Estados já devem iniciar relaxamento da quarentena? Especialistas divergem

Saída da quarentena é um erro, diz professor da USP; infectologista da Unifesp defende isolar só grupos de risco

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Por Renato Vieira
Atualização:

SÃO PAULO - Pelo menos sete Estados e o Distrito Federal afrouxaram as regras de isolamento social antes da semana passada, embora o número de casos do novo coronavírus não tenha chegado ao pico, segundo grande parte dos médicos e gestores da área da saúde. Especialistas ouvidos pelo Estado divergem sobre a possibilidade. 

Para Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, a saída da quarentena é um erro, já que a disseminação da doença não está sendo monitorada adequadamente no Brasil. “Acho temerário fazer esse tipo de argumento sem estar monitorando efetivamente a epidemia. Não estamos monitorando as pessoas que estão se infectando, só as pessoas que estão chegando em estado grave", afirma. Para se falar em relaxamento, deveria ter um modelo para se prever quantas internações vão acontecer e isso não está sendo feito."

SP diminuiu isolamento social e triplicou número de mortes nos últimos 15 dias. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Estudos já mostraram que mais de 80% dos casos de covid-19 são assintomáticos, o que dificulta saber o real espalhamento do vírus pelo território. Outro desafio é fazer um amplo programa de testagens, como a Coreia do Sul, país cuja experiência no combate à pandemia é considerada exitosa. 

Já o infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Paulo Olzon, afirma que a ideia de isolamento para todos foi inadequada desde o início. Ele defende que as pessoas do grupo de risco fiquem resguardadas e aqueles que estão fora voltam às atividades. “Sempre foi assim: afasta quem tem risco e deixa quem não tem risco trabalhar normal. A quarentena é de um tempo que não se tinham outros recursos. Vivemos em uma sociedade diferente hoje”, diz. Para ele, a temperatura do Brasil é um fator importante, já que o vírus pode ter dificuldade em se propagar em clima quente.

O retorno às atividades pode começar a ser discutido, mas com responsabilidade, alerta Eliseu Waldman, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. Ele salienta que é preciso transparência nos dados da doença para que haja saída gradual da quarentena. “Cabe a discussão, mas não é possível improvisar o retorno”. Ele conta que, antes da implementação do relaxamento, é preciso verificar como foram as experiências de fim das restrições em países da Europa. Segundo ele, a China tem cultura diferente e seriam difíceis comparações com a realidade brasileira. 

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