Hospitais filantrópicos dizem que têm 'kit intubação' para covid-19 por apenas uma semana

Assim como ocorre com a rede privada, estão acabando os sedativos e bloqueadores neuromusculares

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Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - Hospitais filantrópicos de São Paulo têm estoques de medicamentos indispensáveis no tratamento da covid-19 suficientes para apenas mais uma semana, alerta nota divulgada neste sábado, 20, pela Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado (Fehosp). 

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A exemplo do que também vem sendo registrado na rede privada, os produtos em escassez são os sedativos e bloqueadores neuromusculares que compõem o chamado “kit intubação”, essencial para intubar e manter intubados pacientes em estado crítico. Sem os remédios, o número de mortes pela doença pode aumentar consideravelmente.

O aumento pela demanda dos remédios, a escassez de matéria-prima para produção e custos significativamente mais elevados são alguns dos fatores que levam à redução dos estoques. Estão em falta os bloqueadores neuromusculares Atracúrio, Cisatracúrio, o relaxante muscular Rocurônio, usado para facilitar a intubação, o anticoagulante henoxaparina e o sedativo fentanil, entre outros.

“Na primeira onda a intubação ocorria em 50% a 60% dos casos”, explicou o diretor-presidente da Fehosp, Edson Rogatti. “Hoje, o que nós observamos é que 100% dos pacientes que precisam de UTI estão intubados; logo, aumentou de forma considerável o uso desses medicamentos.”

Além disso, explicou Rogatti, os hospitais continuaram atendendo outros pacientes.

“Não deixamos de atender as outras demandas hospitalares, como traumas, oncologia, cardiologia e outras doenças que também demandam intubações”, disse. “Agora, com o aumento dos casos de covid-19, principalmente dos que requerem UTI, estamos usando os bloqueadores neuromusculares e os sedativos em larga escala, o que está levando à escassez. E a escassez é um passo antes do desabastecimento.”

Equipe médica atuando em hospital de São Paulo no combate à pandemia de covid-19 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Para agravar ainda mais a situação, houve um aumento substancial dos preços dos medicamentos. O rocurônio, por exemplo, que em dezembro de 2020 custava R$ 16 a unidade, está custando agora R$ 298 – um aumento de nada menos que 1.762%. O preço do atracúrio passou de R$ 14 para R$ 69. O propofol, por sua vez, passou de R$ 13 para R$ 33 e o fentanil de R$ 5 para R$ 10. Segundo os laboratórios farmacêuticos, o aumento da demanda teria provocado um aumento no custo das matérias primas, que são importadas.

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“Em dezembro, já estávamos trabalhando com uma inflação que vinha desde o começo da pandemia”, afirmou Rogatti. “Já vivenciamos isso no passado e, agora, estamos vivenciando de forma mais intensa por conta do aumento abrupto do número de casos. Com a escassez, alguns distribuidores que estocaram estão ofertando a preços absurdos em um momento tão crítico do enfrentamento. Se o hospital comprar a esse preço, não conseguirá manter sua sustentabilidade e irá sucumbir.”

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