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Homem é internado com suspeita de febre amarela em Minas

Morte de homem com suspeita da doença faz aumentar a tensão em torno da existência de surto urbano

Por Leonardo Werner
Atualização:

O governo de Minas Gerais confirmou que um homem natural de Acrelândia (AC) está internado no Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, com suspeita de febre amarela. Nem o órgão nem a assessoria do hospital souberam dar mais informações a respeito do caso. A secretaria de Saúde do Estado afirmou que vai promover campanha de vacinação contra a doença. Minas não registra casos de febre amarela desde 2003, quando 64 deles foram confirmados no Vale do Jequitinhonha, causando 23 mortes. Em 2004, uma pessoa foi tratada no Estado, mas a suspeita é de que tenha contraído a doença em viagens pelo Norte do País.   A morte, na terça-feira, 8, de Graco Carvalho Abubakir, de 38 anos, com suspeita de febre amarela e a notícia de mais um caso suspeito no Distrito Federal ajudaram a aumentar a tensão em torno da existência de um surto urbano da doença e tem intensificado uma corrida aos postos de saúde. Pessoas que nunca haviam sido vacinadas e outras que não lembravam a data da última imunização já estão lotando centros de atendimento em Brasília. A Secretaria da Saúde do DF investiga ainda a morte de um homem, no dia 5, mas há fortes indícios de que se trata de hantavirose e não febre amarela.   Despreparados para a corrida pela vacina, funcionários dos postos agiam na terça-feira como se fosse um dia normal. Muitos deles, às 10 horas, interrompiam o atendimento para se concentrar nas pessoas que já estavam na fila e, com isso, garantir o horário do almoço. No posto de saúde da Quadra Interna 23 do Lago Sul, quatro carros da polícia foram chamados para acalmar os ânimos da população. "Foi um exagero. As pessoas reclamavam, mas com razão. É inacreditável o posto encerrar o atendimento às 10 horas", afirmou Isabel Pojo do Rego, de 52 anos, que foi com o neto, Rafael, vacinar-se contra a doença. Somente depois de muita reclamação os portões foram novamente abertos. Às 11h40, o atendimento foi retomado e as senhas voltaram a ser distribuídas.   Morte de micos   A morte de seis micos no noroeste de Minas Gerais acendeu o alerta para a possibilidade de ocorrência de casos de febre amarela no Estado. Os animais foram encontrados já sem vida em uma mata da zona rural do município de Cabeceira Grande (580 km de Belo Horizonte), no fim de semana. A cidade, de apenas 6 mil habitantes, está localizada perto da divisa com Goiás, onde um homem morreu com suspeita da doença.   Não se sabe ainda do que os animais morreram. Eles terão as vísceras enviadas para análise no Instituto Evandro Chagas, no Pará, que emitirá laudo com a causa da morte em até 30 dias. Caso confirmada, a febre amarela, será uma "novidade", disse Francisco Lemos, gerente de Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais.   "Embora Cabeceira do Norte esteja em região limítrofe com áreas de risco, não há registros da doença nessa região mineira." De acordo com a secretaria, suspeita-se que os micos encontrados façam parte de um grupo maior, de 30 animais - não se sabe se infectados ou não.   "A idéia é usarmos nossa rede de prevenção à doença de Chagas, instalada ali, para tentarmos localizar novos animais. Quando há uma grande quantidade de mosquitos e de primatas, há também uma ampliação das chances de transmissão para o homem", disse Lemos. Serão também capturados para análise mosquitos Haemagogus e Sabethes, transmissores da febre amarela silvestre.   Dificuldades   A morte de Abubakir também evidenciou a dificuldade de se colocar em prática medidas preventivas contra a doença. Embora alertas sobre a necessidade de vacinação tenham sido feitos logo após o Natal, quando macacos morreram no DF, somente ontem, com a notícia da doença de Abubakir, a população procurou os postos.   "Não achava que era assim tão importante. Só com a notícia do doente é que decidi vir aqui", afirmou a doméstica Gisele Martins da Silva, de 28 anos, que ontem procurou o posto de saúde de Paranoá, cidade satélite de Brasília a 20 quilômetros de Brasília.   Abubakir foi internado na sexta-feira no Hospital Santa Luzia. Chegou com sintomas de febre amarela, mas com bom estado de saúde. Na noite do mesmo dia, ele já respirava por aparelhos. Morreu na tarde de ontem. Só com o resultado dos exames será possível afirmar se Abubakir foi infectado pelo vírus da febre amarela.   No feriado de ano-novo, Abubakir havia viajado para Pirenópolis, uma cidade a 150 km de Brasília, cujo principal atrativo são passeios em cachoeiras. No dia em que ele viajou, o Distrito Federal havia iniciado um esforço extra para imunizar a população. A medida havia sido desencadeada depois da morte dos macacos, no Parque Nacional de Brasília, freqüentado por milhares de pessoas em todos os fins de semana.   O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que foi governador do Distrito Federal entre 1995 e 1998, criticou o governo federal pela demora no alerta à população quanto à suspeita de que pode haver focos de febre amarela no Distrito Federal e em Goiás. "O governo deveria ter feito um serviço de prevenção assim que apareceram macacos mortos no Parque Nacional de Brasília", disse Cristovam. As primeiras notícias sobre a morte dos animais foram divulgadas três dias antes do ano-novo.   Para o professor de moléstias infecciosas e parasitárias da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Boulos, algumas medidas extras podem ser adotadas para reforçar a prevenção contra a febre amarela. "O governo agiu de forma adequada. Determinou a vacinação, acompanhou a morte dos macacos", disse.   Para que não falte vacina, 300 mil doses extras foram remanejadas para o Centro-Oeste. Boulos avalia que campanhas em períodos de férias, maior veiculação de informação em agências de turismo, companhias aéreas e de ônibus, são extremamente úteis. "Na década de 80, chegou-se a cogitar a exigência da vacina contra a doença para quem quisesse entrar nos Estados onde ela é endêmica. Mas isso acabou descartado, a pedido dos governadores."   Barreiras de vacinação, para Boulos, servem apenas por períodos curtos. "O mais importante é convencer a população da necessidade de estar imunizada caso viaje para locais onde há febre amarela silvestre ou quando pessoas moram em áreas de risco."   Boulos cita o caso do médico Drauzio Varella, que contraiu a doença ao viajar para região endêmica, como um exemplo de como é difícil que pessoas tenham a preocupação com vacinação sempre em mente. "Um médico preocupado como ele acabou baixando a guarda. Imagine o restante da população. Quando viajamos, nunca pensamos em precauções, o que é um erro."   O infectologista Vicente Amato Neto também observa o quanto é difícil modificar alguns hábitos. "A vacina não falta nos postos, há orientação para que quem viaja para locais de risco se proteja contra a doença. Agora é colocar isso em prática, mostrar para a população o quanto é precioso seguir as recomendações." O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, não se manifestou sobre o assunto.   Vacinação   Indicação: é recomendada para a população, a partir dos 9 meses de idade, residente nas áreas de risco de transmissão e para as pessoas que pretendem viajar para essas regiões (veja quadro na página A14). É dispensável para quem não pretende viajar ou não mora nesses locais   Período de imunidade: a vacina protege a pessoa por um período de dez anos. Após esse prazo, deve ser tomada uma nova dose   Antes da viagem: a dose deve ser aplicada dez dias antes de a pessoa viajar para as regiões com risco de transmissão   Contra-indicação: não devem tomar a vacina crianças menores de 9 meses e pessoas com imunodepressão transitória ou permanente, induzida por doenças ou por tratamento. Portadores de doenças, como aids, que morem em região de risco devem ser avaliados pelo médico. No caso das gestantes, a análise também deve ser feita por um médico. Pessoas alérgicas a ovo de galinha e seus derivados também devem ser submetidas à avaliação   Precaução: no caso de doença febril moderada ou grave, recomenda-se adiar a vacina até a resolução do quadro   (Colabora Lígia Formenti, de O Estado de S. Paulo)

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