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‘Eu lidei muito bem psicologicamente com o câncer’

Em 2015, a apresentadora e cantora Sabrina Parlatore, 46 anos, foi diagnosticada com tumor na mama. Seis anos depois, ela conta a sua experiência

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Por Redação
Atualização:

Como você descobriu o câncer?

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Desde os 20 e poucos anos, eu ia ao ginecologista uma vez por ano e fazia os exames indicados, que na época era o ultrassom de mama. A partir dos 35, comecei a fazer mamografia também. Em 2014, o tumor apareceu no ultrassom, mas não na mamografia. O médico vacilou e não pediu biópsia, embora houvesse indicação. Depois de uns meses, eu senti um caroço na mama esquerda. Na hora, nem me lembrei daquele exame. Fui a um mastologista e, quando ele viu meu ultrassom e mamografia, já ficou de cabelo em pé. Ele pediu uma biópsia e o resultado veio: câncer de mama do subtipo triplo-negativo.

Como foi receber o diagnóstico?

Pela expressão do médico ao ver os exames, eu já tinha sentido que era sério. Demorou seis dias para sair o resultado da biópsia, e eu fui trabalhando aquilo na minha cabeça. Mesmo assim, quando ele me contou que era maligno, parece que o chão se abriu e eu caí num buraco. Fiquei totalmente aérea e assustada. A minha primeira pergunta foi sobre a gravidade da situação. Ele me tranquilizou dizendo que era um tumor inicial, pelo tamanho. Explicou que tinha cura e traramento. Depois disso, o dia a dia ficou tão intenso de informações e exames, que eu fui diluindo o impacto aos poucos. Foquei na solução e pensei: eu preciso ficar otimista. Eu lidei muito bem psicologicamente com tudo.

O que fez, então?

Antes de decidir o tratamento, eu procurei mais dois profissionais, porque eu acho sempre bom ouvir outras opiniões. Os médicos diferem sobre o protocolo de tratamento, por isso é legal ver qual deles te deixa mais segura. Um médico propôs uma cirurgia muito mais radical do que a que eu fiz. Tem que avaliar muito, pesquisar, olhar o currículo dos profissionais e ouvir opiniões sobre ele.

Como foi o tratamento?

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Fiz uma cirurgia e tirei só um quadrante da mama esquerda, com o tumor e uma margem de segurança em volta. O médico fez uma incisão de uns 2 centímetros na auréola, que hoje é invisível. Meu seio não mudou nada, nem precisou de silicone. Eu fiquei muito feliz. Depois vieram 16 sessões de quimioterapia, a parte mais arrasadora. A gente ouve falar mais da queda do cabelo e do enjoo, mas os efeitos colaterais vão muito além, são pelo menos 50 sintomas. A químio não difere células saudáveis e ruins, ela mata todas aquelas com característica de reprodução acelerada. Tem que tomar uma série de providências para evitar mais sintomas ainda. Eu tinha muita enxaqueca e sentia aversão a cheiros. A pele ficou muito fina e os meus cremes para o corpo eram específicos para pacientes oncológicos. Ainda fiz 33 sessões de radioterapia.

Por que você decidiu tornar público o seu diagnóstico depois do tratamento?

Durante o tratamento, eu achava que nunca ia falar pra ninguém, porque era algo muito pessoal. Naquele momento, era muito difícil expor uma história, sem nem saber direito o que estava acontecendo. Eu me sentia mal, não conseguia sair na rua. É óbvio que cada um lida de uma forma. Há pessoas que, ao contrário, preferem dividir a dor. Mas eu sou conhecida, sabia que teria que lidar com uma avalanche de pessoas me procurando e que isso ia demandar muita energia. Só que, durante o tratamento, comecei a sentir necessidade de trocar informações com outras pacientes. Pelas redes sociais, comecei a me corresponder com muitas mulheres dentro e fora do Brasil. Li livros de pacientes que passaram por isso, me tornei amiga dessas autoras. Essa troca foi muito enriquecedora, porque eu me senti acolhida e percebi que os meus sentimentos eram normais. Comecei a amadurecer a ideia de contar a minha história, porque, se eu falasse publicamente, poderia ajudar muita gente. Foi o que de fato aconteceu. Só esperei o tratamento acabar para eu me recuperar um pouco do tranco, porque foi um atropelamento. Depois de poucos meses, eu contei a história. 

Você ficou com sequelas?

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Eu levei uns 2 anos para sentir o meu corpo normal, sem dor nas articulações e sem inchaço por corticoide. Até hoje eu tenho umas sequelas, como uma dor no ombro e um cansaço. O tratamento mexeu muito com a parte hormonal também. Fiquei sem menstruar por muito tempo. Hoje, o ciclo é superirregular e estou praticamente na menopausa.

Hoje você está curada?

Falar de cura é relativo. Eu poderia dizer que estava curada 15 dias depois do diagnóstico, quando retirei o tumor na cirurgia. Na minha cabeça, eu estava. O meu caso se tratou de um tumor inicial de mama, com mais de 95% de cura. Mas a doença não é matemática, não tem a garantia de que nunca mais eu terei câncer, nem eu, nem ninguém. Eu serei eternamente uma paciente oncológica, porque tenho que fazer acompanhamento a vida inteira. Faz seis anos que eu faço exames e, graças a Deus, está tudo ótimo.

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O você acha importante que as pessoas saibam sobre o câncer de mama?

As pessoas ficam muito assustadas com a palavra câncer, mas existem milhares de casos. Quando a gente fala do câncer de mama, a grande maioria se cura. Por isso a gente fica em cima para as mulheres fazerem acompanhamento médico e, se for o caso, pegar a doença no início. O problema é quando o diagnóstico é tardio. Há mulheres que, por medo, preferem não ir ao médico. Agora, se você for fazer o exame todo ano, você salva a sua vida.

“Quando ele me contou que era maligno, parece que o chão se abriu e eu cai em um buraco. Fiquei totalmente aérea e assustada”

“Durante o tratamento, comecei a sentir necessidade de trocar informações com outras pacientes e passei a me corresponder”

Onde buscar informações confiáveis sobre a doença

Há muita notícia falsa sobre o câncer na internet. Acessar fontes de qualidade é fundamental para não cair em ciladas

Oncoguia - http://www.oncoguia.org.br/

Criada com o objetivo de ajudar a pessoa com diagnóstico de câncer a viver melhor, a ONG tornou-se também um portal informativo sobre a doença para pacientes, seus familiares e público em geral. Tem um canal de atendimento nacional e gratuito: 08007731666.

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Inca  - https://www.inca.gov.br

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O Instituto Nacional de Câncer é o órgão auxiliar do Ministério da Saúde para desenvolver ações de prevenção e o controle da doença no Brasil. No site, o usuário encontra estatísticas e informações sobre fatores de risco e prevenção para cada tipo de câncer.

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Casa Paliativa - Instagram: @casapaliativa

Perfil dedicado a desmistificar o conceito de cuidados paliativos e transformar a finitude em uma ferramenta de autoconhecimento. No Facebook (https://www.facebook.com/groups/casapaliativa), o grupo recebe pacientes com doenças graves, além de seus cuidadores, que podem se beneficiar dos cuidados paliativos.

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Vencer o Câncer - https://vencerocancer.org.br/

A fundação sem fins lucrativos tem como objetivo informar, apoiar e acolher pacientes e familiares diante do diagnóstico e tratamento do câncer. Para a população em geral, fornece informações relacionadas a prevenção, alimentação, atividade física, direitos dos pacientes e medicina integrativa.

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