Os cubos mágicos estão de volta (assim como a Mesbla e o Orkut, o que me faz realmente pensar que tudo é realmente cíclico).
Não estou certo se esse quebra-cabeças criado na década de 1970 pelo húngaro Erno Rubik saiu mesmo de moda e agora está sendo redescoberto por uma geração em que ser nerd é motivo de orgulho ou se sempre esteve aí ocupando um nicho que agora tem mais visibilidade para mim. Seja o que for, fato é que meu filho mais velho tem uma coleção e me sugeriu fazer uma coluna falando do assunto.
Ele já se frustrou muito tentando me ensinar a montar o cubo, mas como sou completamente incapaz de aprender deve ter pensando que eu poderia no mínimo tratar do tema de algum jeito. Esse pelo menos é um desafio do qual pareço estar à altura. Acho.
Existem discussões envolvendo a real possibilidade de transferência de aprendizado – se ao desenvolvermos determinada habilidade ela fica restrita àquilo que treinamos ou se ela pode ser generalizada para outras funções. Chama-se transferência proximal quando o aprendizado serve apenas para uma coisa – se o treino do cubo mágico só ensinar a resolver cubos mágicos, por exemplo. Mas não parece ser o caso.
Há pelo menos uma pesquisa mostrando que alunos que aprenderam a solucioná-lo apresentaram maior desenvolvimento de habilidades espaciais, como as tarefas de rotação mental de objetos, funções associadas ao melhor desempenho em ciências, matemática e tecnologia. Haveria então uma transferência distal – de uma tarefa para outra, não diretamente relacionada.
Muito se debate também se o xadrez teria essa capacidade. Embora estudos indiquem que alunos que aprendem o jogo não tenham notas necessariamente melhores do que os outros, as funções executivas – como capacidade de concentração e planejamento – parecem sim se beneficiar do treino de xadrez. Nem só de notas se faz alguém bem-sucedido, afinal.
Algo semelhante se dá com jogos de palavras: mesmo sem melhorar o boletim, eles podem ampliar o vocabulário, que é por si só uma medida indireta de inteligência.
Pelo sim, pelo não, sigo jogando com meus filhos. Esses dias fomos apresentados a uma remodelagem do jogo stop, aquele em que é preciso encontrar palavras em diferentes categorias o mais rapidamente possível.
O designer de jogos Rafael Verri fez uma versão em cartas lançada pela editora Galápagos com o divertido nome de UeStop, mesclando o jogo de palavras original com uma versão do jogo tapão, em que temos de bater na mesa o mais rapidamente possível, unindo velocidade de leitura, reflexo e vocabulário.
Se eles ficarão mais inteligentes com jogos como esses, não sei. Mas nos divertimos bastante, o que já é muito. Porque criar memórias é tão importante quanto desenvolvê-las.
* É PROFESSOR COLABORADOR DO DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP