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Gel recupera função cardíaca perdida após enfarte

Estratégia, aplicada com sucesso em porcos, deve ser testada em humanos ainda este ano, segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia

Por Mariana Lenharo
Atualização:

Um gel que tem como matéria-prima o próprio tecido do coração foi capaz de recuperar parcialmente a função cardíaca perdida após o enfarte. A estratégia, aplicada com sucesso em porcos, deve ser testada em humanos ainda este ano, segundo os pesquisadores da Universidade da Califórnia. Ainda não existem terapias que promovam a reconstituição do músculo cardíaco afetado pelo enfarte.

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Os resultados foram publicados esta semana na revista Science Translational Medicine. Para produzir o gel, pesquisadores submeteram o tecido conjuntivo retirado do coração de porcos a um processo laboratorial (veja detalhes acima). O material foi injetado através de um cateter no coração de seis porcos, duas semanas após terem sofrido enfarte. Outros quatro porcos enfartados não receberam a terapia, formando o grupo controle.

Três meses após a aplicação do tratamento, testes mostraram que os porcos que receberam o gel tinham melhorado a função cardíaca, enquanto os que não o receberam apresentaram uma piora. Além disso, foi observada a migração de células musculares para a região que recebeu o gel e também a formação de vasos sanguíneos nas áreas enfartadas. No grupo controle, o tecido afetado tornou-se fino e fibroso.

Uma das autoras do estudo, a pesquisadora Karen Christman, observa que, quando alguém sofre um enfarte, a matriz extracelular natural do coração é degradada, o que faz com que as células não tenham onde se fixar para ajudar no crescimento do novo tecido. "Então pensamos que a melhor coisa para se injetar no coração seria a mesma coisa que estava lá inicialmente. Então desenvolvemos a forma líquida dessa matriz extracelular cardíaca que, quando entra no tecido, se assemelha à estrutura natural."

Também foi constatado que o gel diminuiu o processo de cicatrização. "Foi uma nova descoberta emocionante já que, idealmente, após um enfarte, você quer reduzir ao máximo a cicatriz e formar o máximo de músculo possível", diz Karen.

O cardiologista Leopoldo Piegas, do Hospital do Coração (HCor), explica que a cicatriz que se forma após o enfarte atrapalha a contração dos batimentos cardíacos, por isso é importante o fato de o gel ter impedido o processo de formação da cicatriz.

Uma das críticas ao estudo, segundo o médico José Eduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração (Incor), é que os testes não mimetizam exatamente o que ocorre com o homem após o enfarte. Para ele, a comparação da nova estratégia deveria ser feita em relação a porcos que tivessem recebido a medicação atualmente administrada a pessoas enfartadas. Isso permitiria determinar se os efeitos do gel são superiores aos medicamentos hoje disponíveis.

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O médico Rui Fernando Ramos, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), observa que a melhor maneira de se preservar o músculo cardíaco após o enfarte é o diagnóstico precoce e tratamento adequado. "Se o doente chega na primeira hora, muitas vezes é possível fazer um aborto do enfarte, o músculo praticamente não é afetado e os resultados são ótimos."

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