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Estresse, um veneno que pode chegar ao coração

Por Agencia Estado
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Poluição, trânsito, violência e exigências profissionais cada vez mais altas. Não há quem fique imune ao estresse do cotidiano nas grandes cidades. A vida agitada pode causar inúmeros problemas de saúde, como gastrite, úlcera e até doenças cardiovasculares, entre elas enfartes e derrames. "O estresse desencadeia fenômenos prejudiciais ao coração e aos vasos sanguíneos", alerta Carlos Serrano, cardiologista do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (InCor) e diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Além de emocional, esse mal que atinge milhões de pessoas pelo mundo é também um problema físico. Moderadamente, chega a ser inofensivo e acontece com todos - funciona de forma semelhante à situação de luta e fuga em um animal acuado. "Nos seres humanos, essa reação é normal em casos de infecções, por exemplo; o problema é quando ocorre em excesso", explica José Renato das Neves, cardiologista do Hospital Samaritano de São Paulo. Por intermédio dos hormônios adrenalina e cortisol, o estresse exagerado contribui para o aumento da freqüência respiratória, dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e das taxas de colesterol, de glicemia e de triglicérides, além de causar tremor, palidez e maior estresse sobre vasos sanguíneos. Associado a outros fatores, como fumo, alimentação desequilibrada e problemas de pressão, esse mal pode ser ainda pior. A baixa qualidade de vida é um de seus grandes causadores. Falta de tempo para realizar as refeições corretamente e até para ter um sono adequado - período em que nos recuperamos e serve como uma válvula de escape. É também cada vez mais comum trabalhar em ambientes extremamente competitivos e em horários inadequados. Algumas profissões são mais estressantes por natureza, como a de policial, bombeiro e médicos de emergência, e estas pessoas precisam sempre passar por monitoramento e acompanhamento psicológico. O estresse, porém, não é exclusividade destes profissionais. "Pessoas que têm empregos com alta demanda de tarefas e pouco controle sobre como elas serão realizadas também estão mais propensas a desenvolver doenças cardíacas e outros problemas de saúde física e mental", afirma Redford Williams, diretor do centro de pesquisa em medicina comportamental do Duke University Medical Center, nos Estados Unidos, que concedeu entrevista à reportagem por telefone. Segundo Willians, esses efeitos começam a se manifestar no início da idade adulta. "Há um estudo que mostra que as pessoas com tendência à raiva na idade de 22 anos são de 3 a 4 vezes mais propensas a desenvolver doenças cardíacas e 6 vezes mais propensas a morrer por qualquer causa nos 20 anos seguintes", diz. Outra fonte de tensão são as situações inesperadas, como problemas financeiros e de saúde na família. "Trabalhei por 33 anos na mesma empresa", conta o engenheiro químico João José Donofre, de 61 anos, morador de São Bernardo do Campo, na região da Grande São Paulo. "Tinha uma condição de vida que me permitia pagar plano de saúde, faculdade para meus dois filhos e até para um amigo deles, cujo pai havia perdido o emprego", diz ele. "Um dia, percebi que era apenas um número e fui demitido, passando a acumular dívidas. Diante desses problemas, associados à perda de patrimônio e ao fato de eu fumar por 51 anos, tive um enfarte e fiquei 12 dias na UTI." O estresse, em qualquer situação, depende (e muito) da personalidade. Nem todos que têm a mesma profissão reagem da mesma forma e têm o mesmo nível de estresse, da mesma forma que algumas pessoas lidam com muito mais angústia quando o assunto são os relacionamentos amorosos. "Estudos comprovam que algumas pessoas, do ponto de vista psicológico, têm manifestações de maior agressividade ao lidar com o dia-a-dia e, por estarem predispostas a situações de estresse, têm maior chance de viver problemas cardiovasculares", afirma Bráulio Luna Filho, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). "Por sua vez, alguns se submetem a situações estressantes com mais conforto." "As pessoas precisam trabalhar e ganhar dinheiro para o sustento o que leva a momentos estressantes, difíceis de serem evitados" acredita Redford Williams, do Duke University Medical Center. "Pode ser muito útil para elas aprender práticas de controle do estresse diário", defende Williams que, em parceria com a esposa Virginia Williams, desenvolveu o LifeSkills, programa baseado em seminários que tem como objetivo fortalecer o indivíduo. Equilíbrio - A idéia é reduzir fatores como ansiedade, depressão, hostilidade e isolamento social, assim como aumentar a auto-estima e equilíbrio pessoal. São aulas teórico-práticas, com recursos de vídeo e simulação de situações, que ensinam estratégias para lidar com o estresse, seja lidando com os problemas, seja aprendendo a relaxar através de algumas técnicas, inclusive meditação. "O importante é saber quando vale a pena agir", defende o neurologista Alexandre Ghelman, responsável pelo programa no Brasil (www.interativasaude.com.br). "É um programa recomendado para todas as pessoas que querem desenvolver competências emocionais", afirma. Atualmente o LifeSkills é aplicado em empresas e para grupos de pessoas interessadas em aprender a lidar melhor com o estresse. Procurar ajuda na terapia é sempre um bom caminho. Afinal, o psicólogo ou o psiquiatra são capazes de definir se o diagnóstico realmente é de estresse ou se há também alguma patologia como depressão. Também é importante pensar em providências práticas. Se a principal causa do estresse pessoal for a violência, o indivíduo deve se afastar de situações que o exponham a ela. Além disso, é importante manter a qualidade de vida por meio de bom sono, refeições adequadas e balanceadas, prática de atividades físicas e períodos de relaxamento. "Parei de fumar e hoje estou bem melhor", relata Donofre. "Encaro a vida de uma maneira diferente, aceitando melhor as coisas", complementa. "Percebi que é preciso dar importância para as pequenas coisas e ignorar as grandes. Não é uma tarefa muito fácil, mas vou levando."

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