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Hospitais e farmacêuticas culpam falta de prevenção por alta de custos

Entidades que representam hospitais privados e indústria rejeitam que seus produtos sejam os vilões da inflação da saúde

Por Dayanne Sousa
Atualização:

SÃO PAULO - Entidades que representam os hospitais privados e a indústria farmacêutica se uniram para produzir um estudo sobre a escalada de custos na saúde privada brasileira. No documento, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) rejeitam que os preços de seus produtos e serviços sejam os responsáveis pela alta de custos. As entidades citam deficiências na prevenção de doenças e falhas no sistema de remuneração aos hospitais como fatores que têm levado aos custos crescentes e ameaçado a sustentabilidade do setor privado.

Os gastos com saúde privada no Brasil chegaram a R$ 330 bilhões em 2016 Foto: Voglia_Comunica/Pixabay

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Os gastos com saúde privada no Brasil chegaram a R$ 330 bilhões em 2016, segundo a Anahp. O estudo destaca que o ritmo de crescimento desses gastos vem sendo superior ao da inflação no Brasil nos últimos cinco anos. Entre julho de 2012 e junho de 2017, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou 38,8%. Saúde e cuidados pessoais registraram no mesmo período de cinco anos uma variação de preço de 47,8%.

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Interfarma e Anahp rebatem um argumento muito utilizado por operadoras de planos de saúde: de que o consumo de materiais e medicamentos em hospitais é que representa um ofensor dos custos na saúde.

As entidades consideram que o preço dos procedimentos e dos remédios não tem subido muito mais do que a inflação. Sobre o mercado farmacêutico, o estudo diz, por exemplo, que o peso relativo dos medicamentos no total faturado pelos planos de saúde se manteve em torno de 3,3% nos últimos quatro anos.

Para o presidente executivo da Interfarma, Antônio Britto, a alta dos custos no sistema reflete a maior utilização. Ele considera que há uma tendência desafiadora em razão do envelhecimento da população e da incorporação de novas tecnologias. Argumenta, no entanto, que a pressão é maior porque falta uma atenção dos elos da cadeia com a prevenção de doenças.

"Não podemos nos queixar da longevidade e da tecnologia, mas o problema só vai piorar se não alterarmos os hábitos e não trabalharmos brutalmente em prevenção", comentou.

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O estudo defende que operadoras de planos de saúde deveriam investir na gestão de suas carteiras incentivando a prevenção. Investimentos na formação dos profissionais de saúde também são considerados desejáveis.

Outro ponto defendido é a mudança no modelo de remuneração dos hospitais. As entidades defendem que se deixe aos poucos o atual modelo, chamado "fee-for-service", segundo o qual os hospitais são remunerados por cada procedimento realizado. O entendimento é que esse modelo não incentiva a gestão eficiente de recursos.

O presidente do Conselho da Anahp, Francisco Balestrin, afirma que já existem hospitais em processo de transição para um modelo de remuneração por valor. Esse novo modelo dá um peso diferenciado, por exemplo, para tratamentos médicos bem-sucedidos.

Um hospital que realiza operações das quais o paciente se recupera rápido passa, assim, a ser mais bem remunerado do que um que tenha alto índice de pacientes que precisem passar por uma nova cirurgia.

A mudança, diz Balestrin, não é imediata. Entre os modelos transitórios que estão sendo praticados, há a cobrança por pacotes de procedimentos ou incorporação de critérios como o tempo de permanência do paciente na conta da remuneração. 

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