Infecções por HIV têm queda recorde em SP, mas aumentam entre idosos

Número de novos casos na cidade caiu 18% entre 2017 e 2018, a maior redução desde 1996. Terapia preventiva oferecida pelo SUS é apontada como a principal causa da diminuição, mas crescimento de 15% dos registros em maiores de 60 anos preocupa

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Por Fabiana Cambricoli e Paula Felix
3 min de leitura

SÃO PAULO - As infecções por HIV registraram queda recorde na cidade de São Paulo no último ano, mas aumentaram entre os idosos. Embora o grupo mais vulnerável ao vírus continue sendo o de homens jovens, a parcela da população maior de 60 anos foi a única, entre adultos, na qual foi observado crescimento dos casos de HIV, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde.

As infecções por HIV registraram queda recorde na cidade de São Paulo Foto: REUTERS/Yiorgos Karahalis

No cenário geral, o número de novas infecções na capital caiu quase 18% entre 2017 e 2018, passando de 3.826 registros para 3.145. Mesmo índice de redução foi observado na taxa de detecção, que indica o número de infectados por 100 mil habitantes. O indicador passou de 32,7 para 26,8 no período analisado. É a maior queda desde 1996. Entre 2016 e 2017, a taxa de detecção já havia caído 1,9%.

Entre os idosos, o número de novos casos aumentou 15%, passando de 92 em 2017 para 106 no ano passado.

É a primeira vez, desde 2006, que a cidade observa diminuição da taxa de detecção por dois anos seguidos. “A queda consecutiva pelo segundo ano indica, em epidemiologia, uma tendência mais sólida de queda, e não algo apenas pontual”, destaca Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids da Prefeitura.

Segundo Cristina e outros especialistas no tema, o principal fator para a redução significativa no número de infecções foi a introdução, no SUS, da profilaxia pré-exposição (PrEP), terapia com medicamentos antirretrovirais oferecida a pessoas sem o HIV de forma preventiva. Geralmente, ela é indicada a grupos mais vulneráveis à infecção, como jovens homossexuais, profissionais do sexo ou casais em que apenas um dos parceiros é soropositivo.

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“Foram vários fatores que contribuíram para essa queda, como aumento de testes realizados, oferta de camisinhas e ampliação do leque de opções de prevenção, como a profilaxia pós-exposição e pré-exposição. Mas se eu tiver de indicar o fator principal, foi a PrEP”, explica Cristina. A terapia passou a ser ofertada no SUS em janeiro de 2018 e hoje já é usada na cidade por cerca de 4 mil pessoas.

“Foi de fundamental importância porque foca nos grupos mais vulneráveis. É uma estratégia que funciona, mas que precisa ser ampliada para mais pessoas, incluindo idosos”, destaca Gisele Cristina Gosuen, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Idosos. A especialista, responsável pelo Ambulatório de HIV e o Envelhecer da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca como causas para o aumento de casos entre idosos uma vida sexual mais ativa nessa geração, possibilitada por medicamentos para disfunção erétil e aplicativos de relacionamento. 

Ela ressalta que as políticas públicas de HIV/Aids precisam também contemplar essa população. “Conversar com o idoso sobre sexo ainda é um tabu. As estratégias de prevenção e de tratamento são pensadas para os jovens. O idoso tem outro comportamento e condições de saúde que nem sempre permitem que ele inicie o tratamento com os mesmos medicamentos que o jovem”, afirmou.

Ativista e consultora em prevenção ao HIV/aids, Silvia Almeida avalia que o crescimento de casos entre idosos tem relação com o fato de mais pessoas estarem fazendo o teste e com mudanças nos padrões de comportamento dessa faixa etária.

"A terceira idade tem sido o momento de viver o que a pessoa não viveu a vida inteira e isso inclui a sexualidade.Antigamente, a gente pensava que as pessoas com 50 anos não tinham vida sexual ativa, mas a sexualidade nasce e morre no nosso corpo, faz parte dos nossos sentidos. As campanhas ainda estão muito aquém do que a gente precisa."

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