Desde 2005, o médico generalista Paulo Sergio Leal Reis, de 42 anos, atua na organização Médicos sem Fronteiras. Em 2012, viajou para Uganda e teve a primeira experiência com infectados pelo vírus Ebola. Reis esteve, na atual epidemia da doença, que já infectou mais de 13 mil pessoas, na Guiné e em Serra Leoa. Na próxima semana, viaja novamente para Guiné em missão contra o Ebola.
Por que decidiu trabalhar no Médicos sem Fronteiras?
Sempre tive vontade de ser médico, tinha obrigação de deixar alguma coisa, de algo que me desse autonomia e de prestar algum serviço. Vi uma reportagem, antes da faculdade, sobre o Médicos sem Fronteiras e pensei: é exatamente o que eu quero fazer! É diferente de um trabalho em consultório. Apesar de alguns locais serem mais complicados, tem uma segurança muito grande, dá para trabalhar numa boa e você se sente bem.
Qual a diferença entre a sua primeira experiência com o Ebola e a atual epidemia?
Uma delas é que esses países, Serra Leoa, Guiné e Libéria, nunca conheceram a doença. No nosso trabalho, é difícil convencer até que a doença existe e os profissionais de saúde não sabiam como lidar. Uganda tinha experiência, já tinha até o testemunho de pessoas curadas. Além disso, a doença se espalhou muito rápido, as pessoas viajam muito nessas localidades.
Qual foi o momento mais emocionante que o senhor viveu realizando esse trabalho?
Foi o de uma bebê de 1 ano e 9 meses com Ebola que sobreviveu. Ela perdeu pais e avós. Outras duas meninas também estavam contaminadas e as três se curaram. Foi em Serra Leoa, em julho deste ano.
Como o senhor lida com o medo no seu trabalho?
O medo vem quando você não conhece. Uma vez que você conhece o trabalho e o meio de como se precaver, não existe o medo. Atualmente, as pessoas que vão trabalhar ficam mais preocupadas com a reação das pessoas, porque tem gente que não quer que visite, não quer apertar a mão.
O que costuma fazer ao voltar de uma missão?
A primeira coisa que sempre faço é ver a família. Depois, tomar uma cervejinha com meus amigos.