Hospitalizados com coronavírus podem apresentar problemas mentais após alta

Estudo é uma análise do resultado de pesquisas anteriores envolvendo pessoas que tiveram que ser hospitalizadas por causa do coronavírus causador da SARS de 2002; da MERS em 2014 e da atual covid-19

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Por Redação
Atualização:

MADRI - Pacientes com quadros graves de infecção pelos coronavírus causadores da covid-19, SARS e MERS podem apresentar problemas mentais durante a hospitalização e "potencialmente" após a recuperação, de acordo com uma pesquisa que analisou estudos existentes a respeito dessas doenças.

Propaganda pede que pessoas fiquem em casa em Madri para conter coronavírus Foto: REUTERS/Sergio Perez

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"A maioria das pessoas com covid-19 não desenvolverá problemas de saúde mental, mesmo entre os casos mais graves que exigem hospitalização", diz Jonathan Rogers, do Instituto de Saúde Mental da UCL, e um dos autores do estudo publicado na Lancet Psychiatry.

Ainda assim, "um em cada quatro hospitalizados por covid-19 pode experimentar delírio durante a doença", um estado mental caracterizado por alterações no nível de consciência, problemas comportamentais e, às vezes, alucinações, indica o trabalho.

O estudo é uma análise do resultado de pesquisas anteriores envolvendo pessoas que tiveram que ser hospitalizadas por causa do coronavírus causador da SARS de 2002; da MERS em 2014 e da atual covid-19.

Os autores do novo documento analisaram 65 estudos revisados por outros especialistas e sete textos pré-publicados aguardando revisão, com dados de mais de 3,5 mil pessoas que sofreram uma das três doenças.

Durante a internação hospitalar, "uma minoria significativa de pessoas" infectadas com alguma forma de coronavírus experimentou sintomas de delírio, como confusão, agitação e alteração de consciência.

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Quase 28% das pessoas hospitalizadas por SARS e MERS experimentaram confusão, e evidências precoces da pandemia em curso sugerem que o estado de delírio também pode ocorrer em pacientes com covid-19.

A respeito dos possíveis riscos de estresse pós-traumático, fadiga crônica, depressão ou ansiedade no longo prazo, uma vez superada a covid-19, os especialistas indicam que esse ainda é um fator desconhecido, por se tratar de uma doença recente.

Assim, a equipe se concentrou em estudos anteriores a respeito da SARS e da MERS. Os cientistas alertaram que o conhecimento existente envolvendo surtos anteriores de outros coronavírus pode ser útil, mas não pode prever com precisão a incidência de complicações psiquiátricas na atual pandemia.

A análise de estudos envolvendo SARS e MERS "indica" que "pode haver um risco" de depressão, ansiedade, fadiga e até síndrome de estresse pós-traumático nos meses e anos após a alta.

Profissionais de saúde cuidam de paciente com covid-19 na UTI do Hospital São Luiz Jabaquara Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Quase uma em cada três pessoas hospitalizadas por SARS ou MERS desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático, dentro de um tempo médio de acompanhamento de quase três anos, especialmente nos casos de pacientes com problemas físicos de saúde contínuos.

Os autores dizem que a comunidade médica deve estar ciente da possibilidade de esses problemas ocorrerem após a atual pandemia.

Há várias razões pelas quais infecções graves por coronavírus podem ter consequências psiquiátricas, incluindo os possíveis efeitos diretos da infecção (incluindo no sistema nervoso central), da resposta imunológica e das intervenções médicas.

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Outras razões estão relacionadas ao impacto social mais amplo, incluindo o isolamento social, o impacto psicológico de uma nova doença grave que traz risco de vida, a preocupação em infectar outras pessoas e o estigma.

Os autores reconhecem algumas limitações da análise, como o uso de alguns estudos que ainda não foram revisados por outros especialistas, a inclusão apenas de textos em inglês ou a amostragem pequena usada em algumas pesquisas.

Embora a epidemia de covid-19 tenha afetado uma grande proporção da população mundial, relativamente pouco se sabe sobre seus efeitos potenciais na saúde mental, observa a pesquisa. Assim, Edward Chesney, do King's College London e co-autor da análise, apontou que são necessários mais estudos para saber como prevenir problemas de saúde mental no longo prazo, investigar quais fatores podem contribuir para sua ocorrência e desenvolver intervenções. / *Tradução de Augusto Calil

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