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Falta de oxigênio mata ao menos 24 pacientes em cidades do interior do Amazonas e do Pará

Cidades sofrem com falta de insumos e dificuldade de transferir doentes; prefeitura de Coari relata sete óbitos e culta atraso do Estado no envio de cilindros

Por Liege Albuquerque , Vinicius Lima e Danielle Ferreira
Atualização:

MANAUS E BELÉM - Ao menos seis pessoas da mesma família morreram por asfixia na cidade de Faro, Pará, de segunda-feira, 18, para terça-feira, 19. A realidade no local, de 12 mil habitantes, é de colapso na rede da saúde com a falta de oxigênio para pacientes da covid-19. O município fica na divisa com o Amazonas, Estado que ainda não resolveu a crise de abastecimento do insumo, que se estende há pelo menos 13 dias. Na última semana, outras 18 pessoas morreram asfixiadas em três cidades amazonenses, conforme governos locais e o Ministério Público. Balanços extraoficiais de prefeituras e médicos apontam um total de 35 óbitos. 

Em Faro, a situação mais preocupante é na comunidade de Nova Maracanã, onde havia nesta terça 34 hospitalizados. A prefeitura pede ajuda para transferir oito doentes em estado grave e com urgência de UTI. A falta de estrutura também atinge as cidades vizinhas de Terra Santa (PA) e Nhamundá (AM).

Situação preocupa no município de Faro, no Pará. Prefeitura pediu ajuda para transferir oito pacientes grave Foto: Prefeitura de Faro

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Na manhã desta terça-feira, o prefeito de Faro, Paulo Carvalho, conseguiu comprar 20 balas de oxigênio de Santarém (PA). Faro também costuma comprar suprimentos em Manaus. “Ambas as cidades estão em crise. A demanda é maior que a quantidade, porque a produção está comprometida”, diz, referindo-se à crise na empresa White Martins, fornecedora de oxigênio hospitalar no oeste do Pará.

Prevendo alta de infecções, a prefeitura de Faro aumentou o total de leitos de 6 para 30. Segundo o médico da Unidade Básica de Saúde da cidade, Yordanes Perez, o oxigênio recebido nesta terça garante só dois dias de tratamento dos pacientes.

Morador, Luís Carvalho relatou a mobilização na madrugada para ajudar os doentes. Segundo ele, foi preciso o empréstimo de dois cilindros de Nhamundá para evitar mais mortes. “Eram três horas da madrugada quando duas balas (cilindros) chegaram de voadeira (espécie de lancha) em Faro. Uma ficou aqui [NA UBS] e a outra levamos de carro para Nova Maracanã”, conta. Desde o dia 5, Faro está em toque de recolher. De 20h às 5h, não é permitida movimentação. Durante o dia, o comércio local funciona com restrições. As medidas foram tomadas após o fim de ano, quando a cidade recebeu muitos visitantes de Manaus.

Na semana passada, o Pará proibiu a circulação de embarcações vindas do Amazonas. A Secretaria de Saúde Pública do Pará informou ser de responsabilidade das prefeituras a manutenção de contratos e a aquisição do oxigênio. Conforme o Estado, 159 cilindros foram distribuídos ontem para a região. 

Amazonas

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Em Coari, a 362 quilômetros de Manaus, foram confirmados sete óbitos de anteontem para ontem por falta de oxigênio no hospital regional. A prefeitura da cidade acusou o Estado de reter 200 cilindros. Conforme o governo, o Estado teria enviado 40 cilindros na segunda, mas o avião que realizaria o desembarque dos equipamentos foi direto para o município de Tefé, a 523 km da capital, impossibilitando o retorno a Coari já que o aeroporto local não opera voos noturnos.

Em nota, a Secretaria de Saúde do Amazonas disse lamentar e afirmou que, por “opção do município, o sistema de saúde na cidade é independente, sendo a gestão municipal. Mas, segundo o texto, o Estado “nunca se furtou de auxiliar a administração local”. A pasta alega que a carga de cilindros foi enviada a Tefé, por causa de um atraso da fornecedora de oxigênio.

As outras mortes por asfixia no interior foram em Manacapuru (7), segundo o MP e Itacoatiara (4), onde o governo do Estado sugeriu na semana passada abrir valas diante da impossibilidade de suprir rapidamente os estoques de oxigênio. Em Manaus, não há dados oficiais. Segundo médico do Pronto- Socorro 28 de agosto, o maior da capital em internação pela covid-19, desde quinta-feira 12 pessoas morreram por falta de oxigênio. 

O Amazonas não está conseguindo suprir a demanda do interior de pedidos de internação ou oxigênio. Enquanto defensores públicos e promotores entram com ações civis públicas para tentar priorizar seus municípios, decisões judiciais barram as tentativas e colocam na mão do Estado decidir quem é prioridade.