Governo avalia adaptar fábricas de vacina animal para produção de doses contra covid-19

Ministro diz que medida pode contribuir para que Brasil não só amplie capacidade de vacinação, mas ofereça doses a outros países no futuro; Queiroga também prometeu militares para acelerar campanha de imunização

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Foto do author Amanda Pupo
Foto do author Vinícius Valfré
Por Amanda Pupo (Broadcast), Wagner Freire e Vinícius Valfré
Atualização:

BRASÍLIA - Criticado pelo ritmo lento de vacinação contra a covid-19, o governo federal avalia a possibilidade de usar fábricas de vacinas para animais na produção de imunizantes contra o novo coronavírus. A informação foi dada neste sábado, 3, pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, após reunião com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom.

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Segundo Queiroga, o presidente Jair Bolsonaro determinou que as Forças Armadas darão reforço à campanha de imunização. Sobre as medidas de isolamento social, um dos principais alvos de crítica de Bolsonaro, o novo titular da Saúde falou que é preciso evitar medidas extremas, para que as pessoas continuem trabalhando. 

Para o ministro, o uso de fábricas de produtos para animais pode contribuir para que o Brasil não só amplie a capacidade de vacinação própria, mas também futuramente ofereça doses a outros países.

"Verificar a adequação dos parques industriais que produzem vacinas animais, para utilizar esses parques para produzir vacinas em humanos, não só para abastecer o mercado interno e ampliar a nossa capacidade de vacinação, mas também para que o Brasil, na sua posição de líder em vacinação na América latina, para em breve, se tudo ocorrer como nos programamos, oferecer vacinas para outros países na América Latina", disse Queiroga. Segundo ele, na reunião também foram discutidas medidas que possam assegurar mais vacinas para os próximos três meses.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que prioridade é ampliar campanha de vacinação Foto: Dida Sampaio/ Estadão

O ministro disse que a prioridade é ampliar a campanha de vacinação, e ressaltou que o problema do número insuficiente do imunizante não é exclusivo do Brasil, mas afeta todo o mundo, incluindo países desenvolvidos. Até o momento, menos de 10% da população brasileira já recebeu uma ou as duas doses da vacina.

Em Israel, no Reino Unido e no Chile, onde a imunização está sendo executada em um ritmo muito mais acelerado, o índice de vacinados chega a 60,69%, 46,11% e 36,28% da população, respectivamente, segundo dados compilados no site Our world in data.

Queiroga afirmou que o País tem assegurado 30 milhões de doses para abril, o que permite ao governo continuar aplicando neste mês a marca de 1 milhão de doses ao dia. "Primeiro objetivo é em abril conseguir permanecer todos os dias com um milhão de doses", afirmou. Essa marca, porém, só foi atingida uma vez - na última quinta-feira, 1º. 

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O ministro também comentou que o Brasil tem "negociado fortemente" com a Embaixada da China sobre a ampliação de disponibilidade do Insumo Farmacêutica Ativo (IFA), um dos componentes para a produção da vacina. "Temos negociado fortemente com a Embaixada da China, que tem relação boa e forte com o Brasil", afirmou.

Sobre os militares, Queiroga afirmou que, "por determinação do presidente, que está pessoalmente empenhado", haverá maior apoio das Forças Armadas na logística de distribuição de vacinas e na aplicação de doses. O problema, porém, é a escassez de imunizantes disponíveis.

Níveis de segurança

A estratégia de adaptar a indústria de produtos de saúde animal foi vista positivamente pela Anvisa, que disse não se opor à medida.

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A indústria brasileira de saúde animal possui três plantas com nível de biossegurança máxima. Segundo o vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani, há capacidade suficiente para atender a demanda de vacinação em todo o país. 

Salani participou, na última segunda-feira, 29, de reunião da comissão do Senado que monitora as ações de combate à pandemia no País e mencionou conversas com o governo. 

"Considerando que as vacinas inativadas contra a covid-19 são produzidas a partir do vírus vivo, a indústria de saúde animal possui três plantas com nível de biossegurança máxima, com capacidade instalada para atender a demanda de vacinação em todo o país", disse.

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Na ocasião, Meiruze Freitas, diretora da Anvisa, afirmou que a agência está disposta a discutir a adaptação das fábricas e que os laboratórios veterinários podem abrir "grande janela" na produção de imunizantes contra a covid-19.

"Certamente, a parte de vírus inativado abre uma grande janela, entrando o setor de produção de vacinas de uso animal. Entregaremos à comissão do Senado que mapeamento faremos no processo, para que se possa rapidamente ter a vacina produzida aqui, utilizando a estrutura das empresas de uso animal, em especial a parte da célula-mestre. Porque a grande chave é que a indústria animal tenha acesso à célula-mestre, e a partir da célula-mestre consiga reproduzir o IFA (Ingredientes Farmacêuticos Ativos) com as mesmas características", declarou.

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