Estudo expõe dificuldade após perda de peso

Pesquisadores australianos descobriram que as alterações no metabolismo e nos níveis hormonais da maioria dos obesos não persistem a longo prazo

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Por Gina Kolata
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Um estudo, publicado pela revista The New England Journal of Medicine, tentou desvendar um mistério que sempre incomodou endocrinologistas: por que é tão difícil perder peso e mantê-lo. Os resultados dividiram os especialistas.

Durante anos, os estudos de obesidade revelaram que pouco depois de pessoas gordas perderem peso, seu metabolismo desacelerava e elas experimentavam mudanças hormonais que aumentavam seu apetite. Alguns pesquisadores acreditavam que essas mudanças biológicas podiam explicar por que a maioria dos obesos que faziam dietas recuperava boa parte do que havia perdido com tanto esforço. Agora, porém, um grupo de pesquisadores australianos tentou ver se as alterações persistem a longo prazo. Eles recrutaram pessoas que ou estavam acima do peso ou eram obesas e as colocaram numa dieta altamente restritiva que as fez perder pelo menos 10% de seu peso corporal. Eles as mantiveram, então, numa dieta para conservar essa perda de peso. Um ano depois, os pesquisadores descobriram que o metabolismo e os níveis hormonais dos participantes não tinham voltado aos níveis de antes. O levantamento é pequeno, mas confirma as convicções sobre por que é tão difícil perder peso e mantê-lo, dizem pesquisadores que não estiveram envolvidos no estudo. Eles advertiram que o estudo envolveu somente 50 participantes, e 16 deles abandonaram ou não perderam os requeridos 10% de peso corporal. E embora os hormônios estudados tenham uma conexão lógica com o ganho de peso, os pesquisadores não mostraram que os hormônios estavam fazendo os participantes recuperarem seu peso. No entanto, disse Rudolph Leibel, um pesquisador da obesidade da Universidade Columbia, embora não surpreenda que os níveis hormonais se alteraram pouco depois de os participantes perderem peso, o “impressionante é que essas mudanças não desaparecem”. Stephen Bloom, um pesquisador de obesidade no Hammersmith Hospital em Londres, disse que o estudo teria de ser repetido sob condições mais rigorosas, mas acrescentou: “Ele está mostrando algo no qual acredito profundamente - é muito difícil perder peso”. E a razão, prosseguiu, é que “nossos hormônios trabalham contra nós”. Apetite. No estudo, Joseph Proietto e seus colegas da Universidade de Melbourne recrutaram pessoas que pesavam, em média, 95 quilos. No começo da pesquisa, sua equipe mediu os níveis hormonais dos participantes e avaliou sua fome e apetite depois que eles comiam um ovo cozido, torrada, margarina, suco de laranja e biscoitos no café da manhã. Os fazedores da dieta passaram em seguida dez semanas num regime de pouquíssimas calorias, 500 a 550 por dia, para fazê-los perder 10% de seu peso corporal. Aliás, o peso caiu, em média, 14%, ou cerca de 13 quilos. Como era esperado, seus níveis hormonais se alteraram de uma maneira que aumentou o apetite e, de fato, eles ficavam mais famintos do que quando começaram o estudo. Eles receberam dietas cuja intenção era manter sua perda de peso. Um ano depois que os participantes haviam perdido o peso, os pesquisadores repetiram suas medições. Eles foram recuperando o peso, apesar da dieta de manutenção - recuperando, em média, metade do que haviam perdido - e os níveis hormonais ofereciam uma possível explicação. A quantidade de um hormônio, a leptina, que diz ao cérebro quanta gordura corporal está presente, caiu dois terços imediatamente depois de os sujeitos perderem peso. Quando o nível de leptina cai, o apetite aumenta e o metabolismo desacelera. Um ano após a dieta de perda de peso, os níveis de leptina ainda estavam um terço mais baixos do que no início do estudo, e aumentaram à medida que os participantes recuperavam seu peso. “Um enorme esforço para persuadir o público a alterar seus hábitos simplesmente não evitou nem curou a obesidade”, conclui Liebel. “Condenar o público por seu hedonismo incontrolável e a indústria alimentar por suas iniquidades não parece estar fazendo a maré virar.” Drogas para gordos que perderam peso pode ser opção Para Rudolph Leibel, da Universidade Columbia, os resultados mostram que a perda de peso “não é um evento neutro” – o que explica por que mais de 90% das pessoas que perdem muito peso o recuperam. “Ela está colocando seu corpo numa circunstância a que ele resistirá”, diz. “Ou seja, ela é mais metabolicamente normal quando está com um peso corporal mais alto.” Uma solução poderia ser restaurar os níveis normais dos hormônios dando drogas após os gordos perderem peso. Jules Hirsch, da Universidade Rockefeller, é sincero; “Talvez a gente não conheça o suficiente para prescrever soluções”. ** TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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