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Famílias têm dificuldades para aderir a programa contra obesidade

Estudo da USP defende criação de políticas públicas e novas opções de atendimento à população

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Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - Questões socioeconômicas e de dinâmica familiar são as maiores dificuldades apontadas por familiares de crianças e adolescentes com deficiência intelectual para a orientação e prevenção das consequências da obesidade. É o que revela uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP que defende a criação de políticas públicas e novas opções de atendimento para essa população, especialmente entre as famílias de baixa renda. A fisioterapeuta Cláudia Queiroz, autora da pesquisa, atua em um programa para orientar e prevenir as pessoas sobre complicações da obesidade. O projeto é oferecido por uma instituição para portadores de deficiência intelectual na zona norte de São Paulo. No local, a pesquisadora analisou as principais dificuldades relatadas pelas famílias participantes. A equipe é composta por uma psicóloga, uma neuropediatra e uma fisioterapeuta. “Em média, são atendidos de 45 a 50 crianças e adolescentes obesos por mês. Os familiares são recebidos em reuniões mensais de orientação ou, em casos mais críticos, a cada 15 dias", afirma. Além da dificuldade financeira para adquirir alimentos considerados saudáveis e para matriculá-los em uma academia, os familiares citam a falta de tempo para acompanhar os filhos em atividades físicas e a falta de preparo de profissionais atuantes nesses estabelecimentos. “A obesidade tem crescido entre crianças e adolescentes e, no caso dos jovens com deficiência intelectual, existem ainda outros agravantes como possíveis distúrbios hormonais, alterações cardiorrespiratórias e pouca atividade física, que favorecem uma vida sedentária e, consequentemente, a ocorrência do excesso de peso”, explica a fisioterapeuta. As principais orientações fornecidas pelo serviço estão relacionadas com uma alimentação mais saudável e atividade física regular. “Na pesquisa, verificou-se que a dieta dos pacientes é inadequada”, afirma Cláudia. “Muitas famílias têm poder aquisitivo prejudicado e não apresentam condições para adquirir alimentos necessários a uma dieta saudável, como carnes magras, peixes, verduras e frutas. Disponibilidade A maioria das crianças e adolescentes consomem, preferencialmente, alimentos mais calóricos, como carboidratos, por estarem presentes em alimentos de custo mais acessível, como pães, macarrão, arroz e batata. “Alguns participantes ficam na instituição o dia todo e fazem refeições ali, mas as opções de alimentos nem sempre são adequadas, porque o fornecimento depende de doações, que não têm um fluxo regular”, ressalta Cláudia. Outro aspecto importante citado na pesquisa é referente à falta de independência e autonomia dos jovens, o que torna indispensável a participação das famílias nas atividades e orientações realizadas pela equipe do programa. A maioria dos pais envolvidos se queixa da dificuldade de participar das reuniões de orientação durante a semana. “Em muitos casos, as mães são o único adulto da família, e precisam trabalhar para sustentar os filhos”, conta a fisioterapeuta. Também são mencionadas dificuldades para acompanhar os filhos nas atividades físicas com a frequência recomendada, que é de pelo menos três a quatro vezes por semana. “Há dificuldade de acesso a academias, pela inexistência de opções próximas à residência, falta de dinheiro para mensalidades ou falta de atendimento especializado para portadores de deficiência intelectual”, observa Cláudia. “Uma opção poderiam ser as caminhadas, mas nesse caso existe o problema da falta de tempo dos pais para acompanhar os filhos, que, apesar de serem adolescentes, precisam de companhia”, diz a fisioterapeuta. A instituição oferece aulas de educação física e oficina de dança, mas não são suficientes para atender às necessidades do programa. De acordo com Cláudia, as dificuldades levantadas na pesquisa servirão de base para estudar formas de aprimorar a atuação do programa. “Embora a instituição dependa de doações para se manter, há necessidade de ampliar o tempo das ações, o número de profissionais atuantes e a divulgação do serviço”, afirma. “Também é preciso implantar políticas públicas para prevenir a obesidade em jovens com deficiência intelectual, pois há poucas opções específicas de atendimento”, avalia a fisioterapeuta.

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