PUBLICIDADE

Inverno é hora de ampliar ação de combate ao 'Aedes'

Pesquisadores abordaram epidemia no Brasil durante palestras de lançamento da série USP Talks, na Livraria Cultura

Por Herton Escobar
Atualização:
O projeto USP Talks tem como objetivo fomentar o diálogo entre a comunidade acadêmica e a sociedade Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADÃO

SÃO PAULO - O verão já acabou, o pico da epidemia de dengue já passou, e os cientistas já não tem mais dúvidas sobre a capacidade do vírus da zika de causar microcefalia em bebês. Mas o problema está longe de ser resolvido, e não é hora de baixar a guarda. Pelo contrário: É justamente no inverno que o combate o combate ao mosquito Aedes aegypti - e às doenças transmitidas por ele - precisa ser intensificado.

PUBLICIDADE

Quem dá o alerta são os pesquisadores Margareth Capurro e Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), que fizeram as palestras de lançamento da série USP Talks, nesta quarta-feira, 27, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista.

Especialista em mosquitos transmissores de doenças, Margareth comparou a luta contra o Aedes aegypti a uma guerra, que exige o uso integrado e coordenado de várias armas para ser vencida - incluindo desde os métodos mais simples, como colocar areia em pratinhos de plantas, até o uso de intervenções biotecnológicas, como mosquitos transgênicos, estéreis ou infectados com bactérias, para bloquear a transmissão dos vírus. Nenhuma dessas armas é capaz de derrotar o mosquito sozinha, disse a pesquisadora, mas aplicando-as em conjunto, na hora certa e nos lugares certos, é possível manter o inseto sob controle.

Assim como em qualquer conflito, disse Margareth, é mais fácil vencer seu inimigo quando ele está em menor número e mais vulnerável. E no caso do mosquito Aedes aegypti, esse momento é o inverno. “O mosquito você combate quando ele está em baixa, não quando ele está em alta”, disse a pesquisadora. “É muito mais fácil matar mil soldados do que um milhão.”

Aproveitando que há menos mosquitos adultos no ambiente e menos criadouros disponíveis para eles se reproduzirem, por causa do tempo seco, as autoridades deveriam intensificar seus esforços de conscientização da população e de combate ao inseto para impedir que ele retorne em grandes números no verão seguinte. Mas é justamente nessa época, diz a pesquisadora, que o problema costuma ser esquecido, favorecendo a perpetuação do problema.

Com relação ao vírus da zika, transmitido pelo mosquito, Zanotto disse que ainda há muitas incógnitas que precisam ser solucionadas para se montar uma estratégia de combate específica contra ele. Já não há mais dúvidas de que o vírus pode infectar o cérebro de fetos e causar má-formações congênitas do sistema nervoso. Mas ainda não se sabe como esse risco varia, por exemplo, entre diferentes populações e diferentes estágios da gravidez. 

“O acompanhamento da microcefalia é uma coisa tremendamente complicada”, disse o pesquisador, chamando atenção para a grande variabilidade de quadros clínicos que estão sendo observados nos bebês infectados. “A gente tem um desafio enorme para nossa sociedade. Temos uma doença que a gente não entende direito, um vírus que mudou completamente de comportamento e a gente não sabe direito por que, e uma população de pessoas que vão ter filhos com esse tipo de problema, e que a gente vai ter que aprender a lidar com isso; a desenvolver compaixão para receber essas pessoas.”

Publicidade

Do ponto de vista da pesquisa, uma das prioridades continua sendo o desenvolvimento de testes sorológicos simples, rápidos, eficientes e baratos, capazes de dizer se uma pessoa já foi infectada pelo zika, mesmo que ela não tenha tipo sintomas, ou muito tempo depois do surgimento deles. Ambos os pesquisadores reconheceram a importância do desenvolvimento de vacinas contra zika e dengue, mas enfatizaram a necessidade de priorização do combate ao mosquito Aedes aegypti, já que é ele o vetor de origem dessas doenças.

O projeto USP Talks é uma iniciativa da Universidade de São Paulo, em parceria com o Estado e com apoio da Livraria Cultura, que tem como objetivo fomentar o diálogo entre a comunidade acadêmica e a sociedade. Os eventos serão realizados toda última quarta-feira do mês, na hora do almoço. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.