Entidades recomendam que cloroquina não seja usada em tratamento de rotina da covid-19

Embora tenha acesso fácil e custo “moderado”, a droga tem benefício clínico “pequeno ou negligenciável” e nível de evidências científicas “baixo” quanto à sua eficácia, apontam organizações

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Por Ricardo Galhardo
Atualização:

Três entidades nacionais que representam médicos de especialidades diretamente ligadas ao novo coronavírus aprovaram nesta segunda-feira, 18, um documento com diretrizes para o enfrentamento da pandemia no qual recomendam que a cloroquina e a hidroxicloroquina não sejam usadas como tratamento de rotina da doença.

Médico segura comprimidos que contêm cloroquina e outra cartela que possui hidroxicloroquina Foto: Gerard Julien/ AFP

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“Sugerimos não utilizar hidroxicloroquina ou cloroquina de rotina no tratamento da covid-19”, diz o documento Diretrizes de Tratamento Farmacológico da Covid-19 elaborado em consenso pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Segundo o documento, embora tenha acesso fácil e custo “moderado”, a droga tem benefício clínico “pequeno ou negligenciável” e nível de evidências científicas “baixo” quanto à sua eficácia.

A inclusão da cloroquina no protocolo de atentimento a pacientes atingidos pelo coronavírus do Sistema Único de Saúde (SUS), defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, é apontada como a causa da saída precoce de Nelson Teich do Ministério da Saúde apenas um mês depois da nomeação.

As diretrizes servem para balizar a atuação de médicos que estão na linha de frente do combate à pandemia em todo o país. Além da cloroquina e hidroxicloroquina as três entidades avaliam outros 11 tipos de tratamento farmacológico. Apenas dois são recomendados. O oseltamivir nos casos graves em que a covid esteja associada a influenza e ou outros fatores de risco e antibacterianos em casos de infecção bacteriana.

Mais cedo a Sociedade Brasileira de Imunologia havia divulgado um parecer científico contrário ao uso da cloroquina neste momento, enquanto não existem resultados de estudos randomizados sobre a droga.

“A SBI fortemente recomenda que sejam aguardados os resultados dos estudos randomizados multicêntricos em andamento, incluindo o estudo coordenado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), para obter uma melhor conclusão quanto à real eficácia da hidroxicloroquina e suas associações para o tratamento da covid-19”, diz o parecer.

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A entidade ressalta que são necessários estudos com maior abrangência amostral e feitos de forma randômica (em que os pacientes são escolhidos aleatoriamente e apenas metade recebe o tratamento, a fim de comparação). “A escolha desta terapia, ou mesmo a conotação que a covid-19 é uma doença de fácil tratamento, vem na contramão de toda a experiência mundial e científica com esta pandemia.”

O parecer científico diz, ainda, que o posicionamento em defesa do amplo uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 é “perigoso” e “tomou um aspecto político inesperado”. “Nenhum cientista é contra qualquer tipo de tratamento, somos todos a favor de encontrar o melhor tratamento possível, mas sempre com bases em evidências científicas sólidas.”

O texto foi divulgado após o comitê científico da SBI analisar os estudos sobre os efeitos dos dois medicamentos para a covid-19. Ele lembra, por exemplo, que uma das primeiras pesquisas com essa proposta terapêutica - que envolvia o uso associado da hidroxicloroquina à azitromicina - era focada em 36 pacientes, o que seria uma “amostragem pequena e sem grupo de controle para comprovar qualquer resultado definitivo”.

Veja a íntegra do documento

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