Estudo vê avaliação física para Aids quase igual a exames

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Por STE
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Os paciente de Aids em países pobres que buscam por sinais de agravamento de seu estado, tais como febre e perda de peso, tendem a ter a mesma taxa de sobrevivência que os pacientes de países ricos que se submetem a dispendiosos exames laboratoriais, afirmaram pesquisadores na sexta-feira. A observação clínica dos sintomas mostra-se quase tão eficiente quanto a análise laboratorial, quando se trata de decidir sobre o momento de mudar de uma primeira linha de remédios para uma segunda linha se o vírus começar a dar sinais de resistência, revelou um estudo divulgado pela revista médica Lancet. Os médicos de países pobres, em especial os da África, costumam valer-se apenas de sinais físicos para acompanhar o progresso dessa doença mortal em seus pacientes. Há cerca de 2 milhões de pessoas contaminadas pelo HIV (vírus da Aids) em países em desenvolvimento que tomam remédios anti-retrovirais. Um pequeno número desses pacientes tem acesso a testes caros a fim de avaliar a situação de seu sistema imunológico por meio da medição da presença do vírus na corrente sanguínea ou da contagem do número de células do sistema imunológico chamadas CD4 T-, procedimentos padrão nos países desenvolvidos. A contaminação pelo HIV é incurável, mas coquetéis de remédios podem manter os pacientes vivos e saudáveis. Esse tipo de tratamento costuma ser administrado dependendo do estado da infecção. O estudo sugere que não há problema em realizar essas avaliações com base na saúde do paciente e não com base em dispendiosos testes de sangue. "Nossos resultados sugerem que a utilização da terapia anti-retroviral sem o monitoramento da carga viral ou da contagem de células CD4 não diminuiu a sobrevivência dos pacientes e tampouco significaram o aparecimento de resistência", escreveram os pesquisadores. O acesso aos remédios de combate à Aids deveria ser ampliado o quanto antes em todas as regiões atingidas pela epidemia, afirmaram. "A falta de acesso a um monitoramento laboratorial não deveria prejudicar esse processo." MÉDICOS TRANQUILIZADOS A equipe de cientistas, liderada por Andrew Philipps, da Universidade College de Londres, incluiu entre seus membros Charles Gilks, coordenador para o tratamento anti-retroviral e combate à Aids junto à Organização Mundial da Saúde (OMS). "Os resultados desse estudo deveriam tranquilizar os médicos na África e na Ásia que tratam literalmente milhões de pessoas sem esses testes laboratoriais. Esses médicos deveriam ter a certeza de que não estão comprometendo a saúde de seus pacientes", afirmou Gilks em um comunicado divulgado pela OMS. "Na verdade, o resultado do tratamento deles é quase tão bom quanto o de pacientes na Grã-Bretanha e na Europa continental, onde o tratamento pautado pelos resultados laboratoriais é a norma", acrescentou. A Aids já matou 25 milhões de pessoas no mundo todo e atualmente contamina outros 33 milhões. O estudo, publicado na revista Lancet, baseou-se em projeções matemáticas realizadas por meio de modelos de simulação em computadores para a infecção por HIV, e não em dados de pacientes reais. A projeção da porcentagem de doentes que sobreviveriam durante um período de cinco anos acabou revelando-se mais ou menos a mesma nos três casos -- 83 por cento para os pacientes que usaram o monitoramento da carga viral, 82 por cento para os que usaram a contagem de células CD4 e 82 por cento para os que usaram o monitoramento clínico. Ao longo de um período de 20 anos, as taxas de sobrevivência para esses três métodos ficaram em 67, 64 e 64 por cento, respectivamente. A OMS, uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU), esforça-se para garantir que todos os 7 milhões de portadores do HIV em países de baixa e média renda tenham acesso aos remédios anti-retrovirais. No Brasil, o governo distribui gratuitamente os medicamentos. "Não estamos dizendo que os médicos não devam realizar os testes, pois esses ajudam, obviamente. Mas, se um médico não tem como realizá-los, a prioridade continua sendo distribuir os remédios", afirmou Gilks à Reuters. "Os remédios são a coisa mais importante porque sem eles as pessoas morrem, não há escapatória."

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