
04 de agosto de 2011 | 09h24
WASHINGTON - As cheias nos rios, acompanhadas de um aumento dos nutrientes e das algas no oceano, estão vinculadas às epidemias de cólera, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene.
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Os resultados do estudo, liderado pelo cientista Shafiqul Islam, podem ajudar os cientistas a elaborar um sistema de alarmes com vários meses de antecedência para mobilizar recursos e, assim, diminuir o impacto das epidemias de cólera em regiões pobres.
"O plâncton e a cólera estão relacionados (...) A cólera aumenta quando há um aumento dos nutrientes (que alimentam o plâncton) que fluem ao estuário", disse Islam, em entrevista por telefone.
"Esperamos que estudos como este nos ajudem a elaborar um sistema de detecção precoce e a fazer prognósticos com pelo menos dois ou três meses de antecedência. Isso nos ajudará a mobilizar pessoal e recursos antes que haja surtos de cólera", explicou o cientista.
O estudo começou na baía de Bengal, onde os especialistas analisaram 12 anos de dados, incluindo imagens de satélite da Nasa (agência espacial americana) e os grandes caudais dos rios Ganges, Brahmaputra e Meghna, que desembocam no delta de Bengal.
Ali, os cientistas determinaram que os caudais desses rios, que acarretavam nutrientes do solo, eram a causa do florescimento ou boom no fitoplâncton.
Esse aumento de fitoplâncton, por sua vez, foi seguido de um aumento do zooplâncton, que foi vinculado à bactéria da cólera, "Vibrio cholerae", que vive e se multiplica entre os dois tipos de plâncton em águas salubres, onde o rio desemboca no mar, explicou Islam.
Ele disse que, para comprovar a hipótese, sua equipe ampliou o estudo às águas dos rios Orinoco e Amazonas, na América do Sul, e no Congo. Segundo Islam, os especialistas constataram "o mesmo fenômeno".
"Os processos físicos foram os mesmos. A beleza disso é que não necessitamos analisar uma enorme quantidade de dados", enfatizou Islam, professor da Faculdade de Engenharia Ambiental e Civil da Universidade Tufts em Medford (Massachusetts, EUA).
Segundo ele, o estudo também deixou manifesto que, ao contrário do que se achava até agora, os fatores relacionados ao aquecimento global - como um aumento nas temperaturas da superfície do mar - não conduzem diretamente a um aumento dos surtos de cólera.
No entanto, o aquecimento global sim poderia exercer um papel indireto significativo, ao contribuir para condições muito extremas, como a seca e altos níveis de salinidade e inundações, que podem elevar os surtos da cólera, explicou o especialista.
Nos últimos nove meses, uma epidemia de cólera no Congo já deixou centenas de mortos e mais de 100 mil infectados, informou o mês passado a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Normalmente, os surtos da doença ocorrem uma vez por ano na África e na América Latina, embora em Bangladesh (Sul da Ásia) surjam na primavera e no outono.
Islam liderou outro estudo em 2009 que sugeriu uma conexão entre a cólera e os níveis flutuantes no Ganges, Brahmaputra e Meghna.
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