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Indicadas para profissionais da saúde, viseiras são utilizadas por trabalhadores de supermercados

Especialistas reforçam qual é o uso correto da máscara de proteção facial também conhecida como Face Shield

Foto do author Renata Okumura
Por Renata Okumura
Atualização:

SÃO PAULO - Recomendada para profissionais de saúde que estão na linha de frente ao novo coronavírus, a viseira também chamada de face shield está sendo usada por funcionários de supermercados na capital paulista. O modelo de proteção feito de plástico funciona como uma espécie de visor transparente para o rosto. Especialistas reforçam que o dispositivo é um complemento a mais aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), considerados obrigatórios, que são o avental, óculos, touca e máscara. Para eles, a utilização de máscara, protetores nos caixas e a aplicação de álcool em gel em estabelecimentos já são medidas suficientes para proteger funcionários e clientes.

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A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) também disse que não tem aconselhado o uso específico de viseira. "Apenas recomenda que todos sigam rigorosamente as orientações da Organização Mundial de Saúde", destacou, em nota. Já a Associação Paulista de Supermercados (Apas) afirmou que apoia qualquer barreira física entre o funcionário e o cliente. "Algumas formas encontradas são as proteções de acrílico (como as instaladas nos caixas), viseira (para o rosto) ou máscara", disse, em nota.

"Por funcionar como uma barreira, (o dispositivo de acrílico) ajuda na proteção para que as gotículas expelidas por pacientes não atinjam o rosto do profissional de saúde. As gotículas não chegarão na máscara nem nos óculos. Mas é preciso ressaltar que é um complemento de proteção extra em razão do vírus ser muito contagioso. A máscara e os óculos devem ser usados por baixo da viseira", explica Zilda de Castro Silveira, professora do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de São Paulo (EESC-USP).

Profissional de saúde da linha de frente ao novo coronavírus com viseira, dispositivo que é um complemento a mais ao EPI Foto: Santa Casa de São Carlos

Os supermercados são considerados como serviços essenciais. Mesmo com a quarentena, é comum observar aglomerações de clientes em estabelecimentos. Como medidas preventivas, muitas lojas disponibilizam álcool em gel, medem a temperatura dos consumidores na entrada e fazem demarcações no chão para sinalizar a distância mínima de 1,5 m na fila dos caixas. Algumas unidades redobraram a frequência de higienização das lojas, carrinhos e cestos de compras. Orientaram os trabalhadores a usar máscaras e instalaram as proteções de acrílico nos caixas. Para evitar aglomeração, reforçam pelo alto-falante que apenas uma pessoa da família deve vir ao supermercado e que idosos, que realmente precisam vir,  venham em horários especiais, que foram criados para manter a proteção desse grupo de risco. Mas, além das ações citadas anteriormente, nos últimos dias, também foi observado o uso das viseiras.

"Diferentemente dos profissionais de saúde, os trabalhadores dos supermercados e comércio não estão lidando diretamente com pessoas doentes. Eventualmente, pode ter uma pessoa doente. O uso de máscaras e a proteção de acrílico (nos caixas), que atua como uma barreira entre o funcionário e o cliente, funcionam bem. O protetor nos caixas também impede o contato e a passagem de gotículas. Caso não tenha este anteparo, idealmente, levando em consideração a possibilidade de ter infectados entre os clientes, o funcionário deveria usar touca, máscara, óculos de proteção e até mesmo avental", avalia Alexandre Naime Barbosa, docente do Departamento de Infectologia, Dermatologia, Diagnóstico por Imagem e Radioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (FM/ Unesp) do Campus de Botucatu. "Medidas de conscientização e de higienização também surtem efeito nos estabelecimentos. É recomendável, por exemplo, que seja feita sempre a higienização da máquina de passar cartão de crédito que é de uso compartilhado", reforçou.

Não somente os funcionários, mas a recomendação é que a população também adote o uso de máscaras como forma de precaução. O uso de viseira é indicado para profissionais da saúde. "A utilização da máscara caseira se mostrou uma ótima ferramenta para conter a pandemia da covid-19. Pode ser usada para quem precisa sair para trabalhar em atividades essenciais ou mesmo a população em geral. Acredito que a viseira poderia até complicar a situação", aconselha Unaí Tupinambás, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Além do uso correto de acessórios de prevenção ao novo coronavírus, especialistas também alertam para a importância de sempre ser feita a higienização ou lavagem correta de todos os itens, assim como descarte quando não é possível usá-los por mais de uma vez, como é o caso das máscaras cirúrgicas. Na hora de retirar do rosto qualquer item de proteção, procure retirar sempre pelos lados e nunca pela parte frontal. E não se esqueça, independentemente de qualquer acessório, a lavagem correta das mãos continua obrigatória.

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Mesmo com as viseiras estão sendo feitos testes para avaliar as formas corretas de higienização que permitam a reutilização segura dos equipamentos. "Testes iniciais de esterilização com peróxido de hidrogênio (como se fosse água oxigenada) mostraram ser eficientes, para esterilização das viseiras, na Santa Casa de São Carlos, no interior de São Paulo", disse a professora Zilda. Mas ela avalia com cautela a reutilização da viseira. "Apesar dos testes iniciais se mostrarem eficientes, recomenda-se que sejam descartadas após o uso".

Várias universidades se engajaram na produção de visores impressos em 3D Foto: Zilda de Castro Silveira, professora do EESC-USP

A Santa Casa de São Carlos recebeu 680 máscaras faciais que foram doadas pelo projeto acadêmico Creare de reabilitação terapêutica, que foi coordenado pela professora Zilda. "Várias universidades se engajaram na produção de visores impressos em 3D porque estamos vivendo uma situação atípica e de caráter emergencial. A partir daí, a indústria começou a se mobilizar para fazer o mesmo modelo de projeto para atender em larga escala a demanda dos hospitais", disse a professora do EESC-USP.

Ela lembra, porém, que uma das questões relacionadas às viseiras impressas por 3D é a porosidade. "Em razão da estruturação física das peças, camada por camada, elas possuem uma certa porosidade que podem ser minimizadas em função das técnicas aditivas utilizadas. Depois de imprimir, é possível borrifar acetona, por exemplo, na peça inteira. A reação química diminui os poros e faz acabamento superficial da peça", concluiu.

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