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Especialistas descartam necessidade de lockdown em SP, mas defendem quarentena maior

Ampliação de testagem e uso obrigatório de máscaras estão entre as sugestões de médicos; Prefeitura já sinaliza extensão do isolamento na capital paulista

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Por Priscila Mengue
Atualização:

Epicentro da covid-19 no Brasil, a cidade de São Paulo já tem 18,4 mil casos e 1.533 mortes confirmados, além de 71.855 casos suspeitos.A ocupação de leitos de UTI chegou a 71% nos hospitais municipais. A Prefeitura já sinaliza que vai estender a quarentena, prevista para terminar em 10 de maio. Especialistas afirmam que não é hora de relaxar o isolamento e o poder público deve avaliar até aumentar as restrições, mas não recomendam um lockdown (fechamento completo). 

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Secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, afirmou na quinta-feira, 30, que a quarentena não será flexibilizada por enquanto e que serão anunciadas novas medidas de restrição. Para discutir quais mudanças poderiam ocorrer, o Estado falou com cinco especialistas da área de Saúde.

Um dos pontos mais defendidos é aumentar a testagem para ter maior dimensão da pandemia na cidade. “Ninguém sabe direito os dados, não tem um programa organizado para medir”, comenta o biólogo Fernando Reinach, colunista do Estado e um dos idealizadores de um projeto que vai mapear o vírus em bairros da capital.

Ele cita um estudo do Imperial College de Londres, de que Brasil teria o maior índice de transmissão de casos da covid-19 no mundo - segundo o qual, em média, um infectado passa a doença para outras 2,8 pessoas. “Se realmente estiver próximo de 3 (o número), os hospitais vão encher muito rápido. Mas, sem medida, tudo é palpite.”

Reinach lembra, ainda, que as ações tomadas pelo poder público levam até 15 dias para ter resultado, período em que uma pessoa pode levar para manifestar sintomas. “Acho muito arriscado relaxar o isolamento agora (na capital paulista).” A taxa de pessoas em casa na cidade tem caído e chegou a 47% na quarta-feira, 29. 

Também colunista do Estado, o infectologista Sergio Cimerman aponta a necessidade de mais dados separados por bairro, o que também depende de maior testagem. Os números de óbitos, conforme a Prefeitura, são maiores em bairros periféricos, como Brasilândia, na zona norte.

Ele defende manter a quarentena, com isolamento horizontal, mas acha que o momento ainda não exige lockdown, com fechamento do município e restrição de circulação nas ruas, por exemplo. “Eu esperaria mais 15 dias de evolução (da curva da disseminação) para tomar uma decisão mais drástica.”

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Outro ponto que ele destaca é a abertura de mais hospitais de campanha, especialmente para leitos de UTI (a capital tem três hospitais do tipo, todos voltados a leitos de enfermaria, para casos de menor complexidade).

Já o médico sanitarista Gonzalo Vecina, professor da USP e também colunista do Estado, ressalta quatro medidas que devem ser tomadas: aumento da testagem, obrigatoriedade do uso de máscaras, cumprimento do decreto da quarentena e isolamento eficaz dos doentes. 

Ele defende ampliar ações da Prefeitura de criar alojamentos nas periferias para pacientes que não conseguem fazer isolamento dentro de casa. Além de adaptar escolas, como está sendo feito na comunidade de Paraisópolis, zona sul paulistana, por exemplo, aponta a possibilidade de alugar vagas em hotéis. “Precisa identificar e isolar. Não pode mandar para casa se vai contaminar todo mundo em casa, tem que mandar para um hospital simples ou um alojamento.”

Também médica e coordenadora da FGVSaúde, Ana Maria Malik levanta a necessidade de haver maior coordenação entre as ações das prefeituras da capital e da Grande São Paulo. "Ao menos nas cidades da região metropolitana que têm comportamento mais homogêneo, que as pessoas talvez virão ocupar leitos. É pensar regionalmente, ou globalmente, para agir localmente. Mas antes você precisa conversar e combinar com os demais atores do sistema.”

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Ela também defende reforço das ações de conscientização. “Não acho que precisa fazer terrorismo, prender pessoas em casa, mas precisa de ação convincente de comunicação, porque tem cada vez mais gente na rua.”

Já a professora da Unicamp e infectologista Raquel Stucchi considera que a capital deveria tomar medidas mais rigorosas de circulação de automóveis. “A orientação de que se fique em casa não está surtindo efeito. Isso, em parte, o governo (estadual) tem culpa por anunciar que talvez possa flexibilizar. Com isso (anúncio), as pessoas já pensam que já pode sair.”

Ela dá como exemplo a restrição do uso de faixas em avenidas, nas marginais e em rodovias de acesso. “No primeiro dia, vai ter uma fila de 5 horas. No segundo, vai ter um monte de carros. No outro, já vai ter menos”, comenta. “Se fizesse essa restrição de movimentação, já surtiria efeito. Mas no transporte público não pode diminuir a frota, porque tem pessoas que precisam trabalhar e, se diminuir a frota, vai ter mais aglomeração no ponto e dentro do transporte.” 

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Raquel sugere também potencializar ações em saúde nos bairros de menor renda, com serviços de ambulâncias mais próximos e tendas de atendimento, por exemplo.

Pesquisa em São Paulo mapeará coronavírus em bairros Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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