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Psiquiatria e sociedade

Opinião|Inteligência ao cubo

Jogos de palavras podem ampliar o vocabulário, uma medida indireta de inteligência

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Atualização:

Os cubos mágicos estão de volta (assim como a Mesbla e o Orkut, o que me faz realmente pensar que tudo é realmente cíclico).

Não estou certo se esse quebra-cabeças criado na década de 1970 pelo húngaro Erno Rubik saiu mesmo de moda e agora está sendo redescoberto por uma geração em que ser nerd é motivo de orgulho ou se sempre esteve aí ocupando um nicho que agora tem mais visibilidade para mim. Seja o que for, fato é que meu filho mais velho tem uma coleção e me sugeriu fazer uma coluna falando do assunto. 

'Criar memórias é tão importante quanto desenvolvê-las' Foto: Sigmund Weawa/Unsplash

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Ele já se frustrou muito tentando me ensinar a montar o cubo, mas como sou completamente incapaz de aprender deve ter pensando que eu poderia no mínimo tratar do tema de algum jeito. Esse pelo menos é um desafio do qual pareço estar à altura. Acho.

Existem discussões envolvendo a real possibilidade de transferência de aprendizado – se ao desenvolvermos determinada habilidade ela fica restrita àquilo que treinamos ou se ela pode ser generalizada para outras funções. Chama-se transferência proximal quando o aprendizado serve apenas para uma coisa – se o treino do cubo mágico só ensinar a resolver cubos mágicos, por exemplo. Mas não parece ser o caso.

Há pelo menos uma pesquisa mostrando que alunos que aprenderam a solucioná-lo apresentaram maior desenvolvimento de habilidades espaciais, como as tarefas de rotação mental de objetos, funções associadas ao melhor desempenho em ciências, matemática e tecnologia. Haveria então uma transferência distal – de uma tarefa para outra, não diretamente relacionada.

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Muito se debate também se o xadrez teria essa capacidade. Embora estudos indiquem que alunos que aprendem o jogo não tenham notas necessariamente melhores do que os outros, as funções executivas – como capacidade de concentração e planejamento – parecem sim se beneficiar do treino de xadrez. Nem só de notas se faz alguém bem-sucedido, afinal.

Algo semelhante se dá com jogos de palavras: mesmo sem melhorar o boletim, eles podem ampliar o vocabulário, que é por si só uma medida indireta de inteligência.

Pelo sim, pelo não, sigo jogando com meus filhos. Esses dias fomos apresentados a uma remodelagem do jogo stop, aquele em que é preciso encontrar palavras em diferentes categorias o mais rapidamente possível.

O designer de jogos Rafael Verri fez uma versão em cartas lançada pela editora Galápagos com o divertido nome de UeStop, mesclando o jogo de palavras original com uma versão do jogo tapão, em que temos de bater na mesa o mais rapidamente possível, unindo velocidade de leitura, reflexo e vocabulário.

Se eles ficarão mais inteligentes com jogos como esses, não sei. Mas nos divertimos bastante, o que já é muito. Porque criar memórias é tão importante quanto desenvolvê-las. 

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* É PROFESSOR COLABORADOR DO DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP 

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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