Espírito Santo tem duas vezes mais casos de covid-19 que a média do Sudeste

Levantamento do Ministério da Saúde mostra que o Estado tem 1.457 casos confirmados da doença a cada 100 mil habitantes. Média da região Sudeste é de 668

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Por Matheus Brum
Atualização:

VITÓRIA - A técnica de enfermagem Alane Rodrigues Jardim, de 59 anos, trabalhava na Unidade Básica de Saúde de Amarelos, no interior de Guarapari, na Região Metropolitana de Vitória. Em meados de junho, foi infectada pelo novo coronavírus. Cerca de 20 dias depois, ela faleceu em um hospital particular da Serra. “Senti vários sintomas da doença, mas não fiz o teste. Como convivia com a minha mãe, posso ter pegado a doença”, relatou a filha Aline Jardim, de 30 anos. 

Alane faz parte dos 60.009 capixabas que foram contaminados pela covid-19 no Estado. E também representa uma das 1.929 das pessoas atravessadas pela doença. A cada dia que passa, o vírus avança pelo Espírito Santo. E os dados estaduais, no comparativo com os vizinhos do Sudeste, estão acima da média regional.

Técnica de enfermagem Alane Rodrigues Jardim trabalhava na Unidade Básica de Saúde de Amarelos Foto: Arquivo Pessoal

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Segundo o Ministério da Saúde, a região tem 604.912 casos confirmados de covid-19, o que representa uma média de 685 a cada 100 mil habitantes. No Espírito Santo, entretanto, este número mais que dobra: 1.493 pacientes com covid-19 a cada 100 mil capixabas.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) explica que este número decorre da quantidade de testes rápidos e RT-PCR realizados no Estado: 129.306 (3.217 testes a cada 100 mil capixabas). “Também foi feita uma força tarefa para notificar os casos testados em laboratórios particulares”, reforçou a infectologista Rúbia Miossi. 

O Estadão procurou as Secretarias de Saúde dos outros estados que fazem parte da região Sudeste. Em São Paulo foi realizado 1 milhão de testes (2.179 a cada 100 mil paulistas). Em Minas Gerais, foram aplicados 360.038 testes (1.700 a cada 100 mineiros). Já no Rio de Janeiro, a pasta somou 58 mil testes RT-PCR feitos (335 a cada 100 mil cariocas). A Secretaria, no entanto, não informou a quantidade de testes rápidos realizados no Estado.

Analisando o número de vítimas por covid-19, percebe-se que o Espírito Santo também está acima da média regional. São 48 mortes a cada 100 mil habitantes, ante 36 em todo o Sudeste. E o número também mostra como a pandemia está em diferentes estágios dentro do território. São 67 óbitos a cada 100 mil habitantes na Região Metropolitana e 29 a cada 100 mil moradores do Interior.

“O Espírito Santo tem investigado todos os casos de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Então, nosso sistema de vigilância de óbitos é melhor. Outra hipótese é de que o Estado tem mais de 26% das pessoas vivendo na periferia, dividindo banheiro e em instalações irregulares. Do ponto de vista da disseminação da covid-19, é algo que pode ser uma das explicações [para o número]”, explicou a pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ethel Maciel.

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Apesar destes números, a rede de saúde capixaba tem conseguido absorver a demanda. Dos 702 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis exclusivamente para a covid-19 em todo o Estado, 566 estão ocupados (80,63%). Diante do cenário, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, disse em pronunciamento pela internet que a Região Metropolitana estaria entrando num platô, que é quando os casos se estabilizam.

Para Ethel, ainda é cedo para fazer esta afirmação. “O último inquérito sorológico mostrou que apenas 10% da população foi contaminada com a covid-19. Ainda tem 90%, cerca de 3,6 milhões de capixabas, que podem pegar a doença. A tendência é de que continuemos com muitos casos”.

A pesquisadora ressalta que, diante do número de casos e óbitos acima do registrado em estados vizinhos, é preciso desestimular qualquer tipo de trânsito entre as regiões. “Neste momento é importante que as pessoas não se mobilizem entre os estados, pela possibilidade de fazer o vírus se espalhar. É importante que esta mobilização e o turismo seja desincentivado”.

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