio Mühlen, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre o Vila ConViver, projeto de cohousing previsto para ser construído no subúrbio de Campinas nos próximos anos.
Os custos de habitações funcionais são o principal gargalo do Brasil. O déficit de moradias é alto nas capitais do País. O secretário estadual de Habitação de São Paulo, Rodrigo Garcia, o secretário municipal de Habitação, Fernando Chucre, e o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, apresentaram exemplos de projetos populares voltados para o público sênior - a exemplo do Condomínio Cidade Madura, na Paraíba.
Henrique Noya, do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e Patricia Beber, do Kantar Worldpanel e Ricardo Sousa, da Brazil Senior Living, falaram sobre o potencial de crescimento desse atrativo mercado que começa a se organizar por aqui.
Trata-se de diferentes modelos de empreendimento, para bolsos variados, que têm em comum facilidades como assistência médica em tempo integral, espaços para lazer e atividades culturais, além de promover o convívio entre os moradores.
Casa compartilhada
Laura Fitch, do Architecture & Community Design, traçou panorama do cohousing no mundo, principalmente nos Estados Unidos, onde atua com mais força. O contraponto brasileiro ficou a cargo do Professor da Unicamp, Sérgio Mühlen. O docente faz parte dos idealizadores da Vila ConViver, um cohousing que está em fase de desenvolvimento e será construído no subúrbio de Campinas.
Bairros
Edgar Werblowsky, CEO da Aging Free, substituiu a palestrante Stephanie Anderson, que teve sua participação cancelada por um imprevisto. O executivo elencou as modalidades que são realidade nos Estados Unidos e que, com o tempo, devem chegar ao Brasil, como os Norcs, bairros que concentram mais de 60% de idosos e contam com apoio para os moradores.
Condomínios de luxo
Os empreendimentos que oferecem assistência médica total aos moradores, por ora, ainda não existem no Brasil. Mais comuns nos Estados Unidos, esses espaços são aptos para socorrer moradores em casos onde os cuidados médicos são mais específicos, como AVC (acidente vascular cerebral), Alzheimer, quedas com consequências graves, entre outros.
Locação social
Iniciativas que auxiliam idosos de baixa renda ainda carecem de investimentos no País. Os secretários estadual e municipal de Habitação de SP, Rodrigo Garcia e Fernando Chucre, e o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho falaram sobre parcerias público privadas que podem minimizar os custos de viabilização de projetos. A Vila dos Idosos, em São Paulo, acolhe a preços acessíveis.
Baixa renda
Faltam iniciativas que contemplem os idosos de baixa renda no Brasil. Os representantes do poder público citaram a falta de incentivo e recursos para a construção de moradias apropriadas para pessoas acima dos 60 anos. Projetos isolados, como o Cidade Madura, na Paraíba, atendem sêniors que vivem em situações precárias e sem acesso aos serviços básicos, como saúde.
Lazer e socialização
Todos os empreendimentos que estão nascendo, no Brasil ou no exterior, para atender idosos têm em comum um cuidado até então dispensado aos mais velhos: a necessidade de interação e lazer entre os mais velhos. Os empreendimentos, em grande maioria, oferecem atividades que estimulam a interação entre os moradores, assim como atividades de lazer ao ar livre.
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