Drama do hormônio que causou 119 mortos na França fica sem castigo

Acusados foram absolvidos das responsabilidades civis e não terão que pagar indenização

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Por Efe
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Paris, 5 mai - O drama do hormônio de crescimento, um escândalo médico dos anos 90 que provocou na França a morte de 119 crianças tratadas por problemas de baixa estatura, ficou sem punição aos acusados, absolvidos nesta quinta-feira, 5, pelo Tribunal de Apelação de Paris.É a segunda vez em que os responsáveis de terem colocado no mercado o produto feito a partir de glândulas de cadáveres obtidas de forma ilegal em necrotérios franceses e de países do leste europeu e que disseminaram a doença de Creutzfeldt-Jakob para dezenas de pacientes saem ilesos da justiça.O Tribunal estimou, assim como na primeira instância no Correcional em 2009, que os cientistas não possuíam os conhecimentos suficientes para saber as consequências do uso que o hormônio teria nas crianças.Foram absolvidos o antigo responsável do Instituto Pasteur Fernand Dray, que desenvolveu o hormônio, e a pediatra Elisabeth Mugnier, que recomendou seu uso, os dois únicos acusados sentados nos bancos dos réus.A corte entendeu que eles não cometeram "nenhuma falta" e, portanto, foram declarados inocentes das acusações de homicídio involuntário que a Promotoria havia pedido penas de prisão isentas de cumprimento.A apelação foi mais longe e os absolveu das responsabilidades civis, por isso que não terão de indenizar às vítimas, que receberam até agora 32 milhões de euros do Estado.O ex-presidente da associação França-Hipófises Jean-Claude Job, considerado o homem-chave do escândalo, morreu um mês antes de ser ditada a sentença em 2009, enquanto o antigo responsável da Farmácia Central de Hospitais Marc Mollet faleceu no decorrer da instrução da Apelação.Os familiares das vítimas assistiram incrédulos à leitura da sentença, um novo revés jurídico para homens e mulheres que há 25 anos querem punição aos responsáveis pelas mortes de seus filhos.As associações começaram a estudar a possibilidade de levar o caso à Corte Suprema.Ao todo, 1.698 crianças foram tratadas, das quais 119 foi possível vincular a morte a ingestão da substância, embora os familiares das vítimas estimem que o número de afetados seja maior, porque a doença, degenerativa e sem cura, tem um período de incubação de cinco e 40 anos.Todos eles sofreram nos anos 80 o tratamento com produto revolucionário, extraído da hipófise de cérebros de cadáveres.O Tribunal considerou que a extração da substância foi feita de cadáveres sem respeitar as medidas de higiene e de controle adequadas, em algumas ocasiões em hospitais que tratavam pacientes com doenças neurológicas e contagiosas.Fabricada entre 1980 e 1988, os efeitos do hormônio começaram a ser detectados a partir dos anos 90, quando as primeiras vítimas morreram.Depois do escândalo, este tipo de produto deixou de ser produzido a partir de glândulas humanas e foi substituído por hormônio elaborado a partir de elementos sintéticos, sem riscos de contaminação da doença de Creutzfeldt-Jakob.

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