Estudo com macacos mostra efeito precoce de antiviral remdesivir contra o coronavírus

Pesquisa americana publicada na revista Nature aponta que remédio foi capaz de reduzir carga viral e evitar danos aos pulmões dos animais

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Por Giovana Girardi
Atualização:

SÃO PAULO - O remdesivir, um dos remédios que vêm sendo testados contra o novo coronavírus e que já trouxe alguns resultados promissores, foi capaz de reduzir a carga viral e evitar danos aos pulmões de macacos infectados com o Sars-CoV-2, o agente causador da covid-19.

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É o que mostra um estudo americano publicado nesta terça-feira, 9, na revista Nature. A publicação informa que o processo de publicação foi mais acelerado, mas que o artigo passou pela revisão por pares.

A pesquisa avaliou os efeitos da droga em dois grupos de seis macacos resus infectados apenas 12 horas antes com o vírus – é nesse período que ocorre o pico de replicação do vírus nos pulmões dos animais.

A ideia era checar se um uso precoce do remédio poderia ser eficaz contra a doença. Um dos grupos recebeu a droga 12 horas após a inoculação e depois a cada 24 horas, por seis dias. 

Frasco do antiviral remdesivir mostrado durante coletiva de imprensa sobreestudo com o remédio em pacientesgraves no Hospital Universitário Eppendorfem Hamburgo, norte da Alemanha. Foto: Ulrich Perrey/POOL/AFP

Os macacos que receberam o tratamento não mostraram sinais de doença respiratória e tiveram uma redução nas infiltrações pulmonares observadas em radiografias, na comparação com aqueles que receberam um placebo.

As cargas virais no trato respiratório inferior dos animais tratados eram cerca de 100 vezes mais baixos do que no grupo controle. Após três dias de tratamento, o vírus já não pôde mais ser detectado, mas ainda era detectável em quatro dos seis animais que não receberam o remédio. 

Não houve impacto, porém, no chamado “derramamento viral”, o que indica que a melhora clínica pode não corresponder à falta de infecciosidade.

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A equipe, liderada por Emmie de Wit, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, fez depois necropsias nos animais e observou que as cargas virais nos pulmões do grupo tratado com remdesivir eram mais baixas e houve uma redução no dano aos pulmões. 

Apesar de o modelo animal contaminado com o Sars-CoV-2 desenvolver uma doença de leve a moderada, sem a gravidade observada em pacientes com a covid-19, os pesquisadores indicam que os resultados apoiam o início precoce do tratamento com remdesivir em pacientes com covid-19 como forma de prevenir uma progressão para pneumonia.

O remdesivir é um remédio antiviral que já está sendo testado em ensaios clínicos com humanos contra o coronavírus após ter demonstrado eficácia contra infecções por SARS-CoV e MERS-CoV em modelos animais e ter inibido a replicação do vírus in vitro. A droga está incluída no ensaio clínico global Solidariedade, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que avalia a eficácia de cinco drogas contra a doença.

Um teste conduzido pelo pesquisador brasileiro André Kalil, na Universidade de Nebraska, mostrou, em resultados preliminares da fase 1, que pacientes que tomaram o remdesivir se recuperaram quatro dias antes daqueles que receberam placebo. A FDA, agência de regulação de drogas dos Estados Unidos, concedeu uma autorização para uso de emergência da droga.

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