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Hospitais pedem contrapartida para cooperar com o governo

Presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados sugere isenção fiscal para atuar na periferia

Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

O novo presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP), Henrique Salvador Silva, não descarta a possibilidade de cooperação entre o setor e o sistema público de saúde. No entanto, espera alguma forma de contrapartida do governo.   Em entrevista ao Estado, Silva critica o projeto, em discussão em São Paulo, que prevê a outorga onerosa para os hospitais da rede privada. Com isso, a cada leito aberto no sistema, os hospitais deveriam se responsabilizar pelo atendimento em regiões carentes da cidade. O presidente da ANAHP também prevê uma disputa acirrada no setor como reflexo da crise econômica. Como o senhor avalia o projeto de outorga onerosa? Existem duas situações distintas, uma para os hospitais com fins lucrativos e outra para os filantrópicos. Os filantrópicos já fazem esse serviço, com as parcerias com o sistema público. Para os hospitais puramente privados, com fins lucrativos e que pagam os impostos de qualquer empresa paga - muitas vezes com dificuldade de caixa -, vejo isso com dificuldade. Uma coisa é aderir de forma espontânea, outra é ter de aderir de forma compulsória. Qual a contrapartida? Então é um projeto inviável para os hospitais privados? Para os hospitais com fins lucrativos, o sistema hoje é muito apertado, com margens pequenas de lucro. O que seria um exemplo de contrapartida? A isenção fiscal é uma delas. Que avaliação o senhor faz da renovação do cadastro dos hospitais filantrópicos? Existem entidades filantrópicas que estão absolutamente dentro dos parâmetros da lei. Não vejo problema, até porque existem benefícios na outra ponta, com programas que beneficiam a população. Como o senhor avalia a possibilidade de cooperação com o sistema público de saúde? A Anahp tem uma série de programas que já são desenvolvidos a algum tempo e os resultados que estão sendo colhidos agora certamente irão influenciar o sistema como um todo. Sistema Integrado de Indicadores da Anahp (Sinha), com indicadores de performance dos hospitais que compõe a associação. São informações que não existiam para esse segmento e que, hoje, são utilizadas por toda a cadeia produtiva da saúde suplementar. Outro é o Programa Melhores Práticas Assistenciais, que são indicadores da atividade assistencial, são algumas doenças que são mais prevalentes e têm impacto maior em termos de custos e complexidade de atendimento. Também são acompanhados os resultados da implantação de protocolos para acompanhar o tratamento dessas doenças. As doenças que vêm sendo acompanhadas são enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral isquêmico (derrame cerebral), sepses (infecção), pneumonia adquirida na comunidade, tanto por crianças como adultos, e algumas cirurgias, como a retirada de vesículas por videolaparoscopia e retirada total do útero, que são cirurgias muito comuns. A literatura tem resultados dessas doenças e cirurgias. O que estamos fazendo é acompanhar os resultados do grupo de hospitais e dos hospitais individualmente, para ver se são compatíveis com a literatura médica. Quais são os resultados? Por exemplo, em relação à pneumonia e à sepse houve uma baixa de mortalidade, as infecções por uso de cateter venoso central também diminuíram em relação à comparação internacional, apesar de haver aumento da freqüência de uso. Quanto ao AVC, houve diminuição também. A coleta foi feita de janeiro de 2007 a junho de 2008, em 30 hospitais. A Anahp tem 37 hospitais. Os casos de infecção por micobactérias também foram analisados? Existem normas, hoje, muito rígidas de alguns tipos de equipamentos que têm chance maior de transmitir a infecção por micobactérias. A própria Anvisa já regulamenta o que pode e o que não pode ser feito. O que nós orientamos é que os hospitais sigam as normas e notifiquem os casos, pois há a necessidade de saber qual a real prevalência. Isso está sob controle? É uma situação perfeitamente controlável, até porque todos esses hospitais têm serviços de epidemiologia e controle de infecção hospitalar muito bem estabelecidos. Até porque são hospitais de referência. Alguns deles treinam equipes e são multiplicadores do conhecimento sobre infecção. Qual será o impacto da crise econômica para o setor? Quem financia o setor hoje? As empresas como um todo, pois a maioria dos planos são coletivos. Se houver desemprego, diminuição do crescimento ou recessão, a tendência é que haja uma diminuição de vidas no sistema e, com isso, uma competição acirrada entre os hospitais pelas vidas que restarem no sistema. A outra questão são os insumos importados, que podem causar impacto. Quais as perspectivas de investimento, mesmo ante a crise? Os hospitais estão buscando alternativas. É uma tentativa de crescer em rede e racionalizar o que é possível, compatibilizando áreas como compras e criando redes de atendimento horizontais. Mas não existe uma tendência de verticalização da gestão? Isso é um dispositivo usado pelas empresas de medicina de grupo que têm hospitais próprios e com isso controlam seus custos. Existem duas formas de lidar com isso: o modelo vertical, com leitos e laboratórios próprios, e o outro é o modelo voltado para o controle de custos, muitas vezes até em detrimento da qualidade assistencial. Isso vem acontecendo nos hospitais que se verticalizaram? Se a proposta é simplesmente reduzir custos e não organizar o atendimento, pode haver um prejuízo na qualidade assistencial, e é contra isso que nós lutamos. Existem estudos que mostram que esse modelo não reduziu custos e por isso algumas operadoras optaram por não seguir o modelo de verticalização.

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