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'Passei a gravidez com o câncer e não sabia', diz Talissa Gurita

Durante a amamentação de seu bebê de 2 meses, a analista de sistemas descobriu um câncer de mama. Hoje ela ajuda outras mulheres que receberam o mesmo diagnóstico

Foto do author Ana Lourenço
Por Ana Lourenço
Atualização:
Talissa passou a gravidez de Isabela com câncer, sem saber. 'A amamentação me salvou' Foto: Cristina Marim

Aos 38 anos, a analista de sistemas Talissa Gurita descobriu que estava com câncer de mama. E descobriu durante a amamentação: “Foi tentando tirar leite que percebi. Não tive nenhum sintoma. Pode até ser que o meu corpo tenha me dado alguns sinais como cansaço, tontura, dor de cabeça, mas até então você acha que é do dia a dia”, lembra. “Eu passei a gravidez com o câncer e não sabia.” A força para enfrentar a doença veio da família e dos amigos. “Quando eu postei no Instagram minha foto carequinha, veio uma torcida gigante e esse negócio me contagiou.”. Assim, ela decidiu retribuir o apoio dando força para outras mulheres que passam pelo mesmo. “Quase todo dia aparece alguém lá e fico triste por isso, mas fico feliz por ajudar com a minha história.”

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Tudo começou em 2019, antes de Talissa engravidar de Isabela, hoje com 1 ano. Mãe também de Manuela, de 5, ela conta que sempre fazia exames anuais de mamografia e ultrassonografia por causa da prótese de silicone, que havia colocado anos antes. Mas não tinha o hábito de se tocar, fazer o autoexame. Na época, o médico que a examinou ficou em dúvida quanto a um possível nódulo, mas só sugeriu a ela que fizesse a mamografia antes dos 40 anos. Um mês depois, ela estava grávida.

“A amamentação me salvou. Foi tentando tirar leite que eu percebi, porque não tive nenhum sintoma”, lembra. “Eu passei grávida com o câncer e não sabia. Ainda bem que eu não descobri na gravidez, porque ia mexer com tudo, principalmente com a cabeça.” O nódulo, que havia sido classificado como “despreocupante” pelo médico em 2019 havia aumentado mais de 2,5 cm. “Ficou aquele silêncio na sala e o tempo passava, passava e eu ia ficando mais nervosa. Até que o médico falou: ‘Silicone não aumenta, Talissa’”, conta. “Aí eu já sabia.”

O carcinoma do tipo HER2+ não era genético (apesar de sua mãe e de seu avô materno terem falecido de câncer) nem hormonal – uma ótima notícia, pois se respondesse à progesterona, durante a gravidez, essa história poderia ser uma tragédia. “Eu pensava: minha mãe passou por isso, eu vou ter de passar também? E apenas três anos depois, algo muito recente. Eu acho que foi uma revanche contra essa doença.” 

Claro que a força para enfrentar tudo isso não veio da noite para o dia. O primeiro mês após o diagnóstico ela descreve como um dos piores de sua vida. “Estava com uma bebê de dois meses, mas não tinha força para nada”, diz. O ‘chacoalhão’ veio do marido, Marcelo. “Uma noite ele virou pra mim e falou ‘como você quer enfrentar isso aí? Porque isso vai acabar. Você vai fazer o tratamento e vai passar. E aí, como você quer contar essa história?’”, conta. E, para demonstrar apoio, ele também raspou a cabeça.

Depois disso, Talissa enfrentou seis sessões de quimioterapia (a última foi em fevereiro), uma cirurgia de mastectomia bilateral, tratamento com medicação venosa e com injeções a cada 21 dias (Herceptin e Prejeta), que acabam em dezembro. Tudo isso com um sorriso no rosto e garantindo a despreocupação das filhas. “Quando você vira mãe, você tira força de não sei onde.” Para Manuela, ela dizia que o dia das químios era “o dia do sorinho”. “Eu nunca sentei e conversei com ela, sabe? Ela foi entendendo tudo.”

NAS REDES. O apoio veio também das redes sociais – que, agora, ela devolve em forma de dicas e bate-papos. “Acho que todas as mulheres que descobrem um câncer querem ver quem passou por isso, quem sobreviveu. Eu fiz isso, eu as procurei e fui acolhida. E, agora, o jogo virou. Quase todo dia aparece alguém lá (no perfil do Instagram) e fico triste por isso, mas feliz por ajudar com a minha história. Só uma foto feliz com as minhas filhas e elas (seguidoras) já respiram aliviadas”, diz.

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Hoje, já com cabelo, ela diz sentir falta da careca algumas vezes. E diz que se cuida mais. “Antes do câncer, minha vida era supercorrida. Saía às 7h e voltava às 19h, não olhava muito pra mim. A prioridade era o trabalho. Eu estava viajando a trabalho quando minha mãe morreu. Desmarquei médico por conta de reunião... Isso nunca mais vai acontecer”, garante. “A prioridade é o tempo com as minhas filhas, com a minha família. As pequenas coisas.”

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