PUBLICIDADE

Homem perde memória a cada 4 dias e anota a vida em cadernos

Intoxicação por inseticidas pode ter causado lesão no cérebro do aposentado Otávio Aparecido Costa Sanches, de 54 anos

Por Sandro Villar
Atualização:

PRESIDENTE PRUDENTE - A cada quatro dias, o aposentado Otávio Aparecido Costa Sanches, de 54 anos, morador de Lins (SP), esquece tudo o que aconteceu por causa de uma perda de memória. Por isso, ele passou a anotar os fatos mais importantes em cadernos. "Comecei com o esquecimento em 2010, piorou em 2011. Antes eu esquecia a cada sete dias, agora esqueço tudo a cada quatro dias. Comecei a fazer as anotações dos fatos mais importantes em 2012", explica Sanches em entrevista ao Estado.

Até agora, ele já preencheu três cadernos. "Está tudo nos cadernos, eu não me recordo dos fatos, sei que aconteceram porque estão anotados, como a goleada da Alemanha contra o Brasil", diz.

Otávio Sanches anota tudo o que acontece em cadernos desde 2012 Foto: Arquivo pessoal

PUBLICIDADE

O aposentado já não sai mais sozinho de casa. "Já me perdi algumas vezes, não achava o caminho de volta", diz, acrescentando que "sempre tem alguém" para acompanhá-lo. "São os meus dois filhos e a minha mulher Sueli", completa. 

Sanches conta que já foi examinado por 18 médicos. "Ainda não há um diagnóstico conclusivo, até hoje não descobriram ao certo o que tenho, oficialmente falam que é Alzheimer. Estou sendo examinado por médicos da Unesp de Botucatu. Eles disseram que eu sofro de hipoperfusão temporal direita. É uma lesão no cérebro", conta.

A causa da lesão pode ser intoxicação provocada por organofosforado, inseticida usado no controle de pragas. "A intoxicação por organofosforado foi comprovada por um exame que fiz em 2004. Fiz o segundo exame em 2012 e continuava intoxicado", diz Sanches, aposentado por invalidez.

Ele trabalhava na Prefeitura de Lins como agente de controle de pragas. "Eu usava diversos tipos de inseticidas, isso me intoxicou e acabou com a minha vida. Não havia equipamento adequado para proteger os agentes", queixa-se o aposentado, lembrando que também trabalhava como autônomo nas horas vagas. 

Ação na Justiça. O advogado de Sanches já entrou com ação na Justiça contra a Prefeitura de Lins. Ele não fala diretamente em indenização. "Queremos que a Prefeitura pague o tratamento médico, o juiz é que sabe(sobre indenização)", afirma. O aposentado descarta acionar judicialmente os fabricantes de inseticidas e agrotóxicos: "Eles não têm culpa, quem tem culpa é a Prefeitura por não fornecer equipamento adequado". 

Publicidade

A Prefeitura diz que ainda não foi notificada. "Vamos apresentar a documentação sobre o caso após a notificação", afirma Nilton Cesar Nunes, de 47 anos, coordenador de Comunicação Social. Ele lembra que o aposentado não compareceu nas audiências: "foram duas audiências neste ano, o senhor Otávio não compareceu em nenhuma".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.