06 de março de 2021 | 14h00
Um risco do avanço das mutações do vírus é que elas consigam escapar da proteção conferida pelas vacinas, hipótese que ainda está em estudo. Pesquisas têm sugerido que a eficácia pode ser reduzida, mas não totalmente anulada.
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Uma análise preliminar com dados de oito pessoas sugeriu que a variante pode escapar dos anticorpos produzidos pela Coronavac, principal imunizante aplicado no Brasil.
Contra esses efeitos, a doutora em microbiologia Natalia Pasternak pede aceleração na aplicação das vacinas. “As vacinas devem ser usadas em massa o quanto antes porque ainda funcionam. Se vacinar em massa, impedimos novas variantes. Se deixa a doença correr solta sem vacina, corre o risco de aparecerem outras variantes que escapem completamente do que o mercado tem agora (de imunizante) e aí seria preciso redesenhar a vacina”, explicou.
"Até agora, a notícia é boa. A Pfizer testou sua vacina com os mutantes do Reino Unido e da África do Sul e funcionou perfeitamente. Até agora, as mutações que apareceram não tornam o vírus tão diferente a ponto de não ser mais reconhecido pela vacina. Mas tem de ficar de olho, porque se aparecer uma muito diferente, vamos precisar adaptar as vacinas", afirma a doutora Natália Pasternak. Vacinas que usam o vírus inativado, como a Coronavac, têm a vantagem de, por usar o vírus inteiro, terem também mais alvos para a vacina, de modo que esse tipo de mutação não deve ser um problema.
Um estudo também mostrou que a vacina produzida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca não parece oferecer proteção contra doenças leves e moderadas causadas pela mesma variante.
A Johnson & Johnson e a Novavax disseram que suas vacinas foram menos eficazes contra a variante sul-africana em testes clínicos realizados no país. Mesmo representando um impacto positivo, a vacina da Johnson & Johnson teve eficácia menor, de 57%, para casos moderados e graves na África do Sul. Os testes foram realizados quando a variante sul-africana já estava em alta circulação.
Nos estudos clínicos do imunizante da Novavax no Reino Unido, 50% dos participantes que tiveram covid-19 foram infectados pela nova variante. No país, a eficácia da vacina foi de 85,6%. A taxa foi menor nos testes realizados na África do Sul, que tiveram 49,4% de eficácia.
Todas as imunizações aparentam oferecer proteção contra doenças graves e morte em relação à covid-19. Como existe o risco de que novas variantes do vírus possam acabar "driblando" a vacina, muitos especialistas estimam que com o tempo, seja necessário atualizar a vacina e reaplicá-la, como ocorre com as vacinas da gripe.
Gabriel Maisonnave Arisi, professor na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), fala que as vacinas de RNA, tecnologia usada nos imunizantes contra o coronavírus, são revolucionárias porque são adaptáveis. Se for necessária uma nova vacina para combater novas mutações, o processo de fabricação será muito mais rápido. Ele acredita que no futuro as vacinas contra o coronavírus irão proteger contra mais de uma cepa.
Ele explica também que os imunizantes de vírus completo inativado, como a Coronavac, provavelmente são menos vulneráveis às variantes. Já as de adenovírus, como é o caso da vacina de Oxford/AstraZeneca e da Sputnik V, podem ser mais vulneráveis às mutações.
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