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Fim do uso obrigatório de máscaras em São Paulo é decisão precoce, apontam especialistas

Epidemiologistas ouvidos pelo Estadão consideram que medida deixa população mais vulnerável em meio à chegada da variante Deltacron e apenas cerca de 50% da população com dose de reforço

Foto do author João Ker
Por João Ker
Atualização:

Especialistas entrevistados pelo Estadão consideram precipitada a decisão do Governo de São Paulo de acabar com o uso obrigatório de máscaras na maioria dos ambientes fechados. A avaliação é que o País segue em uma situação de risco diante da chegada da variante Deltacron, com apenas cerca de 50% da população com a dose de reforço e lentidão no avanço da vacinação contra covid-19 das crianças.

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Em entrevista à Rádio Eldorado, a infectologista do Instituto Emílio Ribas, Rosana Richtmann, que integra o comitê científico montado pelo governo para orientar as medidas sanitárias, vê a decisão como "prematura" e que a mensagem deveria ser mais cautelosa. “É prematuro abandonar máscaras nas escolas”, exemplifica.

"Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso olharia para esse cenário e chegaria à conclusão de que não é a hora de abandonar as poucas medidas de proteção que temos. Agora, estamos no momento de respiro, mas ao invés de estarmos nos preparando para nos solidificar quando vier uma próxima onda, estamos relaxando o pouco que temos", avalia Denise Garrett, médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin de Vacina. 

Pessoas se exercitam sem máscara em academia de São Paulo; uso do item de proteção de tornou opcional no Estado Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 17/03/22

Infectologista e pesquisador epidemiologista da Unesp, Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza até se considera um otimista, mas também não acredita que seja o momento para medidas menos restritivas. "As flexibilizações ainda são precoces e desnecessárias, principalmente no uso de máscara e em lugares fechados. Isso nos deixa mais vulneráveis", aponta.

Fortaleza integrou o Centro de Contingência do governo até meados do ano passado. Em agosto, o grupo formado por mais de 20 especialistas foi extindo pelo governo pelo atual Comitê Científico e substituído por um pequeno comitê que manteve os integrantes mais alinhados a medidas de flexibilização. 

Ao anunciar o fim do uso de máscaras obrigatório, Doria citou que a decisão foi referendada pelos integrantes do comitê, liderado pelo médico Paulo Menezes. "Este Comitê entende possível recomendar, a partir da data de hoje, que o uso de máscaras de proteção facial seja obrigatório apenas nos locais, públicos e privados, em que prestados serviços de saúde, bem como nos transportes públicos coletivos e respectivas áreas de acesso", apontou Menezes em nota técnica divulgada pelo governo, na qual cita uma queda nas novas internações.

Na quarta-feira, 16, São Paulo registrou 139 mortes pela pandemia e 8,8 mil casos conhecidos da doença no período de 24 horas. A ocupação nos leitos de UTI estaduais é de cerca de 30%, enquanto o índice fica em 22% em enfermarias. "Internação em hospital é um indicador tardio. É assim que tem acontecido há pelo menos dois anos e ainda não aprendemos com nossos erros", observa Denise.

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Apesar de considerada precoce, a liberação da obrigatoriedade das máscaras já foi implementada em outros Estados e capitais. Rio de Janeiro, Maceió, Cuiabá, Florianópolis, Natal, Rio Branco, Curitiba, BH e Porto Alegre são algumas das cidades que, em maior ou menor grau, não exige mais o uso da proteção facial. 

"O uso de máscaras ainda é essencial. Se estamos falando de uma doença que é transmitida por vias respiratórias, a primeira barreira é ela, logo é a primeira medida a ser tomada em um surto e a última a ser retirada quando tivermos controle da doença", diz Rodrigo Stabeli, pesquisador e diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em São Paulo. "Abrir mão dessas políticas agora é uma maneira efetiva do ponto de vista do ano eleitoral, mas é completamente burra no combate à covid e quem sofre ou morre é a população.

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