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Flexibilização de medidas em SP pode prolongar risco da pandemia, diz especialista

Márcio Bittencourt destaca, por outro lado, que medidas como compra de doses adicionais de Coronavac e antecipação da imunização em São Paulo são positivas

Por Ítalo Lo Re
Atualização:

A decisão do governo de São Paulo de flexibilizar as regras para o funcionamento do comércio e de escolas pode ser considerada "mais política do que técnica" e "mais econômica do que epidemiológica". A análise é do médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP Márcio Sommer Bittencourt.

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Segundo ele, mesmo que os novos casos de covid-19 e óbitos pela doença não voltem a subir, a flexibilização pode fazer com que os números da pandemia demorem ainda mais a cair, o que se mostra como uma perspectiva negativa. "A gente continua com números que nos dão liderança nessas tristes marcas no mundo", explica o médico.

Por outro lado, Bittencourt aponta que outras medidas anunciadas nesta quarta-feira, 7, como a compra de 4 milhões de doses adicionais da Coronavac e a antecipação da vacinação no Estado, são positivas. "Neste momento, só consigo ver com bons olhos qualquer instituição pública, qualquer ente da Federação comprando o quanto de vacina puder", diz, reforçando a necessidade de acelerar o processo de vacinação. Confira abaixo a entrevista completa com o médico:

Comércio no centro de São Paulo: para alguns economistas, menor isolamento social, mesmo que abaixo do necessário para conter a doença, pode estar atrapalhando menos a economia. Foto: Alex Silva/Estadão - 26/4/2021

A situação epidemiológica atual permite a flexibilização das regras de abertura anunciadas pelo governador João Doria?

As medidas de flexibilização têm de levar em conta as outras medidas de intervenção que estamos fazendo. Além de distanciamento, existem as medidas de isolamento de casos, quarentena de contatos, vacinação, busca ativa de casos, uso de barreiras e utilização de algumas medidas de distanciamento residuais. Me parece que estamos com melhora gradativa, mas muito lenta e com números muito altos. Então, acho que é uma decisão um pouco mais política do que técnica, ou mais econômica do que epidemiológica. Se a gente flexibilizar agora, a perspectiva é que isso vá se prolongar por mais tempo. Mesmo que não volte a piorar, vai demorar mais para cair, o que é uma perspectiva negativa. Depende de quanto a gente quer expor a população ao risco. E parece que preferem expor a um risco um tanto maior do que restringir mais.

Pelos dados atuais, qual é o prognóstico da pandemia em SP? A variante Delta preocupa?

Não faço prognóstico de para onde a pandemia vai em nenhuma das minhas avaliações. Não acho que dá para fazer um prognóstico consistente pela quantidade de variáveis que temos. A tendência atual é de uma queda lenta, gradual e com persistência com números altos ainda por bastante tempo. A gente continua com números que nos dão liderança nessas tristes marcas no mundo. Está ruim, mas está menos ruim do que já esteve. A perspectiva para a frente é mais ou menos de uma continuidade disso por algum tempo, mas não temos como saber várias informações com relação a vacinas e variantes, que podem eventualmente piorar essa perspectiva.

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Como o sr. enxerga a compra de 4 milhões de doses adicionais pelo governo de SP?

Acho que quanto mais comprar, melhor. De todas as vacinas, para todos os lugares. Quanto mais vacinar mais gente o mais rápido possível, melhor. Assim que tiver análise de segurança, quanto mais rápido puder vacinar criança, adolescente... Quanto mais gente vacinada, menor o risco. É sempre um bom negócio comprar mais vacinas. Se uma hora vacinar todo mundo e acabar a população suscetível (a ser vacinada), a gente doa para alguém, a gente vende. Neste momento, só consigo ver com bons olhos qualquer instituição pública, qualquer ente da Federação comprando o quanto de vacina puder.

Com a variante da Delta no Estado, o governo de SP avalia reduzir a espera pela 2ª dose. O que o sr. acha disso?

Acho que não dá para mexer no intervalo da Coronavac. Para a Pfizer, a recomendação é um intervalo mais curto. O governo que inventou de querer dar a primeira dose para todo mundo e estendeu. O intervalo ideal da Pfizer é por volta de um mês, mesmo. Com relação à AstraZeneca, tanto faz. Dá para adiantar, não tem problema. Se tiver vacina para todo mundo, o ideal é fazer com um intervalo um pouco mais curto. O problema é que a gente não tem vacina para todo mundo, tem gente ficando sem. Eles acham que é melhor dar a primeira dose para mais gente, o que eu até acho que é razoável. Se você tem vacina para não atrasar as primeiras doses, com certeza pode encurtar o intervalo. Mas não acho que é algo que vai mudar demais o que a gente está vendo.

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