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'Há risco de ter um momento de convulsão social com ou sem quarentena', diz secretária de SP

Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Patricia Ellen da Silva conta como vai ser operado o plano de flexibilização da quarentena

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

Uma das cabeças à frente da secretaria de contingência criada para lidar com a pandemia do novo coronavírus no Estado de São Paulo, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen da Silva, diz que documentos coletados em mais de 40 países por consultorias contratadas pelo governo e que integram o grupo de gestão da crise apontam que a principal medida para enfrentar o problema é a liberação de recursos para proteger a população vulnerável. “A gente está correndo o risco de ter um momento de convulsão social com ou sem quarentena. Essa ajuda emergencial precisa chegar e tem que chegar agora”, alerta a secretária. Ela contou ao Estado detalhes de como foi desenhado e como vai ser operado o plano de flexibilização da quarenta, previsto para entrar em vigor partir de 11 de maio. A seguir, principais trechos da entrevista.

Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Patricia Ellen da Silva Foto: Antonio Scarpinetti/Unicamp

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Em que pé está o plano de flexibilização da quarentena no Estado de São Paulo a partir do dia 11 de maio?

É importante destacar que São Paulo nunca parou. Temos cerca de 70% da atividade econômica funcionando. Nosso modelo de quarentena é parcial. Neste momento estamos finalizando a análise de vulnerabilidade por setor, com apoio da Fipe, economistas, consultorias. A partir do dia 10 de maio começaremos a ter um olhar mais regional e faseado das atividades que por ventura tenham sido interrompidas. Estamos olhando os setores mais impactados e vendo que tipo de protocolo precisa ser estabelecidos para a retomada gradual.

Haverá a volta à normalidade a partir do dia 11?

Não há volta da normalidade de um dia para o outro em nenhum lugar do mundo onde houve covid-19.  O novo normal é aprendermos a lidar com a pandemia.  A Coréia do Sul, por exemplo, apresentou um plano de retomada em dois anos.  Estamos falando de horizontes que podemos ter a retomada de um município num momento e que poderá a vir a ser fechado de novo. O mais importante é como iremos conviver com essa pandemia no médio prazo.

Como está sendo desenhado esse modelo de monitoramento?

Criamos uma estrutura dinâmica de monitoramento e gestão da pandemia. Temos hoje um sistema vinculado à secretaria de Governo com todos os dados integrados, de saúde, economia e a parte social. A saúde e economia estão integradas para termos um núcleo único de dados, onde reunimos leitos por município, dados de testagem, casos suspeitos, confirmados e óbitos, isolamento. Isso numa granulidade muito grande e integrada numa plataforma que nos permite fazer uma gestão diária. São mais de cem dados por município

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Como será a operação de soltar e puxar as rédeas na reabertura?

Vamos combinar os dados de uso da capacidade adequado, com a vulnerabilidade econômica do município, com a taxa de transmissão da doença, com a disponibilidade de testes e a taxa de imunização da população. Essa combinação dos critérios é determinada pela saúde. Com base nas modelagens, serão estabelecidos critérios para classificação dos municípios em quatro faixas; zona verde, laranja, amarela e vermelha. Os municípios serão monitorados diariamente. Se a cidade ficar um dia na categoria laranja é uma coisa. Se ficar uma semana, já é um problema. O importante é a curva de tendência. Os dados serão analisados diariamente e o comitê contingência se reúne toda semana para reavaliar os municípios. Tem casos que poderão ser reavaliados no dia. Uma cidade que pular verde para o vermelho, tem que ter uma ação emergencial.

O isolamento na cidade começa a ser quebrado Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Quantas pessoas estão trabalhando nesse comitê de contingência?

Tem muita gente. Dezenas de pessoas dentro da Saúde, da secretaria de Desenvolvimento Econômico, da secretaria de Ciência e Tecnologia com apoio do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Investe SP e da secretaria de Governo. O núcleo que compõem o sistema de monitoramento inteligente deve ter quase 50 pessoas. Também contamos com apoio de consultorias. No total são cerca de 100.

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O que vai abrir primeiro?

Em primeiro lugar, é a ciência e a preservação das vidas. É isso que estamos elegendo como prioridade. Independentemente da quarentena, há muito trabalho a fazer. Temos que entrar com medidas de alívio para as pessoas físicas. O mapa que as consultorias nos trouxeram de mais de 40 países mostra que a principal medida é a proteção social da população vulnerável. Essa ajuda emergencial precisa chegar e tem que chegar agora. A gente está correndo o risco de ter um momento de convulsão social com ou sem quarentena. As pessoas precisam de ajuda. A segunda parte é o crédito para os nossos empreendedores e empreendedoras, que hoje respondem por mais de 50% dos empregos no Estado de São Paulo e no Brasil. Essa ajuda está chegando a conta-gotas.  Tem que chegar rápido.

 Mas, qual será o horizonte para os setores depois do dia 10 de maio?

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Ainda é muito cedo para falar, porque estamos trabalhando nas propostas.  A saúde está trabalhando nos critérios e a economia está trabalhando nos protocolos setoriais. A partir da semana que vem vamos juntar essas informações. O comitê de saúde vai ter os protocolos e olhar para as informações regionalizadas. Talvez o corte não seja só setorial, mas também regional. Pode ser que em algumas regiões não seja possível afrouxar a quarentena porque elas estão na curva crescente da pandemia, enquanto outras regiões, em outro estágio, será possível ter flexibilização.

Os protocolos foram criados pela equipe ou copiados de fora?

A gente não reinventa a roda. As consultorias estão ajudando muito a levantar todas as práticas internacionais. Para os protocolos, temos o da Organização Mundial da Saúde (OMS). O setores também têm protocolos que estão sendo desenvolvidos. Hoje estamos recebendo mais de 30 documentos com protocolos do Brasil e do mundo, fora da OMS e estamos monitorando diretamente mais de 15 países. Temos uma biblioteca de protocolos. Mas o mais importante é o diálogo dos secretários com os setores.

Qual o risco de começar abrir com esses dados frágeis, como assubnotificações?

Houve um trabalho muito grande de zerar a fila de testes de casos graves. Será anunciada também a estratégia expandida de testagem. Temos, ao lado dos testes voltados para o diagnóstico da doença, testes de imunização. Países que estão tendo êxito na retomada, estão trabalhando muito nesse modelo. A subnotificação existe no mundo inteiro. Por isso, essa estratégia de testagem vai ajudar a lidar com uma parte dessa diferença.

Há risco de a flexibilização ser adiada?

No dia 11 de maio iniciamos uma nova fase de monitoramento regional. A flexibilização será faseada e diária e feita de forma responsável. Temos muito claro o que não vamos fazer: não vamos tomar decisões precipitadas e aleatórias. São Paulo é um estado heterogêneo e é preciso reconhecer cada região de uma forma mais independente. Não estamos fazendo gestão política na pandemia.

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