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Governo quer fechar acordo de redução de açúcar até junho

Contra obesidade, governo anuncia na OMS nova rotulagem para alimentos; ministro da Saúde se recusa a falar sobre as revelações de sua liberação de repasses de verbas a parentes quando ainda ocupava cargo na Caixa Econômica Federal

Por Jamil Chade , correspondente e Genebra
Atualização:

GENEBRA - O governo brasileiro exigirá maior transparência sobre a quantidade de açúcar em cada produto, em um esforço de combater a obesidade. O anúncio foi feito nesta terça-feira, 22, pelo ministro da Saúde, Gilberto Occhi, durante seu discurso na Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra. Para isso, o governo trabalha em estabelecer uma nova rotulagem de alimentos. Ao Estado, Occhi ainda informou que, até o próximo mês, o governo fechará com a indústria nacional um acordo de redução de açúcar. 

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Gilberto Occhi, ministro da Saúde, está em Genebra para reuniões na OMS Foto: Jamil Chade / Estadão

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"Esperamos ter um acordo até o mês que vem", disse Occhi. Segundo ele, não existe um porcentual único de redução e cada setor implementará um corte diferenciado. Mas a proposta atingirá produtos como bolos, achocolatados e outros alimentos. "Não faremos nada que não seja negociado", insistiu, apontando até mesmo para um diálogo com fabricantes de refrigerantes. 

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Segundo ele, empresas com a Ambev já aceitaram debater a questão e um acordo estaria “muito próximo”. Occhi, porém, destacou que uma das condições do setor produtivo para entrar em negociação era manter o gosto dos produtos, evitando que fossem descaracterizados. “Isso seria um problema inclusive para empregos e arrecadação”, disse. “Buscamos alternativas que mantinham o perfil do produto, mas com uma incidência cada vez menor de açúcar”, disse. 

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O acordo, segundo ele, estabeleceria metas de redução do açúcar que possam ser cumpridas. “Não da para impor nada. Não funciona”, disse. “Apropostatemcomoobjetivooenfrentamentoaoexcessodepesoeàobesidade,queapresentam níveis preocupantes na população brasileira”, indicou o ministro. Durante a reunião da OMS, o Brasil apresentou uma proposta de nova rotulagem de alimentos e acordo com a indústria para redução de açúcar em alimentos ultraprocessados. “As medidas visam facilitar a compreensão do consumidor e trazer orientações claras para escolhas mais saudáveis”, indicou.  “Estamosengajadosnaadoçãodepolíticasconcretaseefetivasparaconteroavançoda obesidade.OBrasiladotarámedidasparaalertarsobreoexcessodeaçúcarnorótulode alimentosprocessados,e, assim,osconsumidorespoderãofazerescolhasmaissaudáveis. Também estamos estruturando medidas para reduzir o açúcar nesses alimentos”, afirmou o ministro.  De acordo com ele, o excesso de peso atingiu em 2017 54% da população nas capitais dopaíse18,9%estãoobesos. O aumento foi de 36% e 42%, respectivamente, de acordo com o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está liderando a formulação dos novos rótulos. “A meta é que ao final doprocesso seja feita uma consulta públicacom a sociedade.A proposta é queo rótulo deve ficar na parte frontal com advertências em relação ao excesso de nutrientes que podem trazer malefícios a saúde, como sódio, gordura e açúcares”, indica o Ministério da Saúde.  Uma das possibilidades estudadas para os rótulos é o uso de cores de um semáforo, indicando os riscos. Occhi, porém, destacou o exemplo da França, com rótulos que contam com classificações de A a E para marcar a presença de produtos como o açúcar.  Além da questão das informações, o governo faz um levantamento de políticas fiscais eregulatóriasjá adotadas no exterior que tem, como objetivo, reduzir o consumodeaçúcar. De acordo com Brasilia, estudos tem sido avaliados sobre o “impacto potencial destas políticas para fortalecer essas agendas nacionalmente”. 
 
“OMinistériodaSaúde,ainda,vemdesenvolvendoaçõesestratégicasdealimentaçãoe 
nutrição para promover e proteger a saúde dos brasileiros. Entre as iniciativas em discussão 
com a indústria, está o Plano Nacional de Redução do Açúcar em Alimentos Industrializados. O 
modelo é similar ao adotado com o setor para redução de sódio em que foram retiradas 17 mil 
toneladas entre 2008 e 2016”, indica o ministério.

Investigado

Occhi está sendo alvo de uma apuração da Caixa Econômica Federal, depois que foi identificado que ele liberou repasses de verbas a parentes quando ainda ocupava cargo no banco e antes de assumir pastas no governo federal. As informações são do jornal Folha de S. Paulo, que indicou nesta terça-feira que R$ 200 mil foram usados para a compra de casas lotéricas por seu filho. Em Genebra, porém, sua assessoria informou que o ministro não se pronunciará sobre o assunto.

Questionado pelo Estado, Occhi também se recusou a falar do assunto, afirmando apenas que se tratava de um "assunto pessoal". 

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Cooperação

Em um discurso na OMS, Occhi insistiu no tema da cooperação internacional como forma de lidar com surtos. "Temos enfrentado os casos de sarampo, na fronteira norte do Brasil, e a febre amarela de maneira coordenada com a Opas e a OMS”, disse. "Em parceria com vizinhos sul-americanos, estamos intensificando ações de vigilância epidemiológica e reforçando a atenção à saúde nas regiões de fronteira, que se estendem por mais de 15 mil km", apontou.

Mas em um cenário de questionamento das políticas sociais brasileiras no âmbito da ONU, o ministro destacou a questão da desigualdade social. "Não há saúde universal sem a adoção de políticas voltadas à superação de desigualdades de gênero, étnico-raciais, econômicas, regionais e sociais no acesso à saúde", disse ele, sem dar números ou detalhes de orçamentos no setor.

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"Não há saúde universal sem o acesso a medicamentos, vacinas, tecnologias e serviços de saúde. Por essa razão, o governo brasileiro anunciou o compromisso de realizar doação voluntária à OMS para a promoção do acesso a medicamentos, vacinas e fármacos", afirmou Occhi. Apesar de anunciar doações, o Brasil mantém a segunda maior dívida com a OMS, com uma pendência de mais de US$ 12 milhões. O governo garante que isso será pago até o fim da semana. 

"Todos nós, membros da OMS, aceitamos o desafio de colocar a saúde de todos, sem distinções, em primeiro lugar. Desejamos que esse continue a ser nosso norte pelas próximas décadas, sem deixar ninguém para trás", completou.

Dados da OMS, porém, revelam que o governo brasileiro gasta abaixo da média mundial com saúde. Em 2016, ele destinou 7,7% de todos os seus gastos públicos ao setor. Na Alemanha e Uruguai, essa taxa foi de 20%, contra uma média mundial de 9,9%. 

As famílias brasileiras também estão entre as que mais são obrigadas a tirar dinheiro de sua renda para pagar pela saúde, com 25% delas destinando mais de 10% de seu salário para remédios e atendimento. Apenas cinco países têm uma situação pior. 

Pesquisas. Os governos do Brasil e dos EUA fecharam um acordo nesta terça-feira para destinar R$ 14 milhões para pesquisas no setor médico. O entendimento ocorreu às margens da Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra. Gilberto Occhi, ministro da Saúde, e Alex Azar, secretário de Saúde dos EUA, indicaram que cada um dos governos colocará o mesmo valor para as pesquisas. 

Editais conjuntos serão lançados a partir do segundo semestre do ano e irão se concentrar em temas de inovação. Áreas como o combate à Aids e zika estão entre os pontos principais do projeto. Occhi e Azar ainda destacaram durante o encontro o progresso realizado nas pesquisas existentes para se identificar uma vacina contra o zika vírus. Segundo eles, o processo estaria em um “estágio avançado”. 

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