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Em 4 anos, nº de usuários de composto à base de maconha aumenta 9 vezes

Anvisa autoriza importação do produto para 7.786 pacientes hoje; fabricação do composto no Brasil foi liberada a partir de 2020

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli e Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - O número de pacientes autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a importar canabidiol (CBD), composto feito a partir da planta da maconha, cresceu nove vezes em quatro anos, segundo dados do órgão. A partir de 2020, esse e outros compostos poderão ser produzidos e comercializados em território nacional, como prevê regulamentação da agência, aprovada nesta semana. Enquanto isso, as pessoas que dependem desse remédio precisam de autorização da Anvisa para trazer o produto de fora.

Anvisa liberou venda de produtos feitos com cannabis para uso medicinal em farmácias Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADAO

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Segundo dados da agência, o total de pacientes com cadastro aprovado para importar o canabidiol passou de 826 em 2015 para os atuais 7.786, alta de 842%. O ano de 2019 bateu o recorde de novos pacientes cadastrados: 2.726 até o terceiro trimestre. O número já é maior do que o registrado em todo o ano passado: 2.371.

"Acredito que (o aumento) esteja relacionado ao acesso à informação e ao reconhecimento das doenças para as quais o tratamento está sendo indicado", destaca a médica Paula Dall'Stella, especialista em cannabis medicinal.

Neurocirurgião funcional e um dos primeiros médicos a prescrever o canabidiol no País, Pedro Pierro confirma que, com novos estudos, mais doenças passaram a ser tratadas com CBD.

"Comecei a prescrever essas medicações em 2014. Nos primeiros anos, só prescrevia para epilepsia. Hoje, prescrevo para muito mais doenças porque novos estudos foram sendo lançados e isso nos deu mais segurança", detalha o médico. 

Atualmente, ele receita o remédio para condições como dor crônica, Parkinson, Síndrome de Tourette, autismo, distúrbios de sono, ansiedade, esclerose múltipla, entre outras. Para o médico, a maior divulgação dessa opção terapêutica na mídia também colaborou para o aumento no número de pacientes interessados. 

Mãe de criança com síndrome descobriu produto pela TV

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Foi por meio de um programa de TV que a fisioterapeuta Camila Aparecida Shimabukuro Lima, de 40 anos, conheceu o CBD, há três anos. O filho dela, Rafael, de 8 anos, tem a síndrome de Sturge-Weber, que provoca crises convulsivas e retardo mental. Os medicamentos usados até então não davam bons resultados e nenhum médico havia mencionado a existência do CBD.

Após descobrir o tratamento na mídia, ela entrou com o pedido de autorização e recebeu o aval em 2017.

"No caso do meu filho, o remédio não atua tanto nas convulsivas, mas percebi uma melhora no comportamento e na parte cognitiva", diz.

Psiquiatra e membro da diretoria da Associação Médica Brasileira (AMB), Carmita Abdo diz que é preciso avaliar os resultados de estudos antes de incluir o canabidiol na rotina de prescrição.

"Há muitas pesquisas e algumas não são conclusivas. Mas há indícios de que pode ser útil não só para epilepsia, mas para Parkinson, dores crônicas e esclerose múltipla."

Conselhos de Medicina orientam sobre prescrição para epilepsia

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou, em 2014, resolução sobre o uso de canabidiol com foco na epilepsia infantil e em adolescentes. Em novembro, o órgão informou que realiza uma "ampla revisão bibliográfica, que vai balizar futuras decisões sobre a prescrição, ou não, dos derivados do canabidiol para outras doenças."

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Desde 2014, também está em vigor a resolução 268 do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo(Cremesp) que autoriza o uso de canabidiol em crianças com epilepsia que não têm resposta com outros tratamentos. Após a liberação anunciada pela Anvisa, o órgão recomenda cautela aos profissionais.

"A orientação aos médicos é que sigam as evidências científicas de qualidade, metanálises, revisões sistemáticas, guidelines de sociedades e resoluções do CFM (Conselho Federal de Medicina) e do CRM (Conselho Regional de Medicina) ao considerar prescrever tais medicamentos. O que não pode acontecer é o médico ser pressionado por lobby da indústria farmacêutica ou outros setores sociais", afirma o psiquiatra Edoardo Vattimo, conselheiro do Cremesp.

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