PUBLICIDADE

Importação de vacina pronta de Oxford feita na Índia custa R$ 59,4 milhões ao governo

Chegada das doses prontas é a principal aposta do governo Jair Bolsonaro para começar a campanha de vacinação em 20 de janeiro

Por Mateus Vargas
Atualização:

BRASÍLIA – A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou nesta terça-feira, 5, que custará US$ 5,25 (R$ 27,9) a importação de cada unidade de um lote de 2 milhões de doses prontas da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. No total, o negócio será de cerca de R$ 59,4 milhões, pois também soma valores de etiqueta, transporte e armazenamento. A vacina é fabricada pelo Instituto Serum, na Índia, e deve chegar ao Brasil em meados de janeiro.

Funcionário trabalha na Fiocruz Foto: Diego Vara/Reuters

PUBLICIDADE

A importação das doses prontas é a principal aposta do governo Jair Bolsonaro para começar a campanha de vacinação em 20 de janeiro. A Fiocruz deve pedir nesta semana o aval para uso emergencial do produto. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estima levará até 10 dias para concluir a análise deste pedido. O governo afirma que não há veto do governo indiano para a venda ao Brasil.

Além de importar 2 milhões de doses prontas, o governo pretende receber em janeiro ingrediente para fabricar, na Fiocruz, 210,4 milhões de unidades do mesmo imunizante em 2021. O laboratório brasileiro assinou um contrato de “encomenda tecnológica” com a AstraZeneca. As doses concluídas no Brasil devem ser entregues a partir de fevereiro. Em média, o governo pagará US$ 2,3 (R$ 12,25) pelo ingrediente necessário para fabricar cada unidade do imunizante.

O imunizante da Pfizer, cuja cumpra é negociada pelo governo federal, custa cerca de US$ 20 (R$ 106,52) por unidade. O valor entre a empresa e o ministério, porém, é desconhecido. A Pfizer já disse que deve ser menor, pois o Brasil participou da pesquisa clínica de desenvolvimento da vacina contra a covid-19. A vacina tem eficácia média de 95%, mas exige temperatura de armazenamento de -70 graus.

Ministério desconhecia preço para importação da Índia

A negociação para comprar doses prontas da vacina de Oxford foi feita no fim de 2020. O governo federal é pressionado para antecipar o calendário de imunização. Em pronunciamentos, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apontou datas distintas sobre o começo da campanha contra a covid-19: de dezembro de 2020 a março deste ano. Pesa ainda sobre o ministério a estimativa do governador paulista João Doria (PSDB) de começar a vacinar em 25 de janeiro, com o uso da Coronavac. Doria é inimigo político do presidente Jair Bolsonaro.

Em 29 de dezembro Pazuello teve reunião com representantes da AstraZeneca, que ofereceram ao governo federal o produto pronto para a importação. Em 31 de dezembro, a Fiocruz pediu à Anvisa o aval para trazer as doses. Horas mais tarde, o Ministério da Saúde ainda questionava o laboratório brasileiro e a AstraZeneca sobre qual seria o valor de cada dose do produto.

Publicidade

Apesar de usar a falta de registro na Anvisa como justificativa para negar a compra imediata de doses da Coronavac e da Pfizer, o ministério aceitou a importação de doses da AstraZeneca, mesmo sem conhecer o valor do negócio. O produto também não tem registro da agência brasileira.

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou sobre a importação. 

O governo investiu cerca de R$ 2 bilhões para firmar o contrato de encomenda tecnológica, comprar o ingrediente para fabricação das doses e equipar a Fiocruz. No plano nacional de imunização, o governo prevê aplicar doses desta vacina em cerca de 50 milhões de brasileiros de grupos prioritários ainda no primeiro semestre.

A falta de transparência sobre os dados da vacina de Oxford e AstraZeneca gerou críticas na comunidade científica. Um erro de dosagem levou a dois resultados de eficácia do produto: 62% quando aplicada em um regime de duas doses completas e 90% com meia dose seguida de outra completa. Há ainda dúvidas sobre os resultados para pessoas acima de 55 anos.

PUBLICIDADE

Responsável por coordenar o estudo clínico da vacina no Brasil, a médica Lily Yin Weckx disse ao Estadão que a primeira dose da vacina já mostra eficácia de cerca de 70% contra a doença, mas em intervalo curto. "A gente ainda pode ficar com a média de eficácia de 70%. O estudo continua; teremos um ano de segmento para ver a persistência da proteção, dos anticorpos, de segurança, etc".

Segundo Lily, "o que é importante é que temos uma vacina segura, eficaz e que pode fazer a diferença na pandemia. Esses número de 60%, 70%, 80% é de proteção contra a doença covid. Mas se considerarmos doenças graves e hospitalização, a vacina foi capaz de evitar quase 100%". Ela diz que entre as pessoas que foram vacinadas, nenhuma teve uma doença grave ou ficou hospitalizada por covid. Todas as hospitalizações ocorreram no grupo controle.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.