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Estudo da OMS define novo padrão de peso de crianças

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma tese que durante anos reinou sozinha, a de que estatura e peso de crianças variava de acordo com países onde elas nasciam, caiu por terra ontem, com a divulgação de um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Feito no Brasil, Gana, Índia, Noruega, Omã e Estados Unidos, o trabalho acompanhou o desenvolvimento de 8 mil crianças, entre 0 e 5 anos, para traçar uma curva de desenvolvimento - aquela tabela usada por pediatras para saber se a criança cresce e ganha peso adequadamente. A análise mostrou que, se os bebês recebem condições saudáveis, todos têm o mesmo desenvolvimento, independentemente da geografia. "Houve uma pequena variação de estatura de crianças norueguesas, mas pouco significativo", disse o pesquisador César G. Victora, responsável pelo estudo no Brasil. Foram avaliadas crianças de mesmo perfil: filhos de mães não-fumantes, com renda superior ao equivalente a seis salários mínimos no País, acesso a serviços de saúde, vacinação e alimentadas até 6 meses predominantemente com leite materno. Gêmeos e prematuros foram excluídos. Para a diretora do departamento de Nutrição da OMS, Denise Coitinho, a similaridade do desenvolvimento foi um dos maiores avanços do estudo, iniciado há sete anos. "Foi definido um padrão saudável. Toda criança tem direito a um desenvolvimento como esse e, se a meta não é atingida, cabe aos governos traçar políticas públicas para alcançar o padrão", afirmou Denise. O empenho em criar um padrão se justifica. Desde 1977, o mundo se baseava numa curva preparada pelo centro americano de estatísticas de saúde (NCHS na sigla em inglês). "Era o menos ruim. A comunidade sabia que não correspondia a padrões internacionais", conta Victora. A adoção da curva trazia até um problema colateral: o desestímulo ao aleitamento materno. Isso porque, depois do quarto mês, a tabela do NCHS preconizava um crescimento e ganho de peso maior do que o conquistado por crianças alimentadas com leite materno. "As mulheres acabavam sendo induzidas a colocar novos alimentos na dieta do bebê." A própria Denise conta que recebeu a recomendação do pediatras de seus filhos. "Mantive o aleitamento porque estava convicta da importância do leite materno e sabia que a curva não era o padrão ideal. Mas não é o que ocorre com a maioria das mulheres." As curvas lançadas ontem trazem uma série de metas: peso, comprimento, altura e índice de massa corporal para cada idade. Também fala do desenvolvimento motor: como a idade para sentar, levantar e caminhar. Tudo diferente do adotado hoje. "Para fazer a curva antiga, foram avaliadas crianças mais pesadas, poucas alimentadas com leite materno", afirma Victora. Mais Leves - Os reflexos são óbvios. Pela nova tabela, o padrão normal é mais longilíneo. Portanto, há um número maior de crianças obesas. "Cálculos iniciais mostram que o índice de obesidade deve aumentar cerca de 20%", diz Denise. "São crianças hoje consideradas normais que, com o novo padrão, passam para outra categoria." A OMS estima que ao menos 20 milhões de crianças são obesas. Os índices de desnutrição severa também devem aumentar. Estatísticas indicam que há no mundo 170 milhões de crianças abaixo do peso. Todos os anos 3 milhões delas morrem de desnutrição. As reações ao lançamento da curva já começaram. A sociedade internacional de pediatras referendou a nova tabela e recomendou sua adoção por profissionais. Sabendo que padrões de obesidade agora serão alterados, até mesmo a indústria de alimentos substitutos do leite materno já se manifestou. Em comunicado, disse aprovar o novo estudo e, se necessário, que vai reformular a composição de seus produtos. A aplicação da tabela no serviço público brasileiro deverá ocorrer só depois de 2007. Antes disso, equipes passarão por treinamento, será necessário mudar o formato da caderneta, deixar espaço para anotações dos agentes de saúde, e definir se o padrão valerá somente para recém-nascidos ou se haverá uma adaptação. As estatísticas também precisarão ser revistas para fazer comparações anuais. "Não é tarefa para um dia. Mas o importante é que, a partir de agora, há um novo padrão: o normal é criança amamentada com leite materno", afirma Victora.

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