Fim de ano coincide com período de reprodução de águas-vivas

Aumento no número de banhistas eleva a probabilidade de envenenamento por água-viva no verão

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Por Carlos Orsi
Atualização:

A época de reprodução das águas-vivas coincide com a de maior freqüência  nas praias, o verão, e por isso os banhistas devem se manter atentos, alerta o biólogo André Morani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) especializado nesses animais. Jellyfish Gone Wild (relatório da NSF)Explicação sobre animais marinhos perigosos (PDF) "Minha orientação específica para os banhistas é tomar cuidado. Não tem muito o que fazer, os animais estarão na água e eu duvido que as pessoas não entrem no mar", disse. Ele lembra que os animais estão presentes no mar o ano inteiro, mas que a coincidência da época de reprodução com o grande fluxo de banhistas aumenta a oportunidade para o contato entre o homem e o animal. "Não gosto de falar em 'ataque' de águas-vivas porque dá a impressão de que o animal persegue as pessoas, e não é isso. A água-viva vive à deriva nas correntes marinhas". Ele orienta os banhistas e evitar tocar águas-vivas que encontrem na areia. "Mesmo depois de mortas as células urticantes ainda podem injetar as toxinas", explica. "Além disso a  sensibilidade das pessoas varia bastante, o que não me 'queima' pode ser bem doloroso para outra pessoa". Morani avisa, ainda, que as células portadoras de veneno das águas-vivas não se encontram exclusivamente nos tentáculos.  "Os efeitos destas toxinas são os mais diversos e dependem da espécie de água-viva." Além do período natural de reprodução, no entanto, as águas-vivas podem produzir um fenômeno conhecido como enxamenamento, no qual os animais aglomeram-se rapidamente e em grandes quantidades. Em 1999, um enxameamento nas Filipinas entupiu as tubulações de uma usina de eletricidade,  causando um blecaute que deixou 40 milhões de pessoas sem luz, de acordo com relatório online da Fundação Nacional de Ciência (NSF) nos Estados Unidos. O relatório da NSF registra diversos casos de enxameamento pelo mundo, mas nenhum no Brasil. "O site traz informações apenas sobre o hemisfério norte", diz Morani. "Mas no Brasil já ocorreram grandes enxameamentos. O primeiro documentado data de meados nos anos 50, quando milhares de medusas, da espécie Phyllorhiza punctata eram encontradas encalhadas nas praias de SP, RJ e PR (principalmente SP). Após isso, alguns eventos foram veiculados na mídia, mas nenhum estudo foi realizado". O cientista diz que em junho de 2007 foi realizado, na Austrália, um simpósio internacional sobre os enxamementos. "Neste simpósio foram discutidas as razões pelas quais o número de medusas estaria aumentando mundialmente, e a principal delas é a diminuição da qualidade do ambiente marinho", o que significa, segundo ele, fatores como a poluição dos mares e oceanos e o aumento de exploração de recursos naturais, principalmente a pesca. "Além disso, alguns estudos indicam que o aumento da temperatura global tem alterado a temperatura dos mares e isso poderia induzir o aumento de medusas". O dermatologista Vidal Haddad Jr., da Universidade Estadual Paulista (Unesp) esteve em Praia Grande (SP), onde, em janeiro deste ano, mais de 200 pessoas se feriram no contato com águas-vivas. Ele ajudou a secretaria de Saúde da cidade a padronizar o atendimento às vítimas. Um folheto, produzido em conjunto com a USP, recomenda a aplicação de compressas de água do mar gelada no local do ferimento - não de água doce, que pode agravar a situação - e de banhos de vinagre. Esse procedimento, diz Haddad, "é bem comprovado e funciona na maioria dos casos, onde o que existe é apenas dor e vermelhidão da pele".  Casos mais graves, diz ele, podem requerer internação em UTI e, até, causar morte. "Mas são raros". Haddad ainda é autor de um livro sobre ferimentos causados por criaturas marinhas, Animais Aquáticos Potencialmente Perigosos do Brasil, e mantém um site sobre o assunto.

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