O Estado de São Paulo ainda tem 2,2 milhões de pessoas em atraso com a 2ª dose da vacina da covid-19, a maioria (1,2 milhão) na faixa de 12 a 29 anos. Com o avanço rápido da variante Ômicron pelo Brasil, que fez elevar o número de infecções e de mortes, médicos destacam a importância de completar a imunização e autoridades correm atrás dos faltosos. Segundo eles, as lacunas de vacinação ajudam a explicar a alta de hospitalizações e óbitos.
Cerca de 36,1 milhões já tomaram ao menos a 1ª e a 2ª doses no Estado. Especialistas dizem que os motivos para as ausências ainda devem ser alvo de estudo, mas veem influência de fake news e a percepção de parte da população de que a covid agora é uma gripe mais leve. Em grupos menos informados, o desconhecimento sobre a necessidade do retorno também é um problema.
Sobre a 3ª dose, o governo diz que 10 milhões estão aptos para ter o reforço até o fim de fevereiro. E a possibilidade de uma 4ª injeção para todos já é estudada. Para ampliar a cobertura, o Estado diz incentivar municípios a fazer busca ativa (agentes de saúde vão às casas para oferecer a vacina). Citam ainda os dias de mobilização e campanhas de conscientização.
No sábado, foi o Dia C, de incentivo à vacinação infantil. “É importante que os pais aproveitem que estão levando seus filhos e completem o esquema vacinal, tomando a 2ª dose ou o reforço”, disse no sábado, 5, o governador João Doria (PSDB). O Estado ainda faz busca ativa com o envio de SMS para celulares cadastrados nas bases do governo.
Os esforços para reduzir o total de atrasados vêm desde o ano passado. Conforme a secretaria estadual da Saúde, a quantidade era, em novembro, de 4,5 milhões que não tinham retornado ao posto. A pasta destaca que o número caiu pela metade após o trabalho do Estado e dos municípios.
Segundo a Prefeitura, há 409.627 faltosos da 2ª dose na capital, além de 2,6 milhões aptos para receber o reforço (quem recebeu a 2ª dose há quatro meses ou, no caso da Janssen, há dois meses). O Município diz fazer busca ativa e aplicar doses, todo dia, em postos de saúde, duas farmácias na Avenida Paulista e parques.
Para Carlos Magno Fortaleza, infectologista da Unesp, chama a atenção esse ciclo interrompido. “Normalmente, uma pessoa hesitante ou antivacina não toma nenhuma dose. Mas agora acontece diferente.” Ele aponta como possibilidade o grande número de casos leves (a maioria deles entre vacinados com duas ou mais doses) dar a sensação de que o vírus está mais brando.
Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações, diz que muitos não concluem a vacinação por falta de informação, sem saber da necessidade da volta. E alerta para o risco. “Já se sabe que uma pessoa que tomou só uma dose tem risco 20 vezes maior de se hospitalizar do que uma com 3 doses.” Em UTIs covid, que veem recente alta de ocupação, doentes sem vacinação completa e idosos são a maioria.
Pico
No sábado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que o País ainda não chegou ao pico causado pela Ômicron. “Monitoramos a pressão sobre o sistema de saúde, em especial a ocupação de leitos de UTI. Há espaço para abertura de novos leitos e estamos apoiando os Estados sempre que necessário. A atenção primária também tem sido reforçada”, escreveu no Twitter.
Entre o início do ano e o começo deste mês, a alta de mortes foi de 566%. Queiroga disse que alguns Estados já registram queda de casos e espera que isso ocorra no País nas próximas semanas. Destacou ainda a necessidade da 2ª dose ou do reforço para proteção.
Mas o governo federal já estimulou a hesitação vacinal várias vezes, na contramão das entidades científicas. O presidente Jair Bolsonaro sustenta não ter tomado nenhuma dose e critica a exigência de passaporte vacinal em shows, bares e estádios. /COLABOROU EVERTON SYLVESTRE, ESPECIAL PARA O ESTADÃO