Eluana estava 'irreconhecível', diz jornalista que a visitou

A jornalista Marinella Chirico foi convidada pela família para a visita e ficou no quarto cerca de três horas

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Por Ansa
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A jornalista italiana Marinella Chirico, do canal de televisão RAI, visitou no domingo Eluana Englaro, que estava em estado vegetativo há 17 anos, e revelou que a paciente estava "irreconhecível" em comparação com suas fotos divulgadas na imprensa, classificando a imagem que viu como "chocante". Veja também: Berlusconi critica presidente da Itália sobre o casoVocê concorda com a decisão de deixar Eluana morrer? Perguntas e respostas: entenda o casoVeja tudo que foi publicado sobre o caso  Chirico foi convidada pela família de Eluana para a visita e ficou no quarto da paciente cerca de três horas. "Eluana era exatamente como se pode imaginar que seja uma mulher em estado vegetativo há 17 anos: absolutamente irreconhecível em relação às fotos que as pessoas veem", comentou a jornalista. Em 1992, Eluana sofreu um acidente de carro e, desde então, nunca mais recobrou sua consciência. Após anos de disputa judicial, o pai da italiana, Beppino Englaro, conseguiu, em novembro de 2008, a autorização para desativar a sonda que a alimentava e hidratava. Nos últimos meses, contudo, o pai de Eluana enfrentou a resistência do governo do premier Silvio Berlusconi, que tentava impedir o processo que levaria a italiana à morte. Por fim, no último sábado Eluana teve sua alimentação e sua hidratação interrompidas e veio a morrer na segunda-feira. Durante a visita que vez, a jornalista da RAI ressaltou que Eluana era "uma mulher completamente imóvel, os enfermeiros e os agentes de saúde eram obrigados a mudá-la de lugar a cada dura hora para evitar que seu corpo se atrofiasse". Chirico disse ainda que a italiana apresentava lesões nas orelhas, pois "era a única parte do corpo que não podia ser protegida", e reforçou que sua situação era "chocante, o impacto era muito forte emotivamente". A jornalista revelou que criou um vínculo afetivo com os familiares da italiana, pois acompanhava de perto sua situação. A família Englaro queria que um profissional de imprensa visitasse a paciente para que constatasse a situação de fragilidade em que se encontrava. "Foi-me pedido que eu visse Eluana porque havia críticas ferocíssimas e cruéis que colocavam em dúvida o estado real dela. Esta polêmica continuava a crescer e Beppino estava profundamente ferido e angustiado com o fato de não ser levado a sério quando dizia que a filha estava realmente em condições desesperadoras", explicou Chirico. Vaticano O diretor do jornal vaticano L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, comparou a morte de Eluana Englaro a do ex-primeiro-ministro Aldo Moro, assassinado pelas Brigadas Vermelhas em 1978, que descreveu como uma "morte esperada". "Seria preciso que esta morte restituísse sobretudo o respeito para a morte em si", afirmou o diretor, que criticou as preocupações "ideológicas" envolvendo o caso. "A nossa discrição foi também uma escolha não-ideológica", acrescentou. Vian ressaltou a necessidade de ter "tranquilidade para tentar entender. Não se tratava apenas de respeitar um convite ao silêncio que não foi respeitado por quase ninguém". O diretor do jornal afirmou concordar com a posição adotada pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que disse "em primeira pessoa, que não havia diminuído a estima pelo presidente da República e que não havia alguma intenção de interferir nas questões do Estado italiano". O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, vetou na última sexta-feira um decreto de lei aprovado com urgência pelo governo do país para impedir a interrupção da alimentação artificial de Eluana Englaro, afirmando que "o texto aprovado não superava as objeções de inconstitucionalidade". Em contrapartida, o jornal Avvenire, da Conferência Episcopal Italiana (CEI), afirmou que "Eluana foi assassinada" e pediu que seja feita "justiça" sobre o caso. O jornal da CEI, que havia publicado em sua versão online - logo após a morte da italiana - o polêmico título "Eluana morreu. 'Justiça' foi feita", pediu na edição desta terça-feira, 10, que a Justiça italiana "investigue até o fim" a causa da morte. "Não economizem nenhuma pergunta, senhores juízes", ressalta o editorial, assinado por Marco Tarquinio. O Avvenire pede ainda que "não haja mais um outro caso assim" e ressalta a necessidade de "uma lei" que impeça que "ao menos no nosso país, outra pessoa seja assassinada assim, de fome e de sede". Eluana Englaro, de 38 anos, morreu na segunda-feira por volta das 20h (17h em Brasília) na clínica La Quiete, na cidade de Udine, norte da Itália. A paciente, que viveu por 17 anos em estado vegetativo após ter sofrido um acidente de carro, faleceu depois que o sistema de alimentação e hidratação que nutria seu organismo foi totalmente interrompido, no último sábado, 7. Autópsia O procurador da República de Udine, Antonio Biancardi, encarregou o patologista Carlo Moreschi de realizar a autópsia do corpo de Eluana Englaro, junto a um especialista designado pela família da italiana, que estava há 17 anos em estado vegetativo e faleceu na tarde de segunda-feira. Após uma reunião com investigadores e policiais militares, entre eles os que realizaram inspeções na clínica La Quiete no último fim de semana, Biancardi anunciou a escolha de Moreschi para o caso. O patologista já havia sido designado pela Procuradoria anteriormente para acompanhar a atuação da equipe médica que interrompeu totalmente a alimentação e hidratação de Eluana no último sábado. Antes da autopsia, que deverá acontecer esta tarde, o pai de Eluana, Beppino Englaro, poderá vê-la. "De acordo com a Procuradoria e com o médico, parecia justo permitir que o pai olhasse sua filha antes do exame", disse Giuseppe Campeis, advogado da família. Campeis também informou que a família irá designar seu especialista para acompanhar a autopsia, junto aos peritos da Procuradoria de Udine, a reconstrução dos últimos momentos de Eluana e de seus últimos dias. Em um documento emitido pela equipe médica, a clínica La Quiete informava que uma parada cardiocirculatória, após uma insuficiência renal, seria a causa mortis mais provável.

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