Dilma admite que País está perdendo a guerra contra o 'Aedes' e recorre a Obama

Presidente disse não ver problema nas recentes declarações de ministro da Saúde porque ele fez uma 'constatação da realidade'

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Por Tania Monteiro e Isadora Peron
Atualização:

BRASÍLIA - Preocupada com os danos à imagem do Brasil no exterior, a presidente Dilma Rousseff decidiu tomar a frente do combate ao Aedes aegypti e expor ações internacionalmente. Para tanto, telefonou nesta sexta-feira, 29, para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para acertar esforço conjunto. A estratégia é adotada às vésperas de o zika ser declarado uma ameaça internacional e sob pressão interna - com a possibilidade real de deixar o mandato com uma geração de crianças com microcefalia.

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Na conversa, que durou 15 minutos, Dilma e Obama discutiram “a cooperação bilateral na área de saúde, para o combate e desenvolvimento de uma vacina contra o zika”. Um grupo de alto nível, que reunirá o Departamento de Saúde americano e o ministério brasileiro da área, foi criado para desenvolver parceria na produção de imunizantes e produtos terapêuticos. Será usada como base a cooperação já adotada no desenvolvimento da vacina contra a dengue.

Ainda nesta sexta, em teleconferência com governadores de cinco Estados, a presidente apresentou o texto de uma Medida Provisória que vai assinar permitindo que representantes do poder público possam entrar em casas e terrenos que estejam fechados e com possíveis criadouros de mosquitos. Essa medida teria de ser apressada para que entre em prática já em fevereiro, durante as visitas de agentes de saúde e militares.

Ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Castro, a presidente Dilma Rousseff disse que não viu problema nas recentes declarações do peemedebista Foto: André Dusek/Estadão

Além da mobilização nacional, a presidente está interessada em uma ação conjunta com países da região. Na quinta-feira, Dilma telefonou para o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, para falar sobre a reunião de ministros da Saúde dos integrantes da Unasul, que será feita na semana que vem, em Montevidéu, para tentar conter o avanço das doenças no América do Sul. Dilma sugeriu ainda a Tabaré Vázquez, presidente pro tempore do Mercosul e da Unasul, que, dependendo do resultado do encontro de ministros, seria importante convocar uma reunião de presidentes, para selar ações mais rápidas.

Cobrança internacional. Nesta sexta, a presidente Dilma fez questão até de participar do mutirão que o governo federal está fazendo em todas as repartições públicas, para combater focos do mosquito. Ela visitou o Grupamento de Fuzileiros Navais e acompanhou a colocação de larvicidas nos bueiros. Essas ações servem de resposta às cobranças internacionais que o Brasil está recebendo de vários países, e até da Organização Mundial da Saúde (OMS), por causa da microcefalia.

Um dos auxiliares da presidente consultados lembrou que, quando o problema se limitava à dengue, não havia esse nível de cobrança externa. Agora, a situação é considerada mais grave porque está sendo espalhada uma doença que causa severos danos neurológicos em bebês. A ideia é que, com essas ações que estão sendo desencadeadas agora, no próximo verão já não haja o mesmo volume de casos de microcefalia.

Para a Olimpíada, no inverno, o governo espera que a situação esteja bem mais controlada. Mas o Estado do Rio receberá um dos maiores investimentos de combate ao mosquito. O Ministério da Saúde identificou 350 capitais e cidades com mais de 100 mil habitantes onde há maior incidência de doenças. O governo quer entrar nos 50 milhões de imóveis que existem no País e daí a necessidade da MP para garantir a legalidade da medida. Até agora, só chegou a 10,9 milhões de domicílios e postergou o mutirão em um mês.

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Guerra ao mosquito. Nesta sexta, a presidente Dilma mudou o discurso de negação e admitiu que o governo está “perdendo a luta” contra o mosquito. “Se eu dissesse que nós estamos ganhando a luta, nós estaríamos em uma fase mais avançada. Agora, nós vamos ganhar a luta. Nós vamos demonstrar que o povo brasileiro é capaz de ganhar essa guerra.” Há alguns dias, em sua passagem pelo Equador, a presidente disse justamente o contrário.

Dilma insistiu que, como ainda não há uma vacina contra dengue e zika - para a qual espera ajuda de cientistas americanos e do presidente Barack Obama -, o ideal é que haja uma mobilização de toda a sociedade para eliminar água parada e erradicar os criadouros do mosquito. Ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Castro, a presidente voltou a defendê-lo, salientando que não viu problema nas recentes declarações do peemedebista, porque ele fez apenas uma “constatação da realidade”. No início da semana, Castro declarou que o Brasil “perdeu feio” a batalha contra o Aedes aegypti.

A presidente, no entanto, negou que o governo tenha demorado para enfrentar o problema e destacou que a situação não preocupa só o Brasil, mas o mundo inteiro. E reconheceu que este é um momento mais delicado, por causa da relação entre o zika vírus e o aumento do número de bebês com microcefalia. “A dengue é que nem uma gripe. Agora, zika, não. Zika não é uma gripe”, disse. Apesar de a presidente ter comparado a dengue a um resfriado comum, a epidemia da doença vem preocupando especialistas e causou 863 mortes somente no ano passado. 

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