GENEBRA - O governo brasileiro exigirá maior transparência sobre a quantidade de açúcar em cada produto, em um esforço de combater a obesidade. O anúncio foi feito nesta terça-feira, 22, pelo ministro da Saúde, Gilberto Occhi, durante seu discurso na Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra. Para isso, o governo trabalha em estabelecer uma nova rotulagem de alimentos. Ao Estado, Occhi ainda informou que, até o próximo mês, o governo fechará com a indústria nacional um acordo de redução de açúcar.
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"Esperamos ter um acordo até o mês que vem", disse Occhi. Segundo ele, não existe um porcentual único de redução e cada setor implementará um corte diferenciado. Mas a proposta atingirá produtos como bolos, achocolatados e outros alimentos. "Não faremos nada que não seja negociado", insistiu, apontando até mesmo para um diálogo com fabricantes de refrigerantes.
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Segundo ele, empresas com a Ambev já aceitaram debater a questão e um acordo estaria “muito próximo”. Occhi, porém, destacou que uma das condições do setor produtivo para entrar em negociação era manter o gosto dos produtos, evitando que fossem descaracterizados. “Isso seria um problema inclusive para empregos e arrecadação”, disse. “Buscamos alternativas que mantinham o perfil do produto, mas com uma incidência cada vez menor de açúcar”, disse.
Investigado
Occhi está sendo alvo de uma apuração da Caixa Econômica Federal, depois que foi identificado que ele liberou repasses de verbas a parentes quando ainda ocupava cargo no banco e antes de assumir pastas no governo federal. As informações são do jornal Folha de S. Paulo, que indicou nesta terça-feira que R$ 200 mil foram usados para a compra de casas lotéricas por seu filho. Em Genebra, porém, sua assessoria informou que o ministro não se pronunciará sobre o assunto.
Questionado pelo Estado, Occhi também se recusou a falar do assunto, afirmando apenas que se tratava de um "assunto pessoal".
Cooperação
Em um discurso na OMS, Occhi insistiu no tema da cooperação internacional como forma de lidar com surtos. "Temos enfrentado os casos de sarampo, na fronteira norte do Brasil, e a febre amarela de maneira coordenada com a Opas e a OMS”, disse. "Em parceria com vizinhos sul-americanos, estamos intensificando ações de vigilância epidemiológica e reforçando a atenção à saúde nas regiões de fronteira, que se estendem por mais de 15 mil km", apontou.
Mas em um cenário de questionamento das políticas sociais brasileiras no âmbito da ONU, o ministro destacou a questão da desigualdade social. "Não há saúde universal sem a adoção de políticas voltadas à superação de desigualdades de gênero, étnico-raciais, econômicas, regionais e sociais no acesso à saúde", disse ele, sem dar números ou detalhes de orçamentos no setor.
"Não há saúde universal sem o acesso a medicamentos, vacinas, tecnologias e serviços de saúde. Por essa razão, o governo brasileiro anunciou o compromisso de realizar doação voluntária à OMS para a promoção do acesso a medicamentos, vacinas e fármacos", afirmou Occhi. Apesar de anunciar doações, o Brasil mantém a segunda maior dívida com a OMS, com uma pendência de mais de US$ 12 milhões. O governo garante que isso será pago até o fim da semana.
"Todos nós, membros da OMS, aceitamos o desafio de colocar a saúde de todos, sem distinções, em primeiro lugar. Desejamos que esse continue a ser nosso norte pelas próximas décadas, sem deixar ninguém para trás", completou.
Dados da OMS, porém, revelam que o governo brasileiro gasta abaixo da média mundial com saúde. Em 2016, ele destinou 7,7% de todos os seus gastos públicos ao setor. Na Alemanha e Uruguai, essa taxa foi de 20%, contra uma média mundial de 9,9%.
As famílias brasileiras também estão entre as que mais são obrigadas a tirar dinheiro de sua renda para pagar pela saúde, com 25% delas destinando mais de 10% de seu salário para remédios e atendimento. Apenas cinco países têm uma situação pior.
Pesquisas. Os governos do Brasil e dos EUA fecharam um acordo nesta terça-feira para destinar R$ 14 milhões para pesquisas no setor médico. O entendimento ocorreu às margens da Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra. Gilberto Occhi, ministro da Saúde, e Alex Azar, secretário de Saúde dos EUA, indicaram que cada um dos governos colocará o mesmo valor para as pesquisas.
Editais conjuntos serão lançados a partir do segundo semestre do ano e irão se concentrar em temas de inovação. Áreas como o combate à Aids e zika estão entre os pontos principais do projeto. Occhi e Azar ainda destacaram durante o encontro o progresso realizado nas pesquisas existentes para se identificar uma vacina contra o zika vírus. Segundo eles, o processo estaria em um “estágio avançado”.