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Imunização para todos

Prever a relação do organismo com o vírus é complicado; a vacina protegeria todos

Por Jairo Bouer
Atualização:

Na última semana, a Sociedade Americana do Câncer atualizou suas orientações e passou a recomendar a vacina contra o HPV para todas as crianças, independentemente do sexo. Até então, nos EUA, apenas as garotas de 11 a 12 anos eram foco da vacina para reduzir as chances de infecção pelo vírus, considerado hoje o agente mais comum das doenças transmitidas pelo sexo (DSTs).

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A mudança reflete uma preocupação dos médicos com o aumento de casos de câncer de vulva, vagina e colo de útero (nas mulheres), de pênis (nos homens) e de ânus, boca e garganta em ambos sexos, ligados ao vírus. As novas orientações chegam uma semana depois de o Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC) alertar que mais de 40 mil novos casos de câncer ligados ao HPV são diagnosticados todos os anos naquele país. De acordo com o órgão, 80% poderiam ser evitados. Os trabalhos atuais mostram que a vacina é tão eficaz nos homens quanto nas mulheres. As informações são do jornal inglês Daily Mail.

A Austrália já vacina, gratuitamente, meninos e meninas a partir dos 12 anos desde 2013. A justificativa foram estudos que mostraram que a vacinação diminui o número de casos de câncer nos homens, além de reduzir, por tabela, a chance de eles transmitirem os subtipos mais agressivos do vírus (cobertos pelas vacinas atuais) para as mulheres. Outro motivo é que a prevalência do vírus em garotos homo e bissexuais era mais alta do que na população geral. Como é muito difícil prever qual será a futura orientação sexual de um garoto antes da adolescência, a vacina protegeria todos.

No esquema preconizado nos EUA, os adolescentes devem receber as três doses em um intervalo de 6 meses. No Brasil, recentemente, houve uma mudança de orientação do Ministério da Saúde e as jovens podem ser vacinadas a partir dos 9 anos, recebendo apenas duas doses em um intervalo de 6 meses. O novo esquema é baseado em trabalhos que mostram melhor resposta imunológica nessa faixa de idade. Os meninos ainda não estão incluídos na vacinação pública, mas os pais podem recorrer às clínicas particulares.

Iniciar a vacinação cedo é um esforço para que a proteção seja feita antes do começo da atividade sexual dos jovens (quando ainda não aconteceu exposição ao vírus). No Brasil, se estima que metade dos meninos e um terço das meninas já fez sexo antes dos 15 anos. Pesquisa do Ministério da Saúde de 2015 mostra que quase a metade não usa camisinha de forma regular, o que aumenta o risco de contato com o HPV, além de outras DSTs.

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Difícil de prever. Entender a biologia desse vírus não é fácil. Composto por mais de cem subtipos, alguns têm “preferência” pelas áreas genitais. Destes, alguns, como o 16 e o 18 (cobertos pelas vacinas), são mais agressivos e trazem risco maior de lesões que podem levar a um câncer. Outros provocam “verrugas” na região genital e podem ser transmitidos pelo sexo.

Aliás, trabalhos atuais têm correlacionado o aumento dos casos de câncer de boca e garganta em pessoas mais jovens à pratica disseminada de sexo oral, que também tem potencial de transmitir o vírus. Homens que praticam sexo oral em mulheres teriam risco duas vezes maior do que mulheres ou homens que praticam em outros homens (provavelmente pelo maior contato com mucosa e secreções).

A maior parte das pessoas vai entrar em contato com o HPV em algum momento da vida. A maioria vai eliminar o vírus por conta própria. Outros vão conviver com ele, mas não apresentarão alterações. Só uma pequena parte terá verrugas e uma porção ainda menor vai desenvolver algum tipo de lesão que pode levar a um câncer. Mas prever qual será a relação do organismo com o vírus é muito complicado. Nesse sentido, a vacina protegeria todos.

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